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AMEAÇA
Reservatórios de água são vigiados e população vai à caça de máscaras para proteção
NY teme um atentado químico
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A atual preocupação de Nova
York é a possibilidade de um
atentado químico e a falta de estrutura da cidade para lidar com o
evento. Começou poucas horas
depois do ataque ao World Trade
Center, quando todos os reservatórios de água da cidade foram
cercados pela Guarda Nacional.
No mesmo dia, um batalhão de
elite com 22 técnicos foi deslocado de sua base, em Scotia (Nova
York), para o local do ataque, para testar o ar. Nada foi encontrado. Ambas as ordens foram do
governador George Pataki.
A suspeita das autoridades tornou-se pública nos últimos dias e
levou o prefeito Rudolph Giuliani
a declarar na sexta-feira que a
água de Nova York continua potável. "Tragam-me um copo tirado da torneira agora mesmo que
eu bebo na frente de vocês", disse
ele aos repórteres.
O temor pode ter fundamento.
Segundo reportagem da revista
"Time" que chega hoje às bancas,
agentes do FBI dizem ter encontrado um manual de operação de
aviões pulverizadores nas buscas
que fizeram nas casas do suspeito
Zacarias Moussaoui.
Os aviões, usados por agricultores para pulverizar lavouras, serviriam para dispersar armas químicas ou biológicas em aglomerações humanas, acreditam oficiais
do governo ouvidos pela revista.
Há uma parte do FBI que acha a
teoria "pouco provável", mas o fato é que a polícia federal anunciou
uma série de novas medidas regulando o uso das aeronaves daquele tipo, proibidas de voar em território nacional desde o dia 16.
Agora, podem decolar e aterrissar, desde que não no espaço aéreo perto das grandes cidades.
Ainda, o FBI exige que todas as associações de pulverizadores avisem sobre membros, treinamentos ou compras suspeitas.
A polícia federal não fala sobre o
assunto. Num documento à imprensa, diz que, "por precaução, o
FBI tomou uma série de medidas
em resposta a cada informação ou
ameaça recebidas". "Nós não temos certeza, mas suspeitamos",
disse o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, à emissora CBS.
Parte da cidade resolveu se precaver por conta própria. Segundo
a Galaxy Army & Navy, a maior
loja de artigos militares de Manhattan, a máscara NBC (contra
ataque nuclear, bacteriológico e
químico) já está esgotada. A demanda é 100 vezes maior do que
durante a Guerra do Golfo, mesmo com o kit saindo a US$ 300,
mais US$ 50 pelo filtro, que deve
ser trocado a cada seis horas.
Exagero ou não, os especialistas
concordam que os EUA não estavam preparados para um atentado químico ou bacteriológico até
o dia 11. Para se ter uma idéia, a
principal medida da prefeitura
para saber se a cidade foi vítima
ou não de um ataque deste porte
era checar se houve aumento de
internação de pessoas com sintomas estranhos nos relatórios semanais dos hospitais.
"A cidade e o país estão lamentavelmente despreparados", disse
há dois meses ao Congresso Jerome M. Hauer, ex-chefe do Serviço
de Emergência de Nova York.
Mesmo que se precavesse em
tempo recorde, afirmou, só conseguiria cuidar das vítimas de 12
das cerca de 50 ameaças biológicas conhecidas atualmente.
A mais preocupante, diferentemente do que se pensa, não é o gás
sarin, que a seita japonesa Aum
Shinriko soltou no metrô de Tóquio nos anos 90, nem mesmo o
antraz, uma bactéria tóxica que
mata 90% dos contaminados.
A principal ameaça é mesmo a
varíola. A doença foi declarada erradicada mundialmente em 1980.
Matou 120 milhões de pessoas só
no século 20. Seu vírus existe oficialmente apenas em um laboratório federal nos EUA e em outro
na Rússia. Mas pode estar com
terroristas. É o que defende Jonathan Tucker, autor de "Scourge:
The Once and Future Threat of
Smallpox". Com ele concorda a
agência de inteligência dos EUA.
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