São Paulo, sexta, 19 de dezembro de 1997.



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Classe média participa cada vez menos

de Washington

Quando a década de 80 terminou, os analistas sociais decretaram que, com ela, acabava a era da ganância. Os adeptos da teoria dos ciclos históricos diziam que chegara a vez da generosidade se restabelecer como valor.
Nem tanto. Na década de 90, a concentração de renda se exacerbou nos EUA e a ambição dos mais ricos não deu mostras de arrefecer.
Mas aumentou muito o número de milionários dispostos a dar dinheiro para instituições filantrópicas ao mesmo tempo em que os mais pobres têm dado sinais de recolhimento nessa área. Por exemplo: a média de doações por domicílio passou de US$ 880 em 1993 para US$ 1.017 em 1996, mas 3,8 milhões de famílias de classe média deixaram de doar nesse período.
Virginia Hodgkinson, professora de política pública da Universidade de Georgetown, em Washington, acha que essa é uma tendência perigosa porque "a classe média foi a espinha dorsal da filantropia nos EUA neste século".
Há uma certa moda entre o "jet-set" de participar de programas de caridade. A revista eletrônica "Slate" chega a fazer a lista dos 60 maiores beneméritos. Empresários como Ted Turner -US$ 1 bilhão em dez anos para a ONU-, George Soros, Bill Gates ou celebridades como Steven Spielberg fazem enormes contribuições para as mais diversas causas.
Eles parecem funcionar como exemplo, mas também como uma espécie de desestímulo para as pessoas comuns ("se os ricaços estão dando tanto, o meu dinheirinho já não é mais necessário" é uma conclusão que muitos tiram do noticiário sobre os grandes mecenas).
O declínio do número de cidadãos contribuindo com tempo ou dinheiro para associações ou entidades filantrópicas tem preocupado personalidades públicas. O presidente Bill Clinton tem falado com frequência sobre o assunto.
Ele, junto com seus antecessores mais um possível sucessor em potencial, o general Colin Powell, lançaram em agosto deste ano uma campanha nacional, liderada por Powell, para tirar da pobreza pelo menos 2 milhões das 15 milhões de crianças pobres do país até o final deste século.
A resposta à campanha, chamada "America's Promise" (Promessa da América) tem sido grande, mas principalmente da parte de empresas e de milionários, não dos cidadãos comuns que ela esperava atingir. Mas Powell diz ainda ter esperança de que seu apelo possa comover o norte-americano médio e tem escrito dezenas de artigos para jornais e revistas conclamando-o a aproveitar o espírito das festas de fim de ano para mostrarem sua solidariedade.



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