São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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CONSUMO

Bom período da economia americana e alta circulação de dinheiro no mundo ajudaram Plano Real, mas sucessão de crises internacionais obrigou o país a elevar taxa de juros para tentar manter investimentos externos

Menor inflação da história aumenta poder de compra

ÉRICA FRAGA e NEY HAYASHI CRUZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A inflação registrada no Brasil nos primeiros sete anos do governo Fernando Henrique Cardoso foi a mais baixa já medida pelos índices de preços brasileiros. Criado em 1994, o Plano Real pôs fim à hiperinflação que assolava o país desde o fim dos anos 80 e foi fundamental para levar o ex-ministro da Fazenda FHC à Presidência da República. Mas, no apagar das luzes do governo FHC, a estabilidade está sob séria ameaça.
Por trás das pressões inflacionárias, está a alta do dólar provocada pela escassez de recursos para países emergentes e pelas incertezas em relação ao governo Lula.
Até então, os índices de preços apresentavam, na era FHC, sua menor variação na história.
Dos índices de preços mais conhecidos, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) medido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) é o mais antigo. Começou a ser calculado em fevereiro de 1939. Desde então, nunca houve período de oito anos com inflação tão baixa quanto a que foi registrada no período de 1994 a 2001.

Hiperinflação
Em 1993, a inflação medida pela Fipe na cidade de São Paulo havia ficado em 2.491%. Vários fatores explicavam essa alta, como o desequilíbrio das contas públicas e a indexação da economia.
Implantado em julho de 1994, o Plano Real teve como base a chamada âncora cambial. Esse mecanismo atrelava o valor da nova moeda -o real- ao dólar.
"Quando se tem uma moeda que perde seu poder de compra rapidamente, o jeito mais seguro de resolver o problema é ancorá-la a um moeda forte", afirma o economista Juarez Rizzieri, da Fipe.
A inflação em São Paulo que, em junho de 1994, havia sido de 50,8%, em agosto, já tinha caído para 1,95%.
A manutenção dessa âncora cambial-que deixava a cotação do dólar próxima a R$ 1- foi favorecida pela abundância do capital que circulava na economia mundial.
Na época, os Estados Unidos davam início a um forte ciclo de crescimento que durou quase dez anos e contagiou os mercados internacionais.
Grande parte do dinheiro que entrou em circulação na economia mundial naquela época veio parar no Brasil.
A situação mudou com a sucessão de crises que ocorreram no mercado externo, que começaram no México (94/95) e chegaram depois aos países do Sudeste Asiático (97) e à Rússia (98). O resultado disso foi uma enorme desconfiança dos investidores externos em relação a mercados emergentes. A consequência para o Brasil foi a redução do fluxo de dólares para a economia.
Isso obrigou o governo a elevar os juros para níveis astronômicos -superiores a 40% ao ano. O objetivo era continuar a atrair capital externo para que a âncora cambial fosse mantida. Os juros elevados acabaram fazendo a dívida pública explodir.
No final de 1998, quando a moratória decretada pela Rússia provocava a fuga de capitais do país, a equipe econômica manteve o câmbio controlado, à custa de fortes vendas de dólares saídos das reservas do país, e promoveu, às pressas, um ajuste fiscal baseado no aumento da carga tributária.
Mesmo assim, a âncora cambial não resistiu. Com a pressão do mercado, o governo foi obrigado a adotar o câmbio flutuante em janeiro de 99.
Ao contrário do que previram muitos economistas, a desvalorização de 48,9% da moeda em 1999 não provocou uma disparada nos preços. Duas razões principais explicam a frustração das previsões: 1) a renda da população estava deprimida, 2) a desvalorização não veio acompanhada de expressivo crescimento das exportações.
Desde então, o controle da inflação vem sendo feito com altas taxas de juros, apoiado por resultados fiscais primários (receitas menos despesas, excluindo gastos com juros) positivos.

Ameaça
Essa situação começou a mudar nos últimos meses. Uma combinação de redução do fluxo de capitais para o país -consequência de crise econômica nos Estados Unidos, na Europa e no Japão- e desconfiança do mercado em relação ao novo governo Lula levaram a uma forte alta do dólar, que vem se traduzindo em repasse para os preços internos.
Começaram a surgir expectativas no mercado de que haverá mais inflação pela frente.
Os índices de inflação dispararam. Em novembro, o IPC teve alta de 2,65%, a maior variação mensal desde julho de 1995. A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) deverá estourar os 11% em 2002.
A solução, dizem economistas, é mais aperto monetário. Segundo analistas, os atuais juros de 22% ao ano têm sido insuficientes para conter a alta dos preços. Eles esperam uma nova elevação da taxa Selic - a taxa básica de juros- até o fim deste ano.


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