São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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AMEAÇA
Reservatórios de água são vigiados e população vai à caça de máscaras para proteção

NY teme um atentado químico

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A atual preocupação de Nova York é a possibilidade de um atentado químico e a falta de estrutura da cidade para lidar com o evento. Começou poucas horas depois do ataque ao World Trade Center, quando todos os reservatórios de água da cidade foram cercados pela Guarda Nacional.
No mesmo dia, um batalhão de elite com 22 técnicos foi deslocado de sua base, em Scotia (Nova York), para o local do ataque, para testar o ar. Nada foi encontrado. Ambas as ordens foram do governador George Pataki.
A suspeita das autoridades tornou-se pública nos últimos dias e levou o prefeito Rudolph Giuliani a declarar na sexta-feira que a água de Nova York continua potável. "Tragam-me um copo tirado da torneira agora mesmo que eu bebo na frente de vocês", disse ele aos repórteres.
O temor pode ter fundamento. Segundo reportagem da revista "Time" que chega hoje às bancas, agentes do FBI dizem ter encontrado um manual de operação de aviões pulverizadores nas buscas que fizeram nas casas do suspeito Zacarias Moussaoui.
Os aviões, usados por agricultores para pulverizar lavouras, serviriam para dispersar armas químicas ou biológicas em aglomerações humanas, acreditam oficiais do governo ouvidos pela revista.
Há uma parte do FBI que acha a teoria "pouco provável", mas o fato é que a polícia federal anunciou uma série de novas medidas regulando o uso das aeronaves daquele tipo, proibidas de voar em território nacional desde o dia 16.
Agora, podem decolar e aterrissar, desde que não no espaço aéreo perto das grandes cidades. Ainda, o FBI exige que todas as associações de pulverizadores avisem sobre membros, treinamentos ou compras suspeitas.
A polícia federal não fala sobre o assunto. Num documento à imprensa, diz que, "por precaução, o FBI tomou uma série de medidas em resposta a cada informação ou ameaça recebidas". "Nós não temos certeza, mas suspeitamos", disse o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, à emissora CBS.
Parte da cidade resolveu se precaver por conta própria. Segundo a Galaxy Army & Navy, a maior loja de artigos militares de Manhattan, a máscara NBC (contra ataque nuclear, bacteriológico e químico) já está esgotada. A demanda é 100 vezes maior do que durante a Guerra do Golfo, mesmo com o kit saindo a US$ 300, mais US$ 50 pelo filtro, que deve ser trocado a cada seis horas.
Exagero ou não, os especialistas concordam que os EUA não estavam preparados para um atentado químico ou bacteriológico até o dia 11. Para se ter uma idéia, a principal medida da prefeitura para saber se a cidade foi vítima ou não de um ataque deste porte era checar se houve aumento de internação de pessoas com sintomas estranhos nos relatórios semanais dos hospitais.
"A cidade e o país estão lamentavelmente despreparados", disse há dois meses ao Congresso Jerome M. Hauer, ex-chefe do Serviço de Emergência de Nova York. Mesmo que se precavesse em tempo recorde, afirmou, só conseguiria cuidar das vítimas de 12 das cerca de 50 ameaças biológicas conhecidas atualmente.
A mais preocupante, diferentemente do que se pensa, não é o gás sarin, que a seita japonesa Aum Shinriko soltou no metrô de Tóquio nos anos 90, nem mesmo o antraz, uma bactéria tóxica que mata 90% dos contaminados.
A principal ameaça é mesmo a varíola. A doença foi declarada erradicada mundialmente em 1980. Matou 120 milhões de pessoas só no século 20. Seu vírus existe oficialmente apenas em um laboratório federal nos EUA e em outro na Rússia. Mas pode estar com terroristas. É o que defende Jonathan Tucker, autor de "Scourge: The Once and Future Threat of Smallpox". Com ele concorda a agência de inteligência dos EUA.


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