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Cultura da filantropia está
enraizada nos Estados Unidos
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
O total de doações para instituições filantrópicas em 1996 nos
EUA foi equivalente a 25% do
Produto Interno Bruto brasileiro: US$ 150,7 bilhões. Em média,
cada família deu US$ 1.017 para
caridade.
Talvez mais importante do que
isso: 49% dos adultos norte-americanos (93 milhões de pessoas) trabalham em programas
voluntários. Cada um deles, em
média, dedica quatro horas por
semana a hospitais, igrejas, escolas, organizações não governamentais, asilos.
A idéia de que ajudar a comunidade é importante está enraizada no país e se reproduz na família e na escola. Serviço voluntário é parte do currículo de
qualquer curso de primeiro grau
e rende créditos.
É provável que a explicação para esse tipo de comportamento
esteja na colonização do país. Os
puritanos que vieram da Inglaterra para o Novo Mundo precisavam se ajudar uns aos outros
para garantir a sobrevivência do
maior número num ambiente
hostil e desconhecido.
Eles também chegaram convencidos da importância de pertencer a grupos. A tendência a se
reunir em organizações do norte-americano sempre chamou a
atenção de observadores externos, desde, pelo menos, Alexis
de Tocqueville.
A relação entre participação
em associações e filantropia é
evidente. Quem pertence a entidades dá duas vezes mais a obras
de caridade do que os que não
participam.
O Estado é outro fator de auxílio ao desenvolvimento da filantropia nos EUA. Vantagens fiscais são oferecidas a quem, por
exemplo, resolve estabelecer
uma fundação. Só em 1996 foram
criadas 39 mil fundações no país,
das quais 14 mil com ativos inferiores a US$ 100 mil. As pequenas fundações são as mais ativas:
embora respondam por 3% do
patrimônio total das fundações
norte-americanas, elas dão 11%
das doações delas.
No entanto, o grosso da filantropia vem do indivíduo comum. Cerca de 80% dos US$
150,7 bilhões de doações são feitas por eles. Os principais beneficiários são as igrejas (US$ 69,4
bilhões), seguidas dos setores
educacional (US$ 18,8 bilhões),
de saúde (US$ 13,9 bilhões), serviço social (US$ 12,2 bilhões), arte e cultura (US$ 10,9 bilhões).
Os motivos que fazem o cidadão dar dinheiro ou tempo para
ajudar os outros são diversos. A
pressão dos grupos primários de
convívio aparece como o mais
importante nas pesquisas que
tentam responder a questão. Outro forte motivo é a empatia: ajuda-se a entidades que cuidam de
pessoas parecidas com o doador
ou seus familiares (quem sofre
com Aids ajuda quem combate a
Aids, por exemplo).
Razões religiosas, senso de responsabilidade social, compaixão
em relação aos menos favorecidos são outras razões citadas na
resposta a esse ponto.
As pesquisas mostram ainda
que os homens são mais generosos que as mulheres, os idosos do
que os jovens, os moradores de
cidades médias do que os das outras.
A filantropia é um setor importante da economia norte-americana. Emprega 9% da população
economicamente ativa, responde por 6% do PIB do país. Se o
tempo oferecido de graça pelos
voluntários fosse remunerado
com o salário mínimo, o valor
seria de US$ 176 bilhões, quase
30% do PIB brasileiro. Há 1,4 milhão de entidades sem fins lucrativos no país e o patrimônio conjunto dessas organizações chega
a quase US$ 600 bilhões.
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