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CONSUMO
Bom período da economia americana e alta circulação de dinheiro no mundo
ajudaram Plano Real, mas sucessão de crises internacionais obrigou o país a
elevar taxa de juros para tentar manter investimentos externos
Menor inflação da história aumenta poder de compra
ÉRICA FRAGA e NEY HAYASHI CRUZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A inflação registrada no Brasil nos primeiros sete anos do governo Fernando
Henrique Cardoso foi a mais baixa já medida pelos índices de preços brasileiros. Criado em 1994, o Plano Real pôs fim à hiperinflação que assolava o
país desde o fim dos anos 80 e foi fundamental para levar o ex-ministro da Fazenda FHC à Presidência da República. Mas, no apagar das luzes do governo FHC, a estabilidade está sob séria ameaça.
Por trás das pressões inflacionárias, está a alta do dólar provocada pela escassez de recursos para
países emergentes e pelas incertezas em relação ao governo Lula.
Até então, os índices de preços
apresentavam, na era FHC, sua
menor variação na história.
Dos índices de preços mais conhecidos, o IPC (Índice de Preços
ao Consumidor) medido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) é o mais antigo.
Começou a ser calculado em fevereiro de 1939. Desde então, nunca
houve período de oito anos com
inflação tão baixa quanto a que foi
registrada no período de 1994 a
2001.
Hiperinflação
Em 1993, a inflação medida pela
Fipe na cidade de São Paulo havia
ficado em 2.491%. Vários fatores
explicavam essa alta, como o desequilíbrio das contas públicas e a
indexação da economia.
Implantado em julho de 1994, o
Plano Real teve como base a chamada âncora cambial. Esse mecanismo atrelava o valor da nova
moeda -o real- ao dólar.
"Quando se tem uma moeda
que perde seu poder de compra
rapidamente, o jeito mais seguro
de resolver o problema é ancorá-la a um moeda forte", afirma o
economista Juarez Rizzieri, da Fipe.
A inflação em São Paulo que,
em junho de 1994, havia sido de
50,8%, em agosto, já tinha caído
para 1,95%.
A manutenção dessa âncora
cambial-que deixava a cotação
do dólar próxima a R$ 1- foi favorecida pela abundância do capital que circulava na economia
mundial.
Na época, os Estados Unidos
davam início a um forte ciclo de
crescimento que durou quase dez
anos e contagiou os mercados internacionais.
Grande parte do dinheiro que
entrou em circulação na economia mundial naquela época veio
parar no Brasil.
A situação mudou com a sucessão de crises que ocorreram no
mercado externo, que começaram no México (94/95) e chegaram depois aos países do Sudeste
Asiático (97) e à Rússia (98). O resultado disso foi uma enorme
desconfiança dos investidores externos em relação a mercados
emergentes. A consequência para
o Brasil foi a redução do fluxo de
dólares para a economia.
Isso obrigou o governo a elevar
os juros para níveis astronômicos
-superiores a 40% ao ano. O objetivo era continuar a atrair capital externo para que a âncora
cambial fosse mantida. Os juros
elevados acabaram fazendo a dívida pública explodir.
No final de 1998, quando a moratória decretada pela Rússia provocava a fuga de capitais do país, a
equipe econômica manteve o
câmbio controlado, à custa de fortes vendas de dólares saídos das
reservas do país, e promoveu, às
pressas, um ajuste fiscal baseado
no aumento da carga tributária.
Mesmo assim, a âncora cambial
não resistiu. Com a pressão do
mercado, o governo foi obrigado
a adotar o câmbio flutuante em
janeiro de 99.
Ao contrário do que previram
muitos economistas, a desvalorização de 48,9% da moeda em 1999
não provocou uma disparada nos
preços. Duas razões principais explicam a frustração das previsões:
1) a renda da população estava deprimida, 2) a desvalorização não
veio acompanhada de expressivo
crescimento das exportações.
Desde então, o controle da inflação vem sendo feito com altas taxas de juros, apoiado por resultados fiscais primários (receitas menos despesas, excluindo gastos
com juros) positivos.
Ameaça
Essa situação começou a mudar
nos últimos meses. Uma combinação de redução do fluxo de capitais para o país -consequência
de crise econômica nos Estados
Unidos, na Europa e no Japão- e
desconfiança do mercado em relação ao novo governo Lula levaram a uma forte alta do dólar, que
vem se traduzindo em repasse para os preços internos.
Começaram a surgir expectativas no mercado de que haverá
mais inflação pela frente.
Os índices de inflação dispararam. Em novembro, o IPC teve alta de 2,65%, a maior variação
mensal desde julho de 1995. A inflação oficial, medida pelo IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
deverá estourar os 11% em 2002.
A solução, dizem economistas,
é mais aperto monetário. Segundo analistas, os atuais juros de
22% ao ano têm sido insuficientes
para conter a alta dos preços. Eles
esperam uma nova elevação da
taxa Selic - a taxa básica de juros- até o fim deste ano.
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