São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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CAMPANHA NA TV

Marqueteiro do PP, que trabalha na gestão petista em Recife, grava imagens na cidade para exibir em programa com ataques mais violentos a tucano

Maluf "importa" depoimentos de Recife para usar contra Serra

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

O candidato à Prefeitura de São Paulo Paulo Maluf (PP) usou em seu programa eleitoral de anteontem declarações de seis pessoas de Recife para criticar duramente o adversário tucano José Serra.
As pessoas aparecem no final da propaganda malufista, dedicada integralmente a criticar o tucano. Em nenhum momento, o programa informa que os entrevistados não são eleitores de São Paulo.
O coordenador de marketing de Maluf, Marcelo Teixeira, disse que isso "não importa" e que a reportagem deveria destacar o teor das denúncias.
As acusações contra Serra veiculadas na Tv pela campanha malufista forma várias: acusa-o de ter mentido sobre a construção de hospitais e uma estação de metrô e de ter dado o calote em um deficiente físico, que teria trabalhado em sua campanha presidencial.
As falas dos entrevistados são usadas como desfecho do depoimento de Alexandre Arêas que, numa cadeira de rodas, diz ter levado um "calote" de Serra na eleição de 2002. Ele pergunta: "Se ele dá calote em deficiente físico, meu amigo e minha amiga, o que é que ele pode fazer com você?".
A resposta então é dada pelos entrevistados, cujos nomes não são revelados. "Independentemente de ser deficiente físico ou não, acho que o ser humano merece respeito", diz uma mulher. "Tem que pegar uma pessoa dessas e punir, né?", fala um homem.
Em nenhum momento, nos seis depoimentos, o nome de Serra é citado. A questão que motiva os depoimentos também é omitida.
A revelação de que a cena foi gravada em Recife, e não em São Paulo, foi possível graças ao reflexo de um ônibus captado pelo vidro de uma loja, que serviu de fundo para um dos entrevistados.
Em câmera lenta e com a imagem espelhada, lê-se claramente a palavra "Pedrosa" na lateral de um ônibus branco. A viação é de Recife e, segundo a própria empresa, atende a área urbana da capital pernambucana (norte-leste).
Também é de Recife o marqueteiro Marcelo Teixeira, que acumula um longo currículo ligado a campanhas petistas.
No final do ano passado, Teixeira deixou a conta publicitária da Prefeitura de São Paulo, administrada por Marta Suplicy (PT), para entrar na campanha de Maluf.
Hoje, ele ainda é prestador de serviços para a Prefeitura de Recife, comandada pelo petista João Paulo -Marta e o prefeito da capital pernambucana são candidatos à reeleição e têm como marqueteiro Duda Mendonça.
Há duas semanas, a Folha publicou que PT e PP firmaram um pacto de não-agressão a Marta. Em troca, Maluf seria beneficiado dentro dos limites legais na CPI do Banestado, que apura envio de recursos para o exterior. Ambas as partes negam o acordo.

Ameaça
Maluf afirmou ontem, durante evento de campanha, que recebeu uma ameaça por telefone após o programa ter sido exibido.
"Era um homem e ele disse "você vai se arrepender de fazer". Eu respondi: "Eu não me intimidei nem com o AI-5 nem com o Geisel, não vou me intimidar com ameaça de tucano". Ele não fez boletim de ocorrência. "Para quê?", perguntou Maluf.


Colaborou FÁBIO GUIBU, da Agência Folha, em Recife

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