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JK, Roriz, Arruda...
Origem dita
progressista deu
espaço para uma
decadência que
culminou com
com a crise que
implodiu o DF
por ELIANE CANTANHÊDE
colunista da Folha
A política em Brasília é dividida
em duas "eras": antes e depois
de Joaquim Roriz (PSC), que
foi nomeado para o governo do
Distrito Federal pelo então
presidente José Sarney em
1988 e dali fez seu trampolim
para três outros mandatos em
eleições diretas -1990, 1998 e
2002. Tornou-se assim o eixo
da política brasiliense.
São herdeiros de Roriz os
principais nomes do atual escândalo na capital, a começar
do ex-governador José Roberto
Arruda, que ficou quase 60 dias
preso e foi cassado, e o seu ex-vice, Paulo Octávio, que não teve sustentação política para se
manter no cargo. A cidade ainda pode sofrer intervenção federal, a ser definida pelo Supremo Tribunal Federal.
Com o vácuo de poder, assumiram dois outros rorizistas: o
governador interino, Wilson
Lima (PR), que presidia a Câmara Legislativa, e o tampão,
Rogério Rosso (PMDB), eleito
indiretamente no sábado passado até a posse do vitorioso
nas eleições diretas de outubro.
No último governo Roriz,
Rosso foi secretário de Desenvolvimento e administrador de
Ceilândia, região administrativa mais populosa do DF.
A história política de Brasília,
porém, começou bem diferente
disso, sob o impulso desenvovimentista e liberal, tanto político quanto econômico, de Juscelino Kubitschek, seu idealizador e executor.
Na última eleição presidencial antes da ditadura e na primeira depois, Brasília andou na
contramão. Tanto Jânio Quadros, em 1960, quanto Fernando Collor, em 1989, venceram
no país, mas perderam no DF. E
ambos caíram.
O traço prosseguiu com a formação da Universidade de Brasília, a UnB, coordenada por
educadores como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, que
atraíram nomes de vanguarda.
Mas durou pouco. Em 1964,
JK perdeu os direitos políticos.
Em 1965, 200 professores foram demitidos da UnB, incluindo Sepúlveda Pertence, que viria a presidir o Supremo Tribunal Federal 30 anos depois, e
Pompeu de Sousa, futuro senador na abertura.
Brasília também teve representantes dos partidos clandestinos e focos de resistência à ditadura entre estudantes, sindicalistas e funcionários públicos, que forjaram a primeira
bancada federal de oito deputados e três senadores.
Eles foram eleitos em 1986
pelos ventos da redemocratização e do Plano Cruzado, e eram
líderes de sindicatos, administradores regionais ou profissionais como os deputados Augusto Carvalho (bancário), Sigmaringa Seixas (advogado) e Maria de Lourdes Abadia (ex-administradora de Ceilândia).
Essa configuração, porém, só
resistiu até a Constituinte de
1988 introduzir o voto direto
para governador a partir de
1990, criando a Câmara Legislativa, com 24 deputados.
Presidente, Sarney nomeou
para o governo, em 1988, o goiano Roriz, que era seu vizinho de
fazenda nos arredores do DF e
aproveitou o cargo para montar
todo um esquema -de verbas,
de aliados e de penetração na
máquina do DF- suficiente para vencer a primeira eleição direta, dois anos depois.
A nova Câmara Legislativa
começou bem, mas foi resvalando ao longo dos anos para figuras que despontavam nas
áreas populosas e poeirentas ao
redor do Plano Piloto e que ajudaram a eleger, por exemplo, o
primeiro senador cassado por
corrupção, em 2000: o empresário Luiz Estêvão, do grupo
político e pessoal de Collor.
A cunha nesse processo foi a
eleição do ex-reitor da UnB
Cristovam Buarque para o governo em 1994, mas ele perdeu
em 1998 para o próprio Roriz,
sendo um dos raros candidatos
à reeleição derrotados no país.
Naquela eleição, aliás, ficou
evidente uma peculiaridade de
Brasília: os bairros mais ricos,
como Lago Sul e Lago Norte,
eram infestados de bandeiras
vermelhas do PT de Buarque
(hoje no PDT), e cidades e regiões mais pobres, como Ceilândia, eram tomadas pelos
cartazes azuis de Roriz.
A isso se chama de "efeito
DF-1", numa referência à rodovia que circula Brasília. O voto
que se considera consciente fica dentro da margem, na região
mais central. Já a compra de
voto e o voto de cabresto se desenvolvem principalmente fora. É dali que Roriz pode continuar retirando vitórias e definindo o destino político da já
não tão nova capital de JK.
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