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O Brasileiro que (quase) não existiu
Bagunça e política por pouco não cancelaram campeonato, que teve o recorde de 94 times
Mais estrambólico e superlotado Brasileiro da história, com o número recorde de 94 participantes, o campeonato de 1979 por pouco não deu lugar a um
torneio de juvenis. A idéia/ameaça, que veio à
luz 11 dias antes de a bola rolar, foi levantada
por ninguém menos que Heleno Nunes, o almirante que comandava a CBD, a confederação que no ano seguinte daria lugar à CBF.
Era um período de desorganização profunda
e de intensa turbulência política no futebol. Irritados com o modelo original do Brasileiro,
que beneficiava cariocas e paulistas, clubes de
MG, RS, BA e PE ameaçaram boicote. Os paulistas também acossavam Nunes, principalmente por intermédio de Nabi Abi Chedid, o
presidente da federação do Estado.
Nabi, por sua vez, era atacado por seus próprios filiados, que reclamavam da maratona
de jogos imposta pela desorganização do Paulista. Corinthians, São Paulo e Santos resolveram não disputar o Nacional. Foi acordado
que Palmeiras e Guarani, campeão e vice em
1978, só entrariam na terceira fase.
Após semanas de indefinição, a CBD anunciou o monstro: o Brasileiro teria 14 clubes a
mais que o projeto original. O inchaço reforçava o bordão do governista Nunes: "Onde a
Arena vai mal, mais um time no Nacional".
Apesar dos protestos liderados por MG e RS,
o regulamento favoreceu SP e RJ, cujos times
só entraram na segunda fase da competição.
Mas a mãozinha não ajudou. O campeão foi
o Internacional, que dera vexame no Gaúcho
dias antes de começar o torneio e contratara
Ênio Andrade às pressas para reparar o estrago. Deu certo. O bicampeão de 75/76 repetiu a
façanha, desta vez de forma invicta.
Para Falcão, que disputou seu último Nacional pelo time -logo em seguida se transferiria
para a Roma-, nem o regulamento esdrúxulo
nem o inchaço, tampouco a ausência de três
grandes paulistas, diminuem o feito do Inter.
"Como dizia o Minelli, o calendário é o time.
Foi isso o que o Inter de 79 fez. Não perdemos
para ninguém. E ainda batemos o Palmeiras
de Telê, que era a melhor equipe paulista. Fazendo assim, não importa a fórmula", disse o
craque do Inter na conquista.
Para além do estigma do inchaço e de ter
produzido o único campeão invicto da história, o Brasileiro de 79 guarda marcas curiosas.
Eram outros tempos, aqueles.
Ainda não havia propaganda nas camisas.
Jogos com mais de 100 mil pessoas eram comuns. O Operário-MS, que disputou a terceira
divisão do Brasileiro em 2003, jogava de igual
para igual com as potências do centro-sul do
país. Em 79, o time de Campo Grande foi o
quinto entre 94 -fora terceiro em 1977.
"Eu era adolescente, mas me lembro bem.
Não fomos campeões ou vices porque fomos
faturados. Sempre tivemos dificuldades com a
arbitragem", reclama o ex-presidente Róbson
Martins, hoje conselheiro do clube. Conselheiro acionista, já que o Operário, que ganhou esse nome por ter sido fundado por trabalhadores da construção civil, virou uma S.A.
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