São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2001

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Irã aceita aliança, mas só sob ONU

DA REDAÇÃO

O governo islâmico do Irã, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, Kamal Kharrazi, declarou-se ontem disposto a integrar a frente internacional antiterrorismo, mas desde que ela seja coordenada pela ONU.
O regime iraniano, que no passado foi classificado pelo governo norte-americano de "Estado terrorista", fez, com esse novo passo, uma opção pragmática porque hostil a um adversário geograficamente mais próximo, o grupo extremista islâmico Taleban.
A declaração de Kharrazi, feita em visita ao Parlamento local e relatada pela televisão iraniana, não esclarece de que maneira seu governo pretende cooperar nessa coalizão, proposta pelo governo de George W. Bush.
Em 1991, o regime islâmico iraniano não integrou as forças articuladas pela ONU para expulsar o vizinho Iraque do território do Kuait. Essa reordenação das alianças circunstanciais deverá ter seus contornos definidos ainda hoje, com a chegada a Teerã do ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw.
Straw, que também irá à Síria, representa estará participando de sondagens de interesse do governo norte-americano. Os britânicos se propuseram a essa intermediação durante encontro entre Blair e Bush, em Washington, na semana passada.
Com o próximo desembarque de Straw em Damasco, o governo da Síria também se pronunciou. Divulgou nota conjunta com o Irã na qual alerta que as iniciativas antiterroristas terão graves desdobramentos se não forem desencadeadas sob a tutela da ONU.
A nota foi redigida após conversa telefônica, ontem à noite, entre os presidentes Bashar Assad e Mohamad Khatami.
O governo iraniano condenou os atentados de Washington e Nova York e vem sendo pressionado pelo Ocidente a dar novos passos na montagem do quebra-cabeças da Ásia Menor, destinado a isolar o Afeganistão e a legitimar represália militar em razão das bases que Osama bin Laden, o suspeito número um dos atentados, mantém naquele país.
Ainda ontem, Washington anunciou a suspensão das sanções decididas contra o Paquistão em 1999, quando o governo local explodiu uma bomba nuclear. A Índia, adversária histórica dos paquistaneses e também punida, foi igualmente ontem beneficiada pelo fim das sanções.
As relações entre os Estados Unidos e o Irã estremeceram e chegaram a ser rompidas depois da revolução dos aiatolás, em 1979. O apoio que Washington dera ao regime deposto do xá Reza Pahlavi tornou-se pretexto para operações como o sequestro de 60 diplomatas e funcionários norte-americanos, entre dezembro de 1979 a janeiro de 1981.
Em princípio, o bombardeio do Afeganistão não interessa ao Irã pela pressão de refugiados afegãos em suas fronteiras.
É um problema para o qual o governo iraniano diz não estar preparado, embora já hospede cerca de 2 milhões de exilados afegãos e já tenha preparado oito campos de refugiados, capazes de abrigar até 200 mil pessoas. Cerca de 5.000 já estariam na fronteira aguardando sinal verde para se fixar em território iraniano.
As condições internas no Afeganistão são particularmente delicadas, com o esgotamento do estoque de alimentos e a ameaça de fome que, segundo a ONU, pesa sobre 7,5 milhões de pessoas.
Nesse quadro, o ministro do Exterior Kharrazi, após contato telefônico com o príncipe Saud al-Faissal, chefe da diplomacia saudita, declarou ser preciso evitar qualquer reação norte-americana precipitada que pudesse desencadear uma "catástrofe humana".
Em conversa com jornalistas, Kharrazi não disse se, em telefonema entre o presidente Khatami e Tony Blair, o primeiro-ministro britânico transmitiu ao governo do Irã mensagem de Bush.
Kharrazi não é o primeiro a evocar a necessidade de a ONU fornecer um guarda-chuva diplomático à movimentação dos últimos dias, comandada pelos EUA.
França e Rússia também desejam que o papel da organização internacional seja mais efetivo. Teoricamente, o Conselho de Segurança, que só decide por unanimidade, poderia ser acionado. Rússia e China, pelos confrontos reais ou virtuais com o radicalismo islâmico, não fariam objeção.
Ainda ontem, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuait, Bahrein, Omã e Qatar, reunidos no Conselho de Cooperação do Golfo, pediram que os Estados Unidos definissem os objetivos da coalizão internacional de combate ao terrorismo que está sendo costurada.
A monarquia saudita hesita em ceder bases militares para que os norte-americanos lancem sua ofensiva contra o Afeganistão, em escala que poderia provocar, indiscriminadamente, vítimas civis.


Com agências internacionais


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