|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Del Nero faz revolução no discurso para apagar Farah
O Paulista-04 terá só futebol.
Quem quiser ver mulher
dançando terá que ir à
boate, não aos estádios. A federação não contratou astros porque
seu estatuto proíbe. Os clubes serão tratados de maneira equânime, independentemente de convicções políticas. O regulamento
não tem pegadinhas, é feijão-com-arroz, qualquer um entende.
O recado do autor das frases acima, o advogado Marco Polo Del
Nero, 63, é claro: o futebol de São
Paulo está sob nova direção. No
discurso, é uma revolução.
Mas a propalada mudança radical em relação à gestão Eduardo
José Farah já se mostra inconsistente antes mesmo de a bola rolar.
E será finalmente posta à prova
em 18 de abril, com o fim do primeiro Paulista de Del Nero.
Quando desfilar com representantes dos 21 clubes da Série A-1 e
efetivamente debutar como presidente da Federação Paulista amanhã em Sorocaba, Del Nero tentará pôr em prática algo que virou
uma obsessão na FPF: apagar as
marcas deixadas pelos longos 15
anos da era Farah.
As primeiras mudanças começaram nos bastidores. Tentando
mostrar-se um conciliador, o novo mandatário aproximou-se de
Corinthians e Santos. Retomou o
diálogo com a CBF e liderou as federações nas negociações para
ampliar os Estaduais, ainda diminutos (o Paulista-04 terá 16 datas)
num calendário que prioriza o
Brasileiro. Assinou com a Globo e
entrou em acordo com o SBT, o
que impede a batalha jurídica que
tanto atrapalhou o Paulista-2003.
No vácuo de seu novo inimigo, a
quem declarou guerra pelas páginas da Folha na semana passada,
aboliu inovações que foram a vitrine dos anos Farah. Cortou gastos com propaganda e programas
de TV. Abriu licitação pública para todas as propriedades do campeonato, desde bolas a seguros do
torcedor. Retirou itens esdrúxulos do regulamento, como o uso
de cartões amarelos e vermelhos
nos itens de desempate.
"O futebol cresceu nos últimos
100 anos sem mudanças. Não precisamos inventar. Show sertanejo? O público vai ao estádio para
ver bola na rede. O resto é desculpa para gastar dinheiro dos clubes", discursa Del Nero.
Se faz pouco das marcas da gestão Farah, o novo presidente
mantém a base de seu antecessor,
o ranço de não cumprir o que está
no regulamento e a fábrica de invenções que marcaram o principal Estadual do país desde 1988.
Na parte administrativa, conservou toda a cúpula da gestão
anterior. No início do mês, promoveu mudanças, mas manteve
homens de confiança do novo inimigo em cargos estratégicos. Hugo Carletti, um dos membros do
"núcleo duro" da FPF, e Jorge
Abicalam Filho, diretor financeiro, seguem fortes. Laerte Alves,
acusado de participação no esquema de suborno apelidado de
caso Cattani, foi nomeado diretor
da sub-sede de Ribeirão Preto.
"Todos os que foram mantidos
têm minha confiança. O Laerte foi
absolvido em todas as instâncias
da Justiça", argumenta Del Nero.
Em campo, o novo presidente
da FPF terá que driblar uma herança deixada por Farah: o número incômodo de 21 clubes, fruto
da virada de mesa promovida em
2003 que beneficiou o Guarani, time de coração de seu antecessor.
Para atrair o público, Del Nero
aposta em duas jogadas de marketing. A primeira, que ainda depende de aval da PM, é a volta das
torcidas organizadas, banidas dos
estádios por Farah em 1995.
A segunda é o ingresso-família,
que permitirá a um adulto levar
mulher e três filhos por R$ 20 sem
comprovação de parentesco.
Para se defender de erros, Del
Nero tem a resposta pronta. É o
seu primeiro Paulista e teve pouco tempo para acertar as coisas.
"Não dá para fazer tudo de uma
hora para outra." O discurso da
FPF mudou. A prática será testada em campo a partir de amanhã.
Texto Anterior: Federação rasga regras antes mesmo de a bola rolar Próximo Texto: Palmeiras: Reencontro com grandes segue roteiro da Série B Índice
|