São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2001

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CHEFES DE DOMICÍLIOS

Crescimento é de 37,5% em relação a 1991, quando apenas 18,1% das casas no país não eram chefiadas por homens

Editoria de Arte/Folha Imagem

Mulher é a responsável por uma em cada quatro moradias

DA SUCURSAL DO RIO

A mulher aumentou sua presença na família e hoje é responsável por um em cada quatro domicílios brasileiros. Continua, porém, ganhando menos do que o homem. Pelos dados do censo, 11,1 milhões de domicílios (24,9% do total) são comandados por mulheres -um crescimento de 37,5% em relação a 1991, quando o percentual era de 18,1%.
O fenômeno aconteceu em todas as regiões e nas 27 unidades da federação. Ele está relacionado à inserção feminina no mercado de trabalho, às mudanças de comportamento e no modelo de família. Nordeste e Sudeste, a região mais pobre e a mais rica do país, têm os maiores índices de famílias chefiadas por mulheres -respectivamente, 25,9% e 25,6%.
"A mulher conquistou mais autonomia financeira, mais independência, mais liberdade. Pode assumir sua família e não está mais em situação tão subjugada", afirma a chefe da Divisão de Indicadores Sociais do IBGE, Ana Lúcia Saboia.
Na região Nordeste, a maior presença feminina como responsável pela família é historicamente relacionada à migração masculina. Maceió (AL) e Teodoro Sampaio (BA) são os campeões nacionais em número de mulheres responsáveis por domicílios: 47,9% e 42,7%, respectivamente.
A mulher responsável pelo domicílio recebe, em média, R$ 591 (71,46% do que recebe o homem, embora essa defasagem tenha diminuído em relação a 1991). Metade dessas mulheres ganha menos de R$ 276. Aproximadamente 30,6% delas ganham de meio a um salário mínimo.
A maioria das mulheres, quando está na condição de responsável pelo domicílio, vive sem o parceiro -e as crianças, portanto, sem o pai. É a chamada família monoparental (só um dos cônjuges vive no domicílio). É de apenas 2,7% o percentual de homens que vivem como cônjuges ou companheiros da mulher responsável pelo domicílio.


Em somente 2,7% das famílias que são comandadas por uma mulher existe um homem morando na casa como cônjuge ou companheiro


A mulher passou a ter mais crianças sob sua responsabilidade: em comparação com 1991, subiu 35% a proporção de crianças de zero a seis anos que vivem em famílias chefiadas por mulheres. O percentual de crianças nessa situação, que era de 10,5% em 1991, passou para 14,2% em 2000.
"A criança tem uma demanda de nutrição e recursos que, às vezes, a mulher não pode atender sozinha. Essa criança está mais sujeita a não frequentar a escola porque trabalha para ajudar a mãe, e, quando jovem, a se deparar com a violência urbana", afirma Ana Lúcia.
Em Sucupira (TO), 42,1% das crianças de zero a seis anos vivem em domicílios chefiados por mulheres -é o maior percentual verificado nos 5.507 municípios brasileiros. Teodoro Sampaio (BA), Chapada de Areia (TO) e Salinas da Margarida (BA) também têm índices altos: 41,4%, 39% e 38,3%, respectivamente.
Também chama a atenção o número de famílias chefiadas por mulheres com mais de 60 anos -3,4 milhões, ou 30,63% do total. Na mesma Salinas da Margarida (BA), o índice chega a 53,3%, e em Raposos (MG), a 55,3%.
Entre as unidades da federação, o Distrito Federal tem o maior percentual de famílias em que a responsável é a mulher: 32,8%. No Rio, o percentual é de 31,2%, e, em São Paulo, de 24,1%.
Para Guacira Oliveira, diretora da ONG Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria), os dados do Censo revelam ao mesmo tempo uma preocupação e uma vitória. "A preocupação é com a condição dessa mulher. Se ela ganha menos, certamente tem menos condições de sustentar essas crianças. Ela precisa de políticas afirmativas, acesso ao mercado e ao crédito", afirma.
A vitória é a própria condição feminina como responsável por mais domicílios: "Ser independente e cuidar da família passa a ser uma opção possível. Essa é uma situação que precisa ser valorizada, pois resulta da luta das mulheres no Brasil". (FE)


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