São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2001

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O ALVO

"Sábios" debatem futuro de Bin Laden

Conselho de Segurança das Nações Unidas reitera exigência de entrega do terrorista

Reuters
Soldados pasquitaneses tomam posições perto de protesto contra os EUA em Rawalpindi; houve vários atos contra o apoio aos EUA


DA REDAÇÃO

Centenas de autoridades religiosas muçulmanas afegãs que formam o Conselho de Sábios devem encontrar-se hoje na capital do país, Cabul, para debater o futuro do homem mais procurado do planeta, o líder terrorista saudita Osama bin Laden.
O conselho deve ter início apenas um dia depois de o grupo extremista islâmico Taleban, que controla a maioria do território afegão, ter admitido, pela primeira vez, que Bin Laden -que o presidente dos EUA, George W. Bush, quer "vivo ou morto"- pode ter tido ligação com os atentados ocorridos na Costa Leste americana, que mataram por volta de de 5.000 pessoas.
O conselho também decidirá se apóia o chamado do líder espiritual do Taleban, o mulá Muhammad Omar, para uma guerra santa contra os EUA caso Washington ordene um ataque militar ao Afeganistão. O mulá Omar também ameaçou declarar a "guerra santa" contra todos os países que apoiarem a ação militar dos EUA.
"As pessoas que quiserem lutar contra os infiéis deverão registrar seus nomes oficialmente. Assim, elas poderão ser enviadas a locais apropriados se necessário", disse o mulá Abdul Razzaq, ministro do Interior do Taleban, a uma rádio controlada pelo grupo.
A decisão sobre o futuro de Bin Laden depende, em parte, do resultado de uma reunião do Conselho de Sábios.
O conselho discutirá a situação de Bin Laden, estudará a possibilidade de proclamar a "guerra santa" se o país for atacado pelos EUA e analisará a reunião realizada com autoridades paquistanesas, segundo membros do Taleban. Não ficou claro ontem se os sábios têm o poder de decidir sobre a entrega de Bin Laden, que tem laços estreitos e antigos com o grupo afegão.

Delegação paquistanesa
Anteontem, em Kandahar, sul do Afeganistão, uma delegação composta por autoridades paquistanesas encontrou-se com o mulá Omar para explicar-lhe o teor da ameaça americana ao Afeganistão.
Em seguida, as autoridades paquistanesas foram a Cabul e reuniram-se com o mulá Muhammad Hassan Akhond, vice-presidente do Conselho de Ministros do Taleban, e com Wakil Ahmad Muttawakil, o ministro das Relações Exteriores.
"Dissemos aos paquistaneses que entendemos a questão. Pessoas inocentes não devem ser mortas", disse o chanceler do Taleban.
Riaz Mohammad Khan, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, recusou-se a tecer comentários sobre o resultado da viagem da delegação paquistanesa ao Afeganistão.
"A delegação paquistanesa teve conversas frutíferas em Cabul com a graça de Deus", declarou Abdul Rahman, porta-voz do Ministério da Informação do Taleban. O Paquistão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos são os únicos países que reconhecem o governo do Taleban.
Mas as relações entre o Paquistão e o Taleban podem estar em risco, pois o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, prometeu cooperar com os EUA. Musharraf deve fazer um pronunciamento oficial hoje sobre o tema. Ele enfrenta forte oposição dentro do país por causa do apoio aos EUA.
O mulá Omar afirmou, na semana passada, que o Taleban podia declarar uma "guerra santa" contra os EUA se o Afeganistão fosse atacado.
"Gostaria de dizer a meu povo que nossa guerra santa será formalmente retomada contra os americanos", declarou Akhond, vice-presidente do Conselho de Ministros do Taleban, a uma rádio controlada pelo grupo extremista, anteontem.
Um porta-voz do Taleban afirmou que Akhond não tinha declarado a "guerra santa". De acordo com o porta-voz, Akhond disse que a declaração seria compulsória caso os EUA atacassem o Afeganistão.

Missão dos EUA
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas exigiu ontem que o Taleban entregasse Bin Laden, reiterando exigências similares aprovadas anteriormente por seus membros.
Uma equipe de especialistas em inteligência dos EUA deve visitar o Paquistão até o final da semana para discutir com autoridades paquistanesas. Fará parte da pauta das discussões o modo como Islamabad poderá ajudar Washington na luta contra o terrorismo internacional, de acordo com autoridades americanas.
Se o grau de cooperação do Paquistão satisfizer a delegação americana, o governo de Bush poderá lutar para que as sanções que pesam contra o Paquistão e contra a Índia sejam suspensas, segundo um funcionário dos EUA. As sanções foram impostas em 98, depois que os dois países testaram armas nucleares.
O Paquistão se tornou crucial para a estratégia americana no que se refere à Ásia após os atentados da semana passada. As discussões em Islamabad devem girar em torno de um estreitamento da cooperação bilateral na luta contra todas as formas de terrorismo, de acordo com funcionários do governo dos EUA.

Com agências internacionais


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