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Irã aceita aliança, mas só sob ONU
DA REDAÇÃO
O governo islâmico do Irã, por
meio de seu ministro das Relações
Exteriores, Kamal Kharrazi, declarou-se ontem disposto a integrar a frente internacional antiterrorismo, mas desde que ela seja
coordenada pela ONU.
O regime iraniano, que no passado foi classificado pelo governo
norte-americano de "Estado terrorista", fez, com esse novo passo,
uma opção pragmática porque
hostil a um adversário geograficamente mais próximo, o grupo extremista islâmico Taleban.
A declaração de Kharrazi, feita
em visita ao Parlamento local e relatada pela televisão iraniana, não
esclarece de que maneira seu governo pretende cooperar nessa
coalizão, proposta pelo governo
de George W. Bush.
Em 1991, o regime islâmico iraniano não integrou as forças articuladas pela ONU para expulsar o
vizinho Iraque do território do
Kuait. Essa reordenação das
alianças circunstanciais deverá ter
seus contornos definidos ainda
hoje, com a chegada a Teerã do
ministro britânico das Relações
Exteriores, Jack Straw.
Straw, que também irá à Síria,
representa estará participando de
sondagens de interesse do governo norte-americano. Os britânicos se propuseram a essa intermediação durante encontro entre
Blair e Bush, em Washington, na
semana passada.
Com o próximo desembarque
de Straw em Damasco, o governo
da Síria também se pronunciou.
Divulgou nota conjunta com o Irã
na qual alerta que as iniciativas
antiterroristas terão graves desdobramentos se não forem desencadeadas sob a tutela da ONU.
A nota foi redigida após conversa telefônica, ontem à noite, entre
os presidentes Bashar Assad e
Mohamad Khatami.
O governo iraniano condenou
os atentados de Washington e
Nova York e vem sendo pressionado pelo Ocidente a dar novos
passos na montagem do quebra-cabeças da Ásia Menor, destinado
a isolar o Afeganistão e a legitimar
represália militar em razão das
bases que Osama bin Laden, o
suspeito número um dos atentados, mantém naquele país.
Ainda ontem, Washington
anunciou a suspensão das sanções decididas contra o Paquistão
em 1999, quando o governo local
explodiu uma bomba nuclear. A
Índia, adversária histórica dos paquistaneses e também punida, foi
igualmente ontem beneficiada
pelo fim das sanções.
As relações entre os Estados
Unidos e o Irã estremeceram e
chegaram a ser rompidas depois
da revolução dos aiatolás, em
1979. O apoio que Washington
dera ao regime deposto do xá Reza Pahlavi tornou-se pretexto para operações como o sequestro de
60 diplomatas e funcionários norte-americanos, entre dezembro
de 1979 a janeiro de 1981.
Em princípio, o bombardeio do
Afeganistão não interessa ao Irã
pela pressão de refugiados afegãos em suas fronteiras.
É um problema para o qual o
governo iraniano diz não estar
preparado, embora já hospede
cerca de 2 milhões de exilados afegãos e já tenha preparado oito
campos de refugiados, capazes de
abrigar até 200 mil pessoas. Cerca
de 5.000 já estariam na fronteira
aguardando sinal verde para se fixar em território iraniano.
As condições internas no Afeganistão são particularmente delicadas, com o esgotamento do estoque de alimentos e a ameaça de
fome que, segundo a ONU, pesa
sobre 7,5 milhões de pessoas.
Nesse quadro, o ministro do Exterior Kharrazi, após contato telefônico com o príncipe Saud al-Faissal, chefe da diplomacia saudita, declarou ser preciso evitar
qualquer reação norte-americana
precipitada que pudesse desencadear uma "catástrofe humana".
Em conversa com jornalistas,
Kharrazi não disse se, em telefonema entre o presidente Khatami
e Tony Blair, o primeiro-ministro
britânico transmitiu ao governo
do Irã mensagem de Bush.
Kharrazi não é o primeiro a evocar a necessidade de a ONU fornecer um guarda-chuva diplomático à movimentação dos últimos
dias, comandada pelos EUA.
França e Rússia também desejam que o papel da organização
internacional seja mais efetivo.
Teoricamente, o Conselho de Segurança, que só decide por unanimidade, poderia ser acionado.
Rússia e China, pelos confrontos
reais ou virtuais com o radicalismo islâmico, não fariam objeção.
Ainda ontem, Arábia Saudita,
Emirados Árabes Unidos, Kuait,
Bahrein, Omã e Qatar, reunidos
no Conselho de Cooperação do
Golfo, pediram que os Estados
Unidos definissem os objetivos da
coalizão internacional de combate ao terrorismo que está sendo
costurada.
A monarquia saudita hesita em
ceder bases militares para que os
norte-americanos lancem sua
ofensiva contra o Afeganistão, em
escala que poderia provocar, indiscriminadamente, vítimas civis.
Com agências internacionais
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