|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Escola traz "missões" de ultramar
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando nasceu, a USP seguiu a
lógica do "não tem pão, que comam brioches". Sem professores
especializados na maior parte das
suas novas disciplinas, a universidade trouxe em seu início algumas dezenas de estrangeiros.
Coordenada pelo matemático
Teodoro Ramos, enviado à Europa em 1934 para arregimentar
professores, a iniciativa levou o
mesmo nome da importação de
artistas franceses por dom João 6º
no século 19: missão.
Grosseiramente, pode-se falar
em três "missões", as vindas de
professores da França, da Itália e,
em menor número, da Alemanha.
Grosseiramente, outra vez, pode-se dizer que os franceses vieram
lecionar disciplinas "humanas",
ficando as "exatas" com os italianos e biológicas com os alemães.
Já nas fornadas iniciais, entre
1934 e 1935, chegaram intelectuais
de grande importância na história
da universidade. Do primeiro
grupo foram importados o antropólogo Claude Lévi-Strauss, 95, o
historiador Fernand Braudel
(1902-85), o geógrafo Pierre Monbeig (1929-85), entre outros. Mais
tarde viria um dos fundadores das
ciências sociais no Brasil, Roger
Bastide (1898-1974).
Da Itália chegaram logo Luigi
Fantappié (1901-56) e o russo de
nascimento Gleb Wataghin
(1899-1986), nomes mais importantes, no início, da matemática e
física uspiana, respectivamente.
Aluno da primeira turma de
química, de 1935, Paschoal Senise
destaca a vinda do "grande cientista" alemão Heinrich Rheinboldt. "Ele foi o responsável pela
implantação e desenvolvimento
do curso, auxiliado pelo também
alemão Heinrich Hauptmann",
afirma Senise, que, aos 86 anos,
ainda vai todos os dias na USP.
Felix Kurt Rawitscher (1890-1957, botânico), Ernst Marcus
(1893-1968, zoólogo) e Viktor
Leinz (1904-1983, geólogo) completaram o time dos "tops" alemães. "Esses professores eram
basicamente judeus, que eram os
que queria sair de lá a qualquer
custo", afirma a matemática Elza
Furtado Gomide, 78.
No caso da missão italiana a história foi diferente. O físico Marcello Damy, que conheceu a maior
parte dos "missionários", é categórico: "Os italianos que vieram
eram todos fascistas". Com o começo da Segunda Guerra, em
1939, a maior parte deles voltou
para a terra de Mussolini.
Fugindo do estereótipo dos italianos "exatos" e fascistas, também veio para lecionar na USP,
entre 37 e 42, o destacado poeta
Giuseppe Ungaretti (1888-1970).
Ainda para a área de letras, chegou uma quase quarta missão.
Eram portugueses, como Rebelo
Gonçalves (1907-1982) e Fidelino
Figueiredo (1888-1967), que veio
ensinar letras luso-brasileiras,
quando a universidade não tinha
uma cadeira de literatura só do
Brasil. A USP nasceu mesmo falando outras línguas.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Texto Anterior: A opinião de fora: USP perdeu primazia, dizem não-uspianos Próximo Texto: Idéias da USP: Para intelectuais, humanas resistiram a pressões políticas Índice
|