São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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Auto-suficiência faz o Sul se tornar gigante

Com 8 clubes em 2004, RS, PR e SC têm representação mais distorcida em relação ao perfil geográfico e econômico


Com estádios próprios, CTs bem estruturados e patrocínio caseiro, clubes da região recorrem às divisões de base e protagonizam a maior evolução


Nada tem paralelo com a invasão sulista no Brasileiro-2004. Um terço dos participantes do campeonato vem do Sul, uma representatividade que não bate com praticamente nenhum outro índice apresentado pela região. Nem área, nem população, nem poder -nem mesmo dinheiro.
É no campo da própria administração do futebol que está uma das explicações pela presença de três gaúchos, três paranaenses e dois catarinenses na primeira divisão nacional -o Sul é a única região que tem clubes de todos os seus Estados na competição.
Os sulistas apostam na auto-suficiência para sobreviver. Todos investem na "prata da casa", usam muita mão-de-obra local e buscam recursos na vizinhança.
Ter casa própria é outro ponto vital. Dos oito times sulistas, só o Paraná não joga em seu próprio estádio. Embora tenha dois, o Durival de Brito e a Vila Olímpica, o time usa o Pinheirão, cujo dono é a federação local.
A confortável situação destoa em muito da vivida pela maioria dos times de outros Estados. Nove dos 16 clubes não-sulistas jogarão em campos de terceiros. Custos de aluguel e a contratação de pessoal podem consumir até um quarto da bilheteria de um jogo num torneio de primeira linha.
Centro de treinamento também é prioridade. O CT do Caju, do Atlético-PR, campeão em 2001, é um dos mais modernos do país -já foi até solicitado pela seleção no tempo em que o time era comandado por Luiz Felipe Scolari.
"Os grandes clubes do Sul têm hoje bons estádios e seus próprios CTs. Com estrutura, fica mais fácil desenvolver as divisões de base", analisa o presidente da Federação Paranaense de Futebol, Onaireves Moura.
Com os cofres vazios ou endividados (o poderoso Grêmio é um dos que mais devem), como é norma em todo o país, os clubes do Sul têm de fato recorrido às divisões de base. Juntos, os oito times da região têm em seus elencos mais de 40 jogadores formados no próprio clube. Muitos são destaques -como Nilmar, no Inter, Bruno, no Grêmio, Carlos Alberto, no Figueirense, e Dagoberto, no Atlético-PR.
A maioria dessas revelações saiu das vizinhanças dos clubes. Três garotos que estão hoje no time-base do Grêmio -o volante Leanderson, o lateral Elton e o meia Bruno- nasceram em Porto Alegre.
"Estamos, no Sul, tirando da Lei Pelé a lição de que é preciso voltar a apostar nas divisões de base. Privilegiamos a prata da casa e mesclamos os jovens com atletas experientes", explica Fernando Carvalho, presidente do Inter.
Até na hora de buscar patrocinadores os clubes do Sul preferem não ultrapassar suas fronteiras. Enquanto em São Paulo todos os grandes levam em suas camisas marcas de multinacionais, Grêmio e Inter ostentam o nome de um banco que atua basicamente na região.
Nos últimos anos, o Criciúma quase sempre contou com o apoio de uma empresa de azulejos e cerâmicas com sede em sua cidade.
Para o presidente do Inter, a chave do "boom sulista" está mais na auto-estima que na auto-suficiência. "Nossas torcidas são apaixonadas, e os clubes são muito tradicionais, têm muita força", afirma Carvalho.

Queremos estar sempre por cima, ter o melhor estádio, o melhor time, o melhor CT. Para nós, tudo é competição

Fernando Carvalho, presidente do Inter


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