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REAÇÃO EUROPÉIA
Chirac evita a palavra "guerra"
Em reunião com Bush, presidente reluta em chamar campanha antiterrorismo de guerra
ROGÉRIO SIMÕES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
Em um encontro ontem na Casa
Branca com George W. Bush, o
presidente da França, Jacques
Chirac, ofereceu a "solidariedade" de seu país ao presidente
americano, mas não quis usar a
palavra "guerra" para se referir a
uma possível campanha internacional de combate ao terrorismo.
Os ataques ao World Trade
Center e ao Pentágono foram o
assunto dominante no encontro
-o primeiro de Bush com um líder estrangeiro desde os ataques
da terça-feira da semana passada.
"Naturalmente, estamos preparados para trabalhar em solidariedade completa com os EUA e fazer tudo o que for necessário, em
consulta com eles, para atingir esse alvo, que é a eliminação do terrorismo", disse Chirac.
Mas o presidente francês evitou
o termo utilizado por Bush para
descrever a campanha.
"Não sei se deveríamos usar a
palavra guerra, mas diria que enfrentamos hoje um conflito de natureza completamente nova",
afirmou Chirac. "Temos de fazer
tudo para proteger e salvaguardar
os valores da civilização."
Mas, na França, o primeiro-ministro Lionel Jospin disse ontem
que não assumirá nenhum compromisso com Washington sem
consultar o Legislativo. Jospin já
havia deixado claro que seu país
não estava em guerra "contra o islã ou o mundo islâmico".
Apesar de a reunião de Bush e
Chirac na Casa Branca ter sido
marcada antes dos ataques em
Nova York e Washington, o encontro acabou se inserindo em
uma verdadeira maratona diplomática promovida nesta semana
pelos principais líderes europeus
para tentar definir o seu papel na
ação militar prometida pelos EUA
em resposta aos atentados.
Depois de uma onda de declarações de apoio, diante do choque
causado pelos atentados em Nova
York e Washington, a Europa se
vê em um grande dilema: como
ajudar seu todo-poderoso aliado
sem ter de entrar em uma guerra.
Enquanto o primeiro-ministro
britânico, Tony Blair, tenta convencer seus colegas europeus da
necessidade de uma ofensiva militar, líderes franceses e alemães
indicam que uma ação conjunta
não será decidida facilmente.
Na Alemanha, o ministro das
Relações Exteriores, Joschka Fischer, disse ontem que "é preciso
reagir com cabeça fria".
"Todas as crises têm a capacidade de causar divisões no que é
uma coalizão de Estados nacionais, conscientes de suas soberanias e opiniões públicas", disse à
Folha o professor Christopher
Hill, da London School of Economics. "O grande problema será se
os europeus se virem como um
coro passivo, enquanto os EUA
tomam todas as decisões e ações."
Para tentar unificar o discurso
europeu, foram marcados vários
encontros políticos. Blair reúne-se hoje com o chanceler (premiê)
alemão, Gerhard Schröder, e
amanhã com Bush nos EUA.
Essas discussões terão seu auge
na sexta-feira, quando os líderes
dos países da União Européia farão uma reunião extraordinária.
No encontro, eles tentarão finalmente chegar a um consenso sobre como participar da guerra declarada por Washington.
Nas primeiras reações aos atentados, Tony Blair repetiu a avaliação de Bush de que começou uma
guerra. A oposição o apoiou, mas
Blair começou a ser criticado dentro do seu próprio governo.
A secretária para Desenvolvimento Internacional, Clare Short,
pacifista histórica, disse que seria
"intolerável" se a reação aos ataques fosse a morte de inocentes.
Os europeus temem entrar numa guerra que não resolva o problema do terrorismo nem atinja
os mentores dos atentados.
Exatamente por isso, a idéia
americana de um grande ataque
ao Afeganistão é vista com desconfiança na Europa. Ontem, o
jornal britânico "The Times" publicou editorial em que critica a
estratégia de Washington de visar
o Afeganistão como um todo.
"Contra o terrorismo sem Estado,
Estados podem não ser os melhores alvos", afirmou o jornal.
Nesta sexta-feira, a União Européia se reunirá e deverá manter
vivo o discurso de apoio aos americanos, na opinião de Chistopher
Hill. "Na prática, esse apoio irá até
o momento em que os governos,
ou o público, julgarem que a resposta está sendo desproporcional
ao crime", disse.
Mas o comportamento dos países europeus também dependerá
de como o governo americano
agir, segundo o analista Gary Samore, do IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos),
de Londres. "Se os EUA buscarem
apoio entre os países árabes e muçulmanos, como fizeram na
Guerra do Golfo (91), a Europa estará mais inclinada a ajudar", afirmou Samore à Folha. Na sua opinião, todo o esforço diplomático
de Washington para tentar a ajuda do Paquistão indica que os
EUA estão na direção certa para
agradar aos europeus.
Porém a unificação do discurso
da União Européia em favor de
uma ação militar contra Osama
bin Laden não significará o fim da
polêmica. Uma ação no Afeganistão pode desestabilizar politicamente a região. Uma guerra civil
no vizinho Paquistão, uma potência nuclear, é a última coisa de que
os governos europeus gostariam.
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