São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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SP domina verba de TV, mas não vai ao estádio

Mesmo com o monopólio de participantes e de receitas, Estado teve a menor média de público do Brasileiro-2003


Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos recebem quase um quarto dos R$ 225 milhões que a Globo vai pagar para exibir a edição deste ano e vêem injustiça


Gigante na hora de abocanhar receitas e vagas no Brasileiro, nanico na bilheteria: eis a desconfortável contradição do futebol paulista.
Enquanto pelo país afora os estádios recebem bastante gente mesmo com a decadência técnica e/ou financeira dos clubes, em São Paulo o processo é inverso.
Com o retorno do Palmeiras à primeira divisão, o Estado passa a ter sete clubes entre os 24 participantes do Brasileiro, o recorde do torneio (o Rio vem atrás, com quatro equipes). É, disparado, o que concentra a maior receita entre as nove unidades da federação no torneio.
Na pirâmide dos direitos de TV -a que conta na nova ordem do futebol-, três paulistas têm lugar no topo. Corinthians, São Paulo e Palmeiras abocanham, junto com Flamengo e Vasco, o maior quinhão dos contratos de TV. Inclua-se o Santos e os quatro grandes do Estado detêm cerca de R$ 55 milhões dessa receita, ou quase um quarto do total do contrato com a Globo para 2004 (R$ 225 mi).
Recebem tanto por serem os carros-chefes das transmissões da emissora na principal praça publicitária do país.
Como reflexo, também são os que mais ganham em contratos de patrocínio. Só o "trio de ferro" (Corinthians, Palmeiras e São Paulo) fatura mais de R$ 20 milhões por temporada com contratos de publicidade na camisa.
Engana-se, porém, quem acha que o monopólio da TV satisfaz os paulistas. "A receita é muito mal distribuída, não corresponde à força que os clubes têm no mercado. A diferença entre o que ganham Corinthians [R$ 14 milhões] e Atlético-PR [R$ 7,4 milhões] é pequena, considerando o fosso mercadológico entre os dois", afirma o vice-presidente de futebol corintiano, Antonio Roque Citadini.
Se traz mais dinheiro aos bolsos dos times, a hegemonia paulista é desmoralizada pelas arquibancadas. No último Brasileiro, o Estado, que ficou com três das cinco vagas da Libertadores, teve a menor média de público: 6.652 pagantes nos jogos em casa.
Até Estados com muito menos tradição e sem times que lutaram pelo título conseguiram números mais expressivos. Em Santa Catarina, a média ficou em 9.233.
Comparada com Minas Gerais, a bilheteria paulista chega a ser ridícula. Com só dois times, o futebol mineiro levou mais gente aos estádios do que as seis equipes paulistas somadas. "Nosso público é pequeno, mas é o que dá mais audiência. É isso que garante o contrato de TV, é isso que traz as receitas", diz Citadini.
A perda de popularidade atinge clubes de todos os níveis em São Paulo.
Dono da segunda maior torcida do país, segundo pesquisa Datafolha de 2003, o Corinthians amargou a 13ª posição no ranking de bilheteria no Nacional do ano passado. Muito pior fez o São Caetano, campeão do Paulista, vice do Brasileiro em 2000 e 2001 e da Libertadores em 2002: foi o último da lista, com a fraquíssima média de 2.367 pagantes por jogo.
Ressalte-se que, no Brasileiro, os clubes nem tinham o argumento usado agora para justificar o fracasso de bilheteria do Estadual, já que um ingresso de arquibancada custava R$ 10, metade do que foi cobrado no Paulista.

Quando um time grande de São Paulo joga fora, é uma atração; um time de fora em SP não tem apelo

Mustafá Contursi presidente do Palmeiras


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