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História descontínua
OBRA A SER
EDITADA POR
AGNALDO FARIAS FAZ BALANÇO DOS 50 ANOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Como parte das comemorações dos
50 anos da mostra,
a Fundação Bienal
encomendou ao curador e crítico
de arte Agnaldo Farias a publicação de um livro sobre a história
da Bienal até hoje.
Farias é o editor da obra, que em
cerca de 350 páginas reunirá também textos de Rosa Artigas, Fernanda Fernandes, Francisco Homem de Mello e Sheila Leirner. A
data do lançamento ainda não está definida, mas deve ocorrer até o
fim da exposição que será inaugurada na próxima quarta-feira (leia
mais sobre o evento na pág. 15).
Apesar de sua importância para
a cultura brasileira, a Bienal de
São Paulo é tema de apenas um livro, editado em 89, por Leonor
Amarante ("As Bienais de São
Paulo", Pró Editores, 406 págs.,
R$ 66). Mesmo assim, a publicação faz uma análise apenas até a
19ª Bienal, em 87.
Agnaldo Farias, que já foi curador-adjunto da própria Bienal
(em 96), é o curador para a representação brasileira da 25ª edição
do evento, no próximo ano. Na
entrevista a seguir, Farias adiantou à Folha alguns dos temas tratados na publicação.
(FABIO CYPRIANO)
Folha - Como está organizado o livro sobre os 50 anos da Bienal?
Agnaldo Farias - Em primeiro lugar, há um preâmbulo histórico,
feito pela Rosa Artigas, em que ela
apresenta todo o processo que
culminou com a construção da
Bienal, na instituição, e o papel de
Ciccillo Matarazzo nisso tudo,
porque ele é a grande figura, o
grande empresário, patrono das
artes. O livro prossegue com um
longo texto meu, mais analítico,
sobre a história da Bienal.
Folha - Qual é o foco de seu texto?
Farias - O partido que eu optei
foi recontar a história da arte a
partir das diversas presenças na
Bienal de São Paulo. Ela acompanhou o que estava acontecendo,
não necessariamente de forma
sincrônica. Às vezes, ao mesmo
tempo em que ela apresenta a
produção mais recente, apresenta
também as referências históricas,
por meio das salas especiais. Com
isso, meu texto traça uma linha
não a partir de como as coisas de
fato aconteceram dentro do momento histórico, mas como um
mosaico disparatado com opiniões contrastantes.
O interessante é que essa é uma
discussão de uma política cultural, que foi adotada ao longo dos
anos, onde cada curador praticamente só teve duas Bienais para
realizar. Então, ela é descontínua,
o que dá um desenho muito singular. Ao fazer isso, revela-se a
própria natureza da instituição.
Folha - Como o sr. situa a força do
abstracionismo expressionista norte-americano, que foi encampado
por São Paulo, antes de Veneza,
por influência do Museu de Arte
Moderna de Nova York?
Farias - Veja, não é nem a Bienal
que encampa isso, porque a grande vinculação dela é com o concretismo. Portanto, não é com a
escola norte-americana, nem com
o tachismo europeu. E foi a via
concreta que de fato, nos anos 50,
vingou aqui muito fortemente.
Agora, de fato, o MoMA tem
uma presença muito forte. Não se
podia pensar em fazer uma grande exposição aqui sem esses parceiros, e os Estados Unidos foram
um grande parceiro.
A Bienal é um espaço onde eles
vão apresentar tanto o expressionismo abstrato, como também alguma coisa pop. Em 57 eles já fazem uma retrospectiva do Pollock. E por aqui eles preparavam
uma grande entrada no âmbito
internacional. Era uma questão
política. Não uma decisão de marchand. Portanto, não é mercado
nem decisão de curador.
Folha - A estrutura que Ciccillo legou à Bienal, centralizadora e dependente de seu presidente, é um
problema para os curadores?
Farias - Não, eu acho que, de
modo geral, isso foi bem resolvido
nos últimos anos. Quando a direção reclama ou torna um imperativo a sala histórica, ela não é inconsequente. Como também não
é uma ingerência a preocupação
dela com o público, que é uma satisfação que ela deve dar ao patrocinador, em última análise. Então,
cabe ao curador dialogar com o
mundo interno da arte, enquanto
o diretor-presidente faz essa mediação com o mundo externo,
que é quem vai bancar, patrocinar. Temos muito a aprender nesse aspecto. Não pode ser um muro fechado. É preciso que haja essa conversa e que ela seja feita da
melhor maneira possível.
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