São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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APELO
"Imploro a Deus que mantenha a paz", diz ele no Cazaquistão, perto do Afeganistão

Em zona de risco, papa implora paz

DA REDAÇÃO

O papa João Paulo 2º fez ontem um apelo dramático contra a guerra e disse temer um aprofundamento ainda maior das divisões religiosas no mundo.
"Com todo o meu coração, eu imploro a Deus que mantenha o mundo em paz", afirmou o líder católico ao final de uma missa para cerca de 50 mil pessoas no Cazaquistão, país próximo ao Afeganistão que pode ser envolvido em uma eventual crise regional se os EUA lançarem uma operação militar contra o grupo extremista islâmico Taleban.
Apesar do perigo, o papa decidiu manter a viagem para mostrar sua determinação em promover um diálogo inter-religioso. Em maio passado, ele foi o primeiro líder católico a entrar em uma mesquita, em Damasco (capital da Síria). A viagem fez parte de uma peregrinação a locais sagrados para o cristianismo e de sua campanha de reaproximação religiosa no Oriente Médio.
Ao chegar ao Cazaquistão, anteontem, o papa disse que todas as controvérsias deveriam ser resolvidas por meio de negociações, não pelo uso de armas.
A polícia montou um esquema de segurança especial no local onde foi realizada a missa, usando detectores de metal e revistando várias pessoas.
"Não devemos permitir que o que aconteceu provoque um aprofundamento das divisões. A religião nunca deve ser usada como motivo para um conflito", afirmou João Paulo 2º, 81, referindo-se a tensões em alguns países de maioria islâmica após os atentados em Nova York e nos arredores de Washington.
Enquanto o papa fazia seu apelo em inglês no Cazaquistão, ex-república soviética da Ásia central de maioria muçulmana, os EUA continuavam a fortalecer suas forças na região em torno do Afeganistão, onde provavelmente se encontra o terrorista saudita Osama bin Laden, suspeito de envolvimento nos ataques do dia 11.
"Quero fazer um chamado a todos, cristãos e adeptos de outras religiões, para que trabalhemos juntos a fim de construir um mundo sem violência, um mundo que ame a vida e cresça em justiça e solidariedade", disse o líder da Igreja Católica.

Coalizão internacional
Poucas horas após o discurso, o presidente Nursultan Nazarbayev disse ao papa que seu país estava pronto para integrar uma coalizão internacional contra o terrorismo.
"O Cazaquistão se manifestou de forma decidida contra o terrorismo e está disposto, em uma coalizão que inclua outros Estados, a combater isso porque nós acreditamos que um único país, não importa quão grande seja, não pode derrotar o terrorismo sozinho", afirmou Nazarbayev.
Em seu discurso, o papa disse que o Cazaquistão, país majoritariamente islâmico que possui uma pequena comunidade católica (2% da população), é um exemplo de harmonia religiosa.
No sermão, o papa homenageou vítimas do regime soviético. Mais de 2 milhões de pessoas, principalmente alemães, poloneses e ucranianos, foram deportadas para o Cazaquistão durante o regime de Joseph Stálin.

Armênia
O papa inicia amanhã uma visita à Armênia, país de maioria cristã ortodoxa. Após as intensas críticas do patriarcado de Moscou, em junho, à visita que João Paulo 2º fez à Ucrânia, considerada "território canônico" russo, a viagem à Armênia é mais uma demonstração da possibilidade de relações ecumênicas harmoniosas entre Roma e ortodoxos.
Segundo o Vaticano, não se trata de uma visita "pastoral", mas ecumênica. O papa deve se pronunciar sobre a controvérsia em torno do genocídio armênio, rejeitado pelo governo da Turquia.


Com agências internacionais

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