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O avanço tecnológico vai encarecer a educação?
Instituições públicas e privadas terão de aumentar investimentos em softwares, equipamentos e capacitação de professores para possibilitar o acesso generalizado
dos estudantes à chamada era digital
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O avanço tecnológico, que
impõe novos investimentos e a constante capacitação de docentes, vai tornar a escola do futuro ainda mais cara.
Especialistas ouvidos pela Folha
afirmam que o ingresso generalizado dos estudantes à chamada
era digital é uma meta distante da
realidade paulistana e brasileira
-principalmente quando se trata de educação pública.
Além do custo, o principal entrave, é a dificuldade de capacitar
professores a utilizar novas tecnologias, tanto em escolas e universidades públicas como privadas.
Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais do MEC), em 2002,
somente 38% das 15 mil escolas
do ensino médio público no Brasil possuíam acesso à internet, enquanto na rede privada eram 78%
dos 7.000 colégios. No ensino fundamental (de 1ª a 8ª série), a porcentagem cai para 8% dos colégios públicos (154 mil) e para 47%
dos particulares (19 mil).
São Paulo lidera, em relação às
outras capitais do país, os primeiros passos para a inclusão digital
de crianças e adolescentes. Em
95,2% das escolas públicas e
94,4% da rede privada do ensino
médio há acesso à internet. Os dados não mostram, no entanto,
quantos computadores há para
cada aluno.
Há ainda outro fator a ser levado em conta: "Não basta ter computadores para garantir a inclusão digital. Uma máquina sem
um professor habilitado a utilizá-la é apenas um objeto de decoração. Tem de haver programas para capacitar o corpo docente",
afirma Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e atual presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
Tendência
Segundo Fernando Meirelles,
diretor da FGV-Eaesp (Escola de
Administração de Empresas de
São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas), os gastos com tecnologia
em educação sobem cerca de 10%
ao ano. A instituição já destina o
equivalente a 7% de seu faturamento à aquisição de ferramentas
digitais educativas.
"Há instituições nos Estados
Unidos que gastam cerca de 20%
de seu faturamento em tecnologia. Possivelmente esse será o
nosso teto também."
"É uma ilusão achar que a tecnologia barateia a educação", diz
Schwartzman. Ele aponta alguns
gastos que são permanentes ao se
investir em tecnologia. Quando se
instala uma rede digital, afirma, é
necessário manter uma equipe de
apoio técnico -que será responsável, por exemplo, pela manutenção dos equipamentos e auxílio aos usuários. "Quando um vírus entra na rede, quem irá resolver o problema?"
Além disso, há gastos na aquisição e produção de softwares que
aumentarão a utilidade dos equipamentos como ferramentas educacionais e na infra-estrutura para o treinamento dos professores
que utilizarão esses recursos.
Fernando Meirelles também
destaca a dificuldade de formar
um corpo docente capacitado a lidar com os instrumentos digitais.
"Isso somente será resolvido
quando a próxima geração, que
será alfabetizada com a informática, assumir esses postos de trabalho. Apesar dos esforços, os profissionais atuais e mesmo os formandos de hoje ainda não são capazes de explorar plenamente os
recursos. Temos de esperar mais
10 ou 20 anos para isso ser uma
realidade."
Sonho distante
"A escola do futuro ainda é um
sonho muito distante", afirma
Schwartzman, se referindo à incorporação plena da informática
na sala de aula. Projetos do governo federal não decolaram, entre
eles o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações).
Criado em 2000, o fundo tinha
como meta instalar 290 mil computadores em 13 mil escolas públicas do ensino médio até 2002
-o objetivo final era ter 1 micro
para cada 25 alunos. Uma liminar
travou o programa, que hoje
guarda em caixa cerca de R$ 3 bilhões, sem que se possa utilizá-los.
O governo Lula promete resolver
as pendências judiciais.
O Proinfo, programa do governo federal iniciado em 1997, que
capacita professores a utilizar o
computador e os meios de comunicação em sala de aula, treinou
até agora apenas 30 mil dos 468
mil docentes do ensino médio.
Para Mauro de Salles Aguiar, diretor-presidente do Colégio Bandeirantes, a internet é um dos
principais recursos que podem
ser utilizados em sala de aula para
ensinar crianças e adolescentes.
"Imagine uma aula de geografia
sobre clima. O professor, que possui um projetor para as imagens
de computador, pode ir para uma
"webcamera" instalada na Normandia ou mesmo acessar fotos
de satélite que exemplifiquem o
assunto em questão. Para o aluno,
é muito mais fácil entender sobre
o que se está falando."
O colégio aumentou nos últimos dois anos os investimento
em tecnologia, de 3% para 7%, do
faturamento, sem contar a manutenção do equipamento. A instituição encaminha determinados
professores para cursos técnicos,
mestrados e doutorados no exterior, onde aprendem a usar novas
tecnologias na sala de aula. Quando voltam, a responsabilidade deles é transmitir o conhecimento
adquirido para os demais docentes de sua área.
Mensalidades
Para Gabriel Mário Rodrigues,
presidente do Semesp (Sindicato
das Entidades Mantenedoras de
Ensino Superior no Estado de São
Paulo), é possível dividir as universidades em três grupos: aquelas que cobram acima de R$ 1.000,
entre R$ 500 e 1.000 e de R$ 250 a
R$ 500. "Logicamente, a capacidade de investimento em tecnologia depende do público que a instituição atende."
No entanto ele destaca que, caso
uma universidade decida melhorar a sua infra-estrutura, as mensalidades aumentarão. "Quem
paga por isso não são os atuais estudantes, mas novas turmas que
ingressarem na rede de ensino."
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