São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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Indústria perdeu, mas manteve lucro

ADRIANA MATTOS
FATIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos trancos e barrancos, a indústria nacional encarou os últimos anos de crescimento baixo e incertezas no governo tucano. Dois setores saíram bem machucados: o de construção civil, que quase vivou pó, e o eletroeletrônico, formado por indústrias que simplesmente desistiram de ficar aqui. "Passamos por uma verdadeira revolução industrial nos últimos anos. Mas esse é ainda um processo inacabado", diz Clarice Messer, diretora da Fiesp, federação que reúne mais de 10 mil sindicatos do setor industrial. "Quem chegou até aqui não sabe se sobreviverá até 2004, 2005".
Levantamentos mostram que, na ponta do lápis, o saldo do setor industrial ainda é positivo. A receita foi mantida e o lucro expandiu-se de 94 a 2001. Um fato chama a atenção: a espinha dorsal do setor produtivo, formada por grupos da área siderúrgica, papel e de metalurgia, foram menos abatidos. Mantiveram as contas em ordem, investiram em capacidade produtiva, aproveitaram oportunidades no mercado externo e driblaram anos difíceis.
No total, a receita líquida da indústria deu um salto de 108,3% -passando de R$ 207,4 bilhões em 31 de dezembro de 1994 para R$ 315,7 bilhões em 31 de dezembro de 2001. Os dados fazem parte de um conjunto de 175 companhias com ações em Bolsas no Brasil. Quanto ao lucro, houve expansão de 9,4% no mesmo período -subindo de R$ 16,3 bilhões para R$ 25,7 bilhões -dados dessazonalizados segundo o IGP-DI.

Altos e baixos
Por meio de uma análise setorial, é possível verificar que nos oitos anos de nova moeda:
1) Parte da indústria têxtil foi à bancarrota.
Pequenas empresas sumiram do mercado após a entrada de companhias asiáticas no país. As grandes amargaram queda brutal nas receitas. A Hering fatura 10% do que faturava há sete anos, pois o consumo de roupas não aumenta há tempos. As companhias valem hoje 60% do que valiam no início do plano Real.
2) Com investimentos em queda e dívidas em alta, o setor aéreo apresentou um dos piores desempenhos entre todas as áreas.
A Varig, que chegou a ser a 5ª maior empresa do país em 1994, ocupa hoje a 16ª posição.
3) Com crédito para financiamento escasso, empresas de construção patinam sem sair do lugar.
No setor, o lucro é mais escasso ou as empresas só dão prejuízo. A construtora Andrade Gutierrez, a 14ª maior companhia do país, segundo ranking da Fundação Getúlio Vargas de 1994, não está mais nem entre os 50 maiores grupos do país hoje. Todas as empresas abertas do ramo tiveram, juntas, um lucro para lá de minguado, de R$ 14 milhões em 2001.
Existem empresas que estão longe dessa realidade e mantêm as melhores posições em todos os atuais rankings. Algumas delas são de setores controlados por poucas companhias. São empresas de metalurgia e siderurgia, exportadoras, e que iniciaram os anos FHC privatizadas.
O maior destaque disparado, em termos de expansão, entretanto, é o setor de telefonia. Numa relação de 17 setores, ele ocupava a 12ª colocação entre aqueles com a melhor receita (R$ 5,8 bilhões) em 1994. No final de 2001, já estava na quarta colocação, com um faturamento de R$ 23,7 bilhões.


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