São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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O avanço tecnológico vai encarecer a educação?

Instituições públicas e privadas terão de aumentar investimentos em softwares, equipamentos e capacitação de professores para possibilitar o acesso generalizado dos estudantes à chamada era digital

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O avanço tecnológico, que impõe novos investimentos e a constante capacitação de docentes, vai tornar a escola do futuro ainda mais cara.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que o ingresso generalizado dos estudantes à chamada era digital é uma meta distante da realidade paulistana e brasileira -principalmente quando se trata de educação pública.
Além do custo, o principal entrave, é a dificuldade de capacitar professores a utilizar novas tecnologias, tanto em escolas e universidades públicas como privadas.
Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC), em 2002, somente 38% das 15 mil escolas do ensino médio público no Brasil possuíam acesso à internet, enquanto na rede privada eram 78% dos 7.000 colégios. No ensino fundamental (de 1ª a 8ª série), a porcentagem cai para 8% dos colégios públicos (154 mil) e para 47% dos particulares (19 mil).
São Paulo lidera, em relação às outras capitais do país, os primeiros passos para a inclusão digital de crianças e adolescentes. Em 95,2% das escolas públicas e 94,4% da rede privada do ensino médio há acesso à internet. Os dados não mostram, no entanto, quantos computadores há para cada aluno.
Há ainda outro fator a ser levado em conta: "Não basta ter computadores para garantir a inclusão digital. Uma máquina sem um professor habilitado a utilizá-la é apenas um objeto de decoração. Tem de haver programas para capacitar o corpo docente", afirma Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e atual presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).

Tendência

Segundo Fernando Meirelles, diretor da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), os gastos com tecnologia em educação sobem cerca de 10% ao ano. A instituição já destina o equivalente a 7% de seu faturamento à aquisição de ferramentas digitais educativas.
"Há instituições nos Estados Unidos que gastam cerca de 20% de seu faturamento em tecnologia. Possivelmente esse será o nosso teto também."
"É uma ilusão achar que a tecnologia barateia a educação", diz Schwartzman. Ele aponta alguns gastos que são permanentes ao se investir em tecnologia. Quando se instala uma rede digital, afirma, é necessário manter uma equipe de apoio técnico -que será responsável, por exemplo, pela manutenção dos equipamentos e auxílio aos usuários. "Quando um vírus entra na rede, quem irá resolver o problema?"
Além disso, há gastos na aquisição e produção de softwares que aumentarão a utilidade dos equipamentos como ferramentas educacionais e na infra-estrutura para o treinamento dos professores que utilizarão esses recursos.
Fernando Meirelles também destaca a dificuldade de formar um corpo docente capacitado a lidar com os instrumentos digitais.
"Isso somente será resolvido quando a próxima geração, que será alfabetizada com a informática, assumir esses postos de trabalho. Apesar dos esforços, os profissionais atuais e mesmo os formandos de hoje ainda não são capazes de explorar plenamente os recursos. Temos de esperar mais 10 ou 20 anos para isso ser uma realidade."

Sonho distante
"A escola do futuro ainda é um sonho muito distante", afirma Schwartzman, se referindo à incorporação plena da informática na sala de aula. Projetos do governo federal não decolaram, entre eles o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações).
Criado em 2000, o fundo tinha como meta instalar 290 mil computadores em 13 mil escolas públicas do ensino médio até 2002 -o objetivo final era ter 1 micro para cada 25 alunos. Uma liminar travou o programa, que hoje guarda em caixa cerca de R$ 3 bilhões, sem que se possa utilizá-los. O governo Lula promete resolver as pendências judiciais.
O Proinfo, programa do governo federal iniciado em 1997, que capacita professores a utilizar o computador e os meios de comunicação em sala de aula, treinou até agora apenas 30 mil dos 468 mil docentes do ensino médio.
Para Mauro de Salles Aguiar, diretor-presidente do Colégio Bandeirantes, a internet é um dos principais recursos que podem ser utilizados em sala de aula para ensinar crianças e adolescentes.
"Imagine uma aula de geografia sobre clima. O professor, que possui um projetor para as imagens de computador, pode ir para uma "webcamera" instalada na Normandia ou mesmo acessar fotos de satélite que exemplifiquem o assunto em questão. Para o aluno, é muito mais fácil entender sobre o que se está falando."
O colégio aumentou nos últimos dois anos os investimento em tecnologia, de 3% para 7%, do faturamento, sem contar a manutenção do equipamento. A instituição encaminha determinados professores para cursos técnicos, mestrados e doutorados no exterior, onde aprendem a usar novas tecnologias na sala de aula. Quando voltam, a responsabilidade deles é transmitir o conhecimento adquirido para os demais docentes de sua área.

Mensalidades
Para Gabriel Mário Rodrigues, presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo), é possível dividir as universidades em três grupos: aquelas que cobram acima de R$ 1.000, entre R$ 500 e 1.000 e de R$ 250 a R$ 500. "Logicamente, a capacidade de investimento em tecnologia depende do público que a instituição atende."
No entanto ele destaca que, caso uma universidade decida melhorar a sua infra-estrutura, as mensalidades aumentarão. "Quem paga por isso não são os atuais estudantes, mas novas turmas que ingressarem na rede de ensino."

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