|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE
Discurso político precisa se adaptar para atender a demandas sociais localizadas
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
Denúncias como as que
dominam o noticiário atual
criam enorme expectativa no
ambiente político sobre seus
reflexos na disputa presidencial, mas, em geral, costumam ter alcance limitado.
São assuntos que atingem
segmentos pouco representativos do eleitorado -predomina o desconhecimento.
A falta de informação, porém, não pode ser confundida com falta de repertório crítico por parte dos eleitores
que admitem não detê-la. E
também não se trata de dificuldade de acesso a meios de
comunicação. A TV tem ramificação suficiente para alcançar estratos diversos.
A desinformação sobre os
escândalos reflete mais o desapego dos eleitores pelo discurso político, inadequado à
realidade e a valores da grande maioria da população.
O "conteúdo" da campanha remete a segundo plano
propostas e programas de governo, tornando-os generalistas, longe de atender a demandas localizadas, desmerecendo a opinião pública.
Os dados divulgados hoje
mostram um breve diagnóstico da percepção da população sobre a agenda do país.
Com base nos resultados é
possível identificar os vetores de composição do voto
governista, as prioridades da
nova gestão e os pontos sobre os quais o atual presidente deveria prestar contas.
Quando Lula começava
seu mandato, em 2003, os
principais problemas do
país, segundo os eleitores,
eram na ordem: desemprego, fome, miséria e violência.
Agora, o petista termina sua
gestão com a saúde sendo
apontada como o principal
problema, seguida por violência e educação.
O desemprego aparece depois, mas com uma taxa 21
pontos inferior à verificada
há quase oito anos e 39 pontos inferior ao índice de dezembro de 2004. As menções
à saúde cresceram 28 pontos
em quase oito anos e à educação subiram oito pontos.
Porém, analisar esses resultados apenas pelo total da
amostra, sem observá-los por
determinados segmentos pode camuflar aspectos importantes. Ao se combinar, por
exemplo, a região do país onde o entrevistado vive e a renda do domicílio, alguns resultados surpreendem.
Percebe-se que entre os
mais pobres do Nordeste a
menção ao desemprego como principal problema supera a média em seis pontos.
A violência assusta mais
quem têm renda alta no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste, do que os entrevistados de mesmo perfil no Sul e
no Sudeste. Entre os que têm
menor renda no Sul e no Sudeste, a saúde se destaca. Entre os de maior renda nessas
regiões, a educação chega a
liderar o ranking.
Esses exemplos já ilustram
a necessidade de adaptar o
discurso para alcançar segmentos específicos do eleitorado. Esses temas, se tratados pelo marketing político
com o nível de linguagem e
de persuasão adequados aos
estratos, colaborariam mais
na formação do voto. É a
abordagem multipontuada
das questões que, se consistente e bem comunicada,
muda a história da eleição.
Texto Anterior: Saúde e segurança são os problemas que mais preocupam população, diz Datafolha Próximo Texto: Violência é uma preocupação central na região mais rica Índice | Comunicar Erros
|