São Paulo, sexta, 19 de dezembro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cultura da filantropia está enraizada nos Estados Unidos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

O total de doações para instituições filantrópicas em 1996 nos EUA foi equivalente a 25% do Produto Interno Bruto brasileiro: US$ 150,7 bilhões. Em média, cada família deu US$ 1.017 para caridade.
Talvez mais importante do que isso: 49% dos adultos norte-americanos (93 milhões de pessoas) trabalham em programas voluntários. Cada um deles, em média, dedica quatro horas por semana a hospitais, igrejas, escolas, organizações não governamentais, asilos.
A idéia de que ajudar a comunidade é importante está enraizada no país e se reproduz na família e na escola. Serviço voluntário é parte do currículo de qualquer curso de primeiro grau e rende créditos.
É provável que a explicação para esse tipo de comportamento esteja na colonização do país. Os puritanos que vieram da Inglaterra para o Novo Mundo precisavam se ajudar uns aos outros para garantir a sobrevivência do maior número num ambiente hostil e desconhecido.
Eles também chegaram convencidos da importância de pertencer a grupos. A tendência a se reunir em organizações do norte-americano sempre chamou a atenção de observadores externos, desde, pelo menos, Alexis de Tocqueville.
A relação entre participação em associações e filantropia é evidente. Quem pertence a entidades dá duas vezes mais a obras de caridade do que os que não participam.
O Estado é outro fator de auxílio ao desenvolvimento da filantropia nos EUA. Vantagens fiscais são oferecidas a quem, por exemplo, resolve estabelecer uma fundação. Só em 1996 foram criadas 39 mil fundações no país, das quais 14 mil com ativos inferiores a US$ 100 mil. As pequenas fundações são as mais ativas: embora respondam por 3% do patrimônio total das fundações norte-americanas, elas dão 11% das doações delas.
No entanto, o grosso da filantropia vem do indivíduo comum. Cerca de 80% dos US$ 150,7 bilhões de doações são feitas por eles. Os principais beneficiários são as igrejas (US$ 69,4 bilhões), seguidas dos setores educacional (US$ 18,8 bilhões), de saúde (US$ 13,9 bilhões), serviço social (US$ 12,2 bilhões), arte e cultura (US$ 10,9 bilhões).
Os motivos que fazem o cidadão dar dinheiro ou tempo para ajudar os outros são diversos. A pressão dos grupos primários de convívio aparece como o mais importante nas pesquisas que tentam responder a questão. Outro forte motivo é a empatia: ajuda-se a entidades que cuidam de pessoas parecidas com o doador ou seus familiares (quem sofre com Aids ajuda quem combate a Aids, por exemplo).
Razões religiosas, senso de responsabilidade social, compaixão em relação aos menos favorecidos são outras razões citadas na resposta a esse ponto.
As pesquisas mostram ainda que os homens são mais generosos que as mulheres, os idosos do que os jovens, os moradores de cidades médias do que os das outras.
A filantropia é um setor importante da economia norte-americana. Emprega 9% da população economicamente ativa, responde por 6% do PIB do país. Se o tempo oferecido de graça pelos voluntários fosse remunerado com o salário mínimo, o valor seria de US$ 176 bilhões, quase 30% do PIB brasileiro. Há 1,4 milhão de entidades sem fins lucrativos no país e o patrimônio conjunto dessas organizações chega a quase US$ 600 bilhões.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.