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Onde haverá oferta de empregos no futuro?
Para economistas, com processo irreversível de redução de vagas na indústria, o setor
de serviços terá peso cada vez maior no mercado; exigência de qualificação de
mão-de-obra tende a aumentar ainda mais
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O futuro do emprego em São
Paulo está nos serviços. De
cada dez postos criados na
cidade, oito serão nesse setor. Essas vagas serão mais bem remuneradas, mas também vão exigir
maior qualificação.
Esse é o perfil do emprego em
São Paulo traçado para os próximos cinco, dez e até 20 anos por
economistas que estudam o mercado de trabalho. São Paulo vai
concentrar cada vez mais atividades administrativas e financeiras,
além de centros de distribuição.
Conseqüência: vai demandar
mão-de-obra para esses serviços.
Atualmente, de cada dez vagas
criadas, cerca de seis estão nos
serviços. Comércio e indústria dividem as outras quatro.
"São Paulo está se transformando numa cidade pós-industrial, o
que resulta numa mudança no
padrão do emprego", afirma
Marcio Pochmann, secretário do
Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São
Paulo. Se, entre os anos 60 e 80, o
município foi o centro industrial
de importantes setores, como o
automobilístico e o têxtil, diz, hoje
a cidade dá apoio a eles.
Por limite de espaço, custo e
pressões ambientais, a tendência
é de as grandes indústrias continuarem se afastando da cidade, o
que deve reduzir ainda mais a
oferta de empregos nas fábricas.
Mas a tendência é a indústria criar
só um emprego a cada dez. Hoje,
abre 20% das vagas.
Os serviços cada vez mais demandados serão os voltados à
produção (apoio às indústrias), à
distribuição (supermercados e
atacados) e às pessoas, além dos
sociais (escolas e saúde). "A indústria pode eliminar emprego
por adquirir nova tecnologia, mas
vai demandar serviços", afirma
Pochmann.
Projeção feita pelo secretário indica que as áreas industriais das
antigas fábricas instaladas na zona leste, que estavam no auge da
produção nos anos 80, vão se
transformar em áreas residenciais, comerciais (distribuição),
educacionais e até abrigar indústrias mais modernas, como as de
informática. Essa região, na sua
avaliação, deverá ser o coração da
metrópole, sobretudo pela proximidade com o aeroporto de Guarulhos, a região do ABC e o porto
de Santos.
Desemprego recorde
Enquanto reorganiza sua mão-de-obra, isto é, tenta se adaptar à
mudança de uma cidade industrial para uma cidade mais comercial e financeira, São Paulo
enfrenta uma das maiores crises
de emprego de sua história.
Em novembro de 2003, o desemprego atingiu 18,2% da PEA
(População Economicamente
Ativa) -a maior taxa do mês de
novembro desde 1985. O maior
índice registrado na cidade no
ano passado foi em abril e maio,
quando chegou a 19,5%.
São Paulo possui cerca de 1,1
milhão de desempregados e cerca
de 4,6 milhões de pessoas ocupadas -a PEA é formada por 5,6
milhões de pessoas-, segundo
dados da Fundação Seade de
2002. Esse quadro é resultado da
saída de indústrias da cidade, do
processo de modernização das fábricas, decorrente da abertura da
economia, a partir de 1990, e do
baixo crescimento do país.
"E não é só isso. Pessoas que
não residem no município também disputam vagas na cidade",
diz Pochmann. Pelos seus cálculos, 1,4 milhão de pessoas trabalham no município sem residir
-isto é, elas vêm a São Paulo e
voltam às suas cidades diariamente, como o próprio secretário,
que mora em Campinas.
A Fundação Seade informa que
esse número estava ao redor de
700 mil em 2000, segundo o Censo Demográfico de 2000, elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
Mais especialização
Independentemente de quem
ocupa as vagas na cidade -paulistanos ou não-, o fato é que,
sem qualificação, vai ser cada vez
mais difícil o trabalhador conseguir um posto. Isso porque os serviços que criarão vagas serão os
mais sofisticados, como já se percebe nas pesquisas de emprego.
Os serviços especializados, como o de informática, o de contabilidade, o jurídico e o de marketing, por exemplo, ganham cada
vez maior participação no total de
ocupados em São Paulo.
De 1985 a 2003, a participação
do emprego nesses serviços subiu
de 4% para 7,5% do total de ocupados na cidade. O emprego no
setor metalúrgico, que era o característico da cidade, já caiu de
10% para 5,6% no mesmo período, segundo a Fundação Seade.
Os economistas acreditam que
os serviços que exigem pouca
qualificação também podem empregar mais na medida em que os
serviços mais sofisticados são
mais procurados. O que eles querem dizer é que uma empresa que
produz software vai precisar de
pessoal de limpeza, por exemplo.
Esse movimento -aumento de
vagas nos serviços e redução de
vagas na indústria- não tem volta, segundo economistas. O comércio deve manter a sua participação, com uma a duas vagas de
cada dez criadas. "A participação
da indústria no total da força de
trabalho tende a diminuir, mas
não vai desaparecer", afirma
Francisco Pessoa, economista da
LCA Consultores.
Na sua análise, as indústrias de
alta tecnologia, que empregam
pouco, são as que têm maior potencial de se instalar ou crescer na
capital. Ele cita como exemplo a
de programas de informática. A
indústria de turismo também deverá empregar mais, até porque as
decisões das empresas, segundo
ele, continuarão a ser feitas em
São Paulo, o que significa a vinda
de executivos para a cidade.
Para Paula Montagner, gerente
de Análise de Estudos Especiais
da Fundação Seade, a indústria do
vestuário também deve mostrar
mais vigor nos próximos anos.
"Existe em São Paulo muita
mão-de-obra qualificada desse
setor, além de muito consumo. A
indústria do vestuário está se modernizando e tendo a acreditar
que ela vai ficar por aqui para
aproveitar os trabalhadores já
treinados." Essa indústria, porém, será menor e informatizada,
bem diferente da do passado, instalada em grandes galpões.
Apesar de o setor de serviços ser
a grande esperança do emprego
para o trabalhador daqui para a
frente, isso não quer dizer que as
vagas nesse setor vão se multiplicar a ponto de acabar com o desemprego nos próximos anos.
Economistas ressaltam que a
abertura de vagas também depende do crescimento econômico
do país. Eles entendem que, mesmo que o país cresça 4% ao ano, a
possibilidade de criação de postos
de trabalho é mínima. Primeiro,
porque os setores trabalham com
ociosidade. Segundo, porque as
novas tecnologias exigem menos
mão-de-obra.
"A abertura maior ou menor de
vagas depende de políticas industriais e de emprego para os próximos anos. A economia brasileira
foi prejudicada nos últimos anos
pela inexistência de uma política
industrial e de qualificação profissional", diz Fabio Silveira, sócio-diretor da MS Consult.
Na sua avaliação, a demanda
por serviços mais qualificados
corre o risco de não ser atendida
se não houver preparação de
mão-de-obra. "E isso tem de vir
dos ministérios do Planejamento
e do Trabalho. Hoje, existe um
paredão pela frente. Ninguém sabe qual é a política do governo para criar empregos."
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