São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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O museu imaginário

PROJETO DE LIVRO DE IVO MESQUITA SOBRE A INSTITUIÇÃO FOI ABORTADO COM A SUA SAÍDA DA FUNDAÇÃO

DA REPORTAGEM LOCAL

Um outro livro sobre a história da Bienal estava sendo produzido dentro da instituição.
Ele conteria 750 imagens de obras que foram apresentadas na Bienal e as relações formais, estilísticas e conceituais que elas constituíram. Traçaria também um panorama de seus desdobramentos no Brasil.
Essa coleção de obras-primas representa aquilo que seu autor, o atual diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), Ivo Mesquita, define como "o museu imaginário no país".
Mesquita preparava a publicação enquanto curador da 25ª Bienal -que deveria acontecer neste ano. Ele abandonou o projeto ao desligar-se da instituição, em meio às crises do ano passado, que postergaram o evento para 2002 e colocaram a homenagem a Ciccillo Matarazzo em seu lugar.
"Era um projeto de livro extremamente ambicioso, porque defendia a tese de que, num país sem museus, ou onde suas coleções são limitadas, a Bienal tornava-se um museu imaginário", explica Mesquita à Folha. O acervo virtual seriam as 750 imagens escolhidas para a publicação.
Outra tese que seria defendida no livro trata da institucionalidade da Bienal. " A consolidação de uma organização cultural por 50 anos no Brasil é um feito; variam os curadores, as dimensões, se há ou não salas especiais, mas ela continua existindo apesar de tudo", conta.
Há 22 anos, Mesquita convive intimamente com a Bienal. Em 69, foi monitor da mostra, considerada a Bienal do boicote, quando vários artistas recusaram-se a participar em protesto às torturas no regime militar. "Foi uma Bienal oficial, usada pelo Ministério das Relações Exteriores como propaganda", lembra. Depois, foi o tema de sua dissertação de mestrado e ainda projeto apoiado pela Fundação Vitae.
Sem previsão de retomar o projeto do livro, Mesquita foi convidado a publicar nos EUA, no segundo semestre, uma síntese de suas idéias.
O texto será um dos capítulos de "História das Exposições", obra que reunirá vários autores e será editada por Norton Batkin, do Center for Cultural Studies do Bard College (em Nova York), instituição em que Mesquita leciona. A Bienal paulistana será o único evento realizado no Hemisfério Sul que fará parte do livro.
Na seção dedicada ao tema, Mesquita aponta a Bienal como um parâmetro de experiência de arte contemporânea que vai muito além de seus próprios muros. "Ela não só profissionalizou o meio artístico brasileiro como trouxe questões para a sociedade em geral", afirma.
Mesquita analisa também as várias fases da mostra. Desde as primeiras, vinculadas ao MAM, até o seu período mais recente, tratado por ele como o das "Bienais da mídia". "Essa fase, que teve início com o Roberto Muylaert, nos anos 80, faz parte de um processo de privatização da Bienal, cada vez mais dependente do patrocinador e voltada para o grande público", conta. (Fabio Cypriano)


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