São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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Cultura do "de grão em grão" faz MG louvar ponto corrido

Regulares, Atlético-MG e Cruzeiro se unem na defesa de sistema


Se modelo, adotado no Brasil apenas em 2003, vigorasse desde o início, arqui-rivais pulariam dos atuais dois títulos para sete conquistas


Nenhum Estado do país tem mais motivos para comemorar a manutenção das regras do jogo no Campeonato Brasileiro do que Minas Gerais. A teoria e a prática mostram que Atlético-MG, o primeiro campeão do torneio, em 1971, e Cruzeiro, vencedor no ano passado, só têm a lucrar com o sistema de pontos corridos em dois turnos -inaugurado em 2003.
Se a regra da melhor campanha sempre tivesse definido o campeão, o Atlético-MG teria cinco taças nacionais, e não apenas uma. O Cruzeiro só sentiu o gosto da conquista quando o título ficou para a equipe mais regular, a que soma mais pontos ao longo do campeonato. Mas, se o modelo vigorasse há mais tempo, ostentaria outro troféu, o do Brasileiro de 1996.
Especialista em morrer na praia, o Atlético-MG é dono de recordes incompatíveis com o histórico de um único título, o que comprova como a regra de mata-mata prejudicou o clube no principal torneio do país.
A equipe é a que mais vitórias somou (350) e a que mais vezes ficou entre as quatro primeiras (14) da história do Brasileiro.
Já o arqui-rival Cruzeiro bateu quase todas as marcas de uma só edição no ano passado. Com Wanderley Luxemburgo como técnico e Alex como maestro, o clube da Toca da Raposa se tornou o único a obter números centenários em pontos ganhos e gols marcados nos 33 anos da competição. Para este ano, Luxemburgo será substituído por Paulo César Gusmão, seu auxiliar em 2003.

Tarde infeliz
Com esses números, Atlético-MG e Cruzeiro foram alguns dos maiores defensores de que o sistema do ano passado fosse mantido. "O Atlético pode até não ter gostado do nosso título, e com certeza ficou incomodado, mas defendeu e vai continuar defendendo os pontos corridos, porque sabe que as chances dele aumentam. É um clube que também foi prejudicado em campanhas boas", diz o presidente do Cruzeiro, Alvimar Perrella, que aponta outro motivo para celebrar a adoção no Brasil do sistema mais usado na Europa.
"Em 74 e em 75 fomos eliminados por erros da arbitragem. Num campeonato por pontos corridos, o erro de um juiz não pune uma equipe. Com mata-mata, uma tarde infeliz, seja do juiz, do goleiro, do técnico ou da equipe completa, põe a perder todo um trabalho", compara o cartola.
O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-MG, Alexandre Kalil, aponta outras questões, mais ligadas à cultura mineira. "Aqui a paixão é muito grande, a pressão é muito maior que em outro lugar. Se o clube está muito mal, o presidente cai. Aqui a turma do chinelinho [jogadores que não gostam de treinar, mas adoram noitadas] não dura. Aqui essa turma não anda na rua."
Mesmo tendo trocado de técnico duas vezes no Brasileiro-03 -dirigiram o time Celso Roth, Marcelo Oliveira e Procópio Cardoso-, o Atlético-MG terminou em sétimo lugar, obtendo vaga na Copa Sul-Americana.
A histórica regularidade dos mineiros tem tudo para ser mantida neste ano. O regulamento só difere do da edição passada pelo aumento no número de rebaixados. Em 2003, dois times caíram para a segunda divisão, Fortaleza e Bahia. Agora, o número de condenados aumentou para quatro.
Outra alteração no regulamento tem como objetivo acabar com a farra da troca no tapetão de resultados obtidos no gramado.
Após seguidas confusões no ano passado, a CBF modificou o sistema de inscrições no campeonato. A começar pela divulgação no início do mês de uma lista com todos os jogadores com condições de cada clube, o famoso BID (Boletim Informativo Diário).
Até o ano passado essa lista era secreta. Quem tinha acesso a ela era capaz de detectar irregularidades. Casos como o do santista Jerri, que renovou contrato durante o campeonato e chegou a ficar fora do BID, não irão acontecer mais, já que o regulamento deixa claro que, no caso de renovação, tudo acontece de forma automática.

Mesmo sofrendo com o nosso título, o Atlético-MG votou, no Clube dos 13 e no Conselho Arbitral do Brasileiro, a favor dos pontos corridos

Alvimar Perrela presidente do Cruzeiro


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