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ENTREVISTA
Cientista político americano crê que terrorismo demonstra o poder do ideário liberal
Liberalismo vencerá, diz Fukuyama
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
Então não passava de conversa
toda aquela polêmica sobre o fim
da história? Negativo, pelo menos
para o autor do livro que detonou
a controvérsia, "O Fim da História e o Último Homem", há quase
dez anos.
O cientista político norte-americano Francis Fukuyama, 48,
continua inabalável em sua tese
de que o liberalismo político e
econômico saiu vitorioso da batalha contra o socialismo e o comunismo. "Não apareceu nenhuma
ideologia nova", afirmou, em entrevista à Folha, de Washington.
Questionado se estaríamos presenciando um novo começo da
história, Fukuyama hesitou e riu.
Em seguida, reafirmou suas
idéias. "O que aconteceu foi uma
reação aos EUA, à globalização e à
alternativa que eles representam."
Para ele, a violência da reação
terrorista mostra o poder do ideário liberal, que ameaçaria o interesse de certas pessoas e países.
Quem seriam os ameaçados? Ditaduras comunistas, como Coréia
do Norte, e nações islâmicas governadas com mão-de-ferro, como Afeganistão e Iraque.
Na época da Guerra do Golfo,
perguntaram-lhe se o conflito seria uma prova de que a história estaria longe do fim. O cientista político respondeu que a operação
não passaria de uma nota de pé de
página na história dos EUA.
O desmoronamento das torres
gêmeas com certeza terá um espaço bem mais generoso nos livros
de história do país. Mas, para Fukuyama, o liberalismo segue inabalável como o grande vitorioso
dos conflitos ideológicos do século passado e os que ainda resistem
a ele um dia cederão. Leia os principais trechos da entrevista.
Folha - Estamos presenciando um
novo começo da história?
Francis Fukuyama - Foi um terrível evento, do qual eu não gostaria
de diminuir a importância. Mas,
por outro lado, o que aconteceu
foi uma reação aos EUA, à globalização e à alternativa que eles representam [democracia liberal".
E, de uma certa maneira, mostra o
quão poderosa é essa alternativa.
Pessoas se sentem ameaçadas por
ela. Mas não tenho dúvidas de que
essa alternativa deve vencer.
Folha - Sempre que ocorrem
eventos como os que aconteceram
nos EUA, alguém se levanta para
dizer que a história não acabou.
Como o sr. reage a isso?
Fukuyama - O que é bastante interessante nessa reação é que todo
o mundo civilizado está aterrorizado, mas sem saber com o quê. É
diferente do desafio que o comunismo representava. Um dia os
maiores intelectuais do mundo
ocidental imaginavam que todas
as sociedades se converteriam em
comunistas, ou em socialistas.
Hoje ninguém pensa que isso
possa acontecer. Existe um grande desafio político pela frente,
mas não mais ideológico.
Folha - Alguns autores dizem que
a falta de adversários para os EUA
pode ser um fator de desestabilização mundial. O sr. concorda?
Fukuyama - Ainda há vários adversários. No Terceiro Mundo
existe uma série de movimentos
nacionalistas que irromperam
com o final da União Soviética.
Mas o desafio é diferente hoje,
porque, com o uso de novas tecnologias, os EUA podem ser atacados em seu próprio território.
Folha - O sr. acha que os eventos
de Nova York e Washington vão
trazer alguma mudança no campo
diplomático, principalmente em
relação a países do Oriente Médio?
Fukuyama - No curto prazo, os
EUA devem levar adiante algum
tipo de ação militar para tentar se
livrar de Osama bin Laden, e a relação diplomática com Paquistão,
Arábia Saudita, Egito e outros
países será dominada por isso. A
preocupação é que apareçam novos focos de tensão, que surjam
problemas que não existem hoje.
Folha - O sr. acredita que países
como o Afeganistão, o Paquistão, e
outros daquela região podem se
tornar nações liberais?
Fukuyama - Talvez não no curto
prazo...
Folha - Qual poderia ser o estopim para transformá-los em nações
liberais e democráticas?
Fukuyama - Não sei se existe estopim específico. Nas próximas
semanas e meses, eles estarão
muito mais preocupados com a
situação política. Mas, se pensarmos no Irã, é muito provável que
a próxima geração deva fazer uma
abertura política. É importante
não ter como certo que não há
movimentos liberais no mundo
muçulmano, porque eles existem.
Folha - Seu próximo livro tratará
de biotecnologia. Crê que haverá
mudanças na economia por causa
da revolução biotecnológica?
Fukuyama - Ela não será como a
revolução da informática, a resistência para aceitá-la será maior.
Mas é óbvio que a biotecnologia é
a próxima revolução tecnológica.
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