São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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Estado concentra os cornéis de cartola do país

Presidentes dos clubes paulistas do Brasileiro são os recordistas de longevidade no poder


Vida útil média de dirigentes, que não chega a 3 anos na maioria dos clubes, é de 7 anos na área mais rica do Brasil, graças à cultura de mudar regra durante o jogo


Alternância de poder parece ficção no Estado que controla quase um terço das vagas do Campeonato Brasileiro. Em São Paulo, à custa de mudanças nos estatutos dos clubes e da aniquilação dos opositores, os cartolas duram muito mais.
Na média, os sete clubes paulistas na primeira divisão têm presidentes que estão no cargo há sete anos. No resto do país, a marca não chega a três anos.
Com exceção do São Paulo, onde existe oposição forte e respeito às regras políticas, todos os times paulistas da primeira divisão são comandados hoje por cartolas soberanos. Tanto o Corinthians, com Alberto Dualib, como o Palmeiras, com Mustafá Contursi, podem ter o mesmo presidente por 13 anos se os mandatos forem cumpridos até o fim. Ambos conseguiram se manter no poder por meio de alterações nos estatutos, ganhando direito a reeleições antes não previstas e alterando a fórmula de construção dos colégios eleitorais.
Dualib e Mustafá ostentam em seus currículos uma penca de taças. Também sobreviveram, vale lembrar, a vexames históricos: o Palmeiras foi rebaixado à segunda divisão do Brasileiro, e o Corinthians fez em 2004 sua pior campanha num Paulista desde 1913.
"É indiscutível que a continuidade administrativa faz com que os resultados de uma planificação sejam mais viáveis. A mudança constante prejudica", argumenta Mustafá.
Seu colega Antonio Roque Citadini, vice-presidente de futebol do Corinthians, também lança mão da eficiência para justificar a centralização de poder. "Os clubes paulistas têm conquistado muitos títulos, e é difícil mudar quando se ganha. Nos últimos dez anos, Corinthians, Palmeiras e Santos pouco mudaram, porque todos tiveram ciclos vitoriosos", declara Citadini, espécie de porta-voz de Dualib.
E, pela forma como vem mexendo no tabuleiro corintiano, o atual presidente planeja se manter no poder mesmo quando sair do cargo. Dualib espalhou parentes pelo Conselho Deliberativo e nomeou sua neta, Carla, para buscar patrocinadores para o clube.
Aos 83 anos, o chefão corintiano ensaia a sua despedida da presidência, mas prepara o sucessor -Citadini é seu preferido.
Guarani, Ponte Preta e São Caetano ficarão com seus atuais presidentes por quase dez anos. O Santos foi o último a criar a figura do "cartola eterno", seguindo a mesma receita dos concorrentes no Estado.
Como já havia acontecido no Corinthians e no Palmeiras, o time da Vila Belmiro mudou seus estatutos. Assim, permitiu que Marcelo Teixeira, que assumiu em 2000, ganhasse mais um mandato - até o final de 2005.
A longevidade dos "soberanos" paulistas resiste a toda sorte de problemas. À frente da Ponte Preta desde 1996, Sérgio Carnielli é um dos alvos da CPI do Banestado, que apura remessa ilegal de divisas para o exterior. Por não ter recolhido corretamente o Imposto de Renda do clube, Mustafá viu as rendas dos jogos do Palmeiras na Série B serem penhoradas.
Acusado, em 1997, de participar de um esquema de arbitragem na CBF, Dualib foi suspenso por dois anos pelo STJD.
Há ainda os literais donos dos times. Nairo Ferreira de Souza, presidente e ligado ao São Caetano desde sua fundação, em 1989, é proprietário de 45% da empresa criada para explorar o futebol do clube. Em Campinas, Carnielli criou a Partbol, detentora de 84,37% do capital social da Ponte Ltda., que controla o departamento de futebol profissional.
O Guarani tem o segundo presidente que teima em ficar no poder por um longo período. José Luiz Lourencetti assumiu a presidência em 1999. Ele sucedeu Luiz Roberto Zini, que renunciou após 11 anos no comando.
O novo presidente logo tomou gosto pela liturgia do poder. Inicialmente indicado para um mandato tampão, Lourencetti quis alongar sua gestão. No final do ano passado, foi reeleito para um novo mandato de quatro anos. O processo eleitoral foi típico da política dos mais importantes clubes paulistas -a chapa de Lourencetti foi a única inscrita.

Não entendo, porque em 3 anos se enche o saco de futebol. Preciso achar que delícia eles viram nisso

Alexandre Kalil presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-MG


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