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O museu imaginário
PROJETO DE
LIVRO DE IVO
MESQUITA
SOBRE A
INSTITUIÇÃO FOI ABORTADO COM A SUA SAÍDA DA
FUNDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um outro livro sobre a história da Bienal estava sendo
produzido dentro da instituição.
Ele conteria 750 imagens de
obras que foram apresentadas na
Bienal e as relações formais, estilísticas e conceituais que elas
constituíram. Traçaria também
um panorama de seus desdobramentos no Brasil.
Essa coleção de obras-primas
representa aquilo que seu autor, o
atual diretor do Museu de Arte
Moderna de São Paulo (MAM),
Ivo Mesquita, define como "o
museu imaginário no país".
Mesquita preparava a publicação enquanto curador da 25ª Bienal -que deveria acontecer neste
ano. Ele abandonou o projeto ao
desligar-se da instituição, em
meio às crises do ano passado,
que postergaram o evento para
2002 e colocaram a homenagem a
Ciccillo Matarazzo em seu lugar.
"Era um projeto de livro extremamente ambicioso, porque defendia a tese de que, num país sem
museus, ou onde suas coleções
são limitadas, a Bienal tornava-se
um museu imaginário", explica
Mesquita à Folha. O acervo virtual seriam as 750 imagens escolhidas para a publicação.
Outra tese que seria defendida
no livro trata da institucionalidade da Bienal. " A consolidação de
uma organização cultural por 50
anos no Brasil é um feito; variam
os curadores, as dimensões, se há
ou não salas especiais, mas ela
continua existindo apesar de tudo", conta.
Há 22 anos, Mesquita convive
intimamente com a Bienal. Em
69, foi monitor da mostra, considerada a Bienal do boicote, quando vários artistas recusaram-se a
participar em protesto às torturas
no regime militar. "Foi uma Bienal oficial, usada pelo Ministério
das Relações Exteriores como
propaganda", lembra. Depois, foi
o tema de sua dissertação de mestrado e ainda projeto apoiado pela
Fundação Vitae.
Sem previsão de retomar o projeto do livro, Mesquita foi convidado a publicar nos EUA, no segundo semestre, uma síntese de
suas idéias.
O texto será um dos capítulos de
"História das Exposições", obra
que reunirá vários autores e será
editada por Norton Batkin, do
Center for Cultural Studies do
Bard College (em Nova York),
instituição em que Mesquita leciona. A Bienal paulistana será o
único evento realizado no Hemisfério Sul que fará parte do livro.
Na seção dedicada ao tema,
Mesquita aponta a Bienal como
um parâmetro de experiência de
arte contemporânea que vai muito além de seus próprios muros.
"Ela não só profissionalizou o
meio artístico brasileiro como
trouxe questões para a sociedade
em geral", afirma.
Mesquita analisa também as várias fases da mostra. Desde as primeiras, vinculadas ao MAM, até o
seu período mais recente, tratado
por ele como o das "Bienais da
mídia". "Essa fase, que teve início
com o Roberto Muylaert, nos
anos 80, faz parte de um processo
de privatização da Bienal, cada
vez mais dependente do patrocinador e voltada para o grande público", conta.
(Fabio Cypriano)
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