São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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Del Nero faz revolução no discurso para apagar Farah

O Paulista-04 terá só futebol. Quem quiser ver mulher dançando terá que ir à boate, não aos estádios. A federação não contratou astros porque seu estatuto proíbe. Os clubes serão tratados de maneira equânime, independentemente de convicções políticas. O regulamento não tem pegadinhas, é feijão-com-arroz, qualquer um entende.
O recado do autor das frases acima, o advogado Marco Polo Del Nero, 63, é claro: o futebol de São Paulo está sob nova direção. No discurso, é uma revolução.
Mas a propalada mudança radical em relação à gestão Eduardo José Farah já se mostra inconsistente antes mesmo de a bola rolar. E será finalmente posta à prova em 18 de abril, com o fim do primeiro Paulista de Del Nero.
Quando desfilar com representantes dos 21 clubes da Série A-1 e efetivamente debutar como presidente da Federação Paulista amanhã em Sorocaba, Del Nero tentará pôr em prática algo que virou uma obsessão na FPF: apagar as marcas deixadas pelos longos 15 anos da era Farah.
As primeiras mudanças começaram nos bastidores. Tentando mostrar-se um conciliador, o novo mandatário aproximou-se de Corinthians e Santos. Retomou o diálogo com a CBF e liderou as federações nas negociações para ampliar os Estaduais, ainda diminutos (o Paulista-04 terá 16 datas) num calendário que prioriza o Brasileiro. Assinou com a Globo e entrou em acordo com o SBT, o que impede a batalha jurídica que tanto atrapalhou o Paulista-2003.
No vácuo de seu novo inimigo, a quem declarou guerra pelas páginas da Folha na semana passada, aboliu inovações que foram a vitrine dos anos Farah. Cortou gastos com propaganda e programas de TV. Abriu licitação pública para todas as propriedades do campeonato, desde bolas a seguros do torcedor. Retirou itens esdrúxulos do regulamento, como o uso de cartões amarelos e vermelhos nos itens de desempate.
"O futebol cresceu nos últimos 100 anos sem mudanças. Não precisamos inventar. Show sertanejo? O público vai ao estádio para ver bola na rede. O resto é desculpa para gastar dinheiro dos clubes", discursa Del Nero.
Se faz pouco das marcas da gestão Farah, o novo presidente mantém a base de seu antecessor, o ranço de não cumprir o que está no regulamento e a fábrica de invenções que marcaram o principal Estadual do país desde 1988.
Na parte administrativa, conservou toda a cúpula da gestão anterior. No início do mês, promoveu mudanças, mas manteve homens de confiança do novo inimigo em cargos estratégicos. Hugo Carletti, um dos membros do "núcleo duro" da FPF, e Jorge Abicalam Filho, diretor financeiro, seguem fortes. Laerte Alves, acusado de participação no esquema de suborno apelidado de caso Cattani, foi nomeado diretor da sub-sede de Ribeirão Preto.
"Todos os que foram mantidos têm minha confiança. O Laerte foi absolvido em todas as instâncias da Justiça", argumenta Del Nero.
Em campo, o novo presidente da FPF terá que driblar uma herança deixada por Farah: o número incômodo de 21 clubes, fruto da virada de mesa promovida em 2003 que beneficiou o Guarani, time de coração de seu antecessor.
Para atrair o público, Del Nero aposta em duas jogadas de marketing. A primeira, que ainda depende de aval da PM, é a volta das torcidas organizadas, banidas dos estádios por Farah em 1995.
A segunda é o ingresso-família, que permitirá a um adulto levar mulher e três filhos por R$ 20 sem comprovação de parentesco.
Para se defender de erros, Del Nero tem a resposta pronta. É o seu primeiro Paulista e teve pouco tempo para acertar as coisas. "Não dá para fazer tudo de uma hora para outra." O discurso da FPF mudou. A prática será testada em campo a partir de amanhã.


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