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Indústria perdeu, mas manteve lucro
ADRIANA MATTOS
FATIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos trancos e barrancos, a indústria nacional encarou os últimos anos de crescimento baixo e
incertezas no governo tucano.
Dois setores saíram bem machucados: o de construção civil, que
quase vivou pó, e o eletroeletrônico, formado por indústrias que
simplesmente desistiram de ficar
aqui. "Passamos por uma verdadeira revolução industrial nos últimos anos. Mas esse é ainda um
processo inacabado", diz Clarice
Messer, diretora da Fiesp, federação que reúne mais de 10 mil sindicatos do setor industrial.
"Quem chegou até aqui não sabe
se sobreviverá até 2004, 2005".
Levantamentos mostram que,
na ponta do lápis, o saldo do setor
industrial ainda é positivo. A receita foi mantida e o lucro expandiu-se de 94 a 2001. Um fato chama a atenção: a espinha dorsal do
setor produtivo, formada por
grupos da área siderúrgica, papel
e de metalurgia, foram menos
abatidos. Mantiveram as contas
em ordem, investiram em capacidade produtiva, aproveitaram
oportunidades no mercado externo e driblaram anos difíceis.
No total, a receita líquida da indústria deu um salto de 108,3%
-passando de R$ 207,4 bilhões
em 31 de dezembro de 1994 para
R$ 315,7 bilhões em 31 de dezembro de 2001. Os dados fazem parte
de um conjunto de 175 companhias com ações em Bolsas no
Brasil. Quanto ao lucro, houve expansão de 9,4% no mesmo período -subindo de R$ 16,3 bilhões
para R$ 25,7 bilhões -dados dessazonalizados segundo o IGP-DI.
Altos e baixos
Por meio de uma análise setorial, é possível verificar que nos oitos anos de nova moeda:
1) Parte da indústria têxtil foi à
bancarrota.
Pequenas empresas sumiram
do mercado após a entrada de
companhias asiáticas no país. As
grandes amargaram queda brutal
nas receitas. A Hering fatura 10%
do que faturava há sete anos, pois
o consumo de roupas não aumenta há tempos. As companhias
valem hoje 60% do que valiam no
início do plano Real.
2) Com investimentos em queda e dívidas em alta, o setor aéreo
apresentou um dos piores desempenhos entre todas as áreas.
A Varig, que chegou a ser a 5ª
maior empresa do país em 1994,
ocupa hoje a 16ª posição.
3) Com crédito para financiamento escasso, empresas de construção patinam sem sair do lugar.
No setor, o lucro é mais escasso
ou as empresas só dão prejuízo. A
construtora Andrade Gutierrez, a
14ª maior companhia do país, segundo ranking da Fundação Getúlio Vargas de 1994, não está
mais nem entre os 50 maiores
grupos do país hoje. Todas as empresas abertas do ramo tiveram,
juntas, um lucro para lá de minguado, de R$ 14 milhões em 2001.
Existem empresas que estão
longe dessa realidade e mantêm
as melhores posições em todos os
atuais rankings. Algumas delas
são de setores controlados por
poucas companhias. São empresas de metalurgia e siderurgia, exportadoras, e que iniciaram os
anos FHC privatizadas.
O maior destaque disparado,
em termos de expansão, entretanto, é o setor de telefonia. Numa relação de 17 setores, ele ocupava a
12ª colocação entre aqueles com a
melhor receita (R$ 5,8 bilhões)
em 1994. No final de 2001, já estava na quarta colocação, com um
faturamento de R$ 23,7 bilhões.
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