São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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PAULISTANOS

Perus/Pirituba

Visitar um shopping é passeio raro




PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma área onde vivem quase 550 mil pessoas, o maior shopping tem cerca de 30 lojas e nenhum cinema. Isso talvez explique por que os moradores do extremo noroeste da cidade são, entre os paulistanos, os que menos cultivam o paulistano hábito de ir ao shopping center.
Nessa região, que engloba Anhangüera, Jaraguá, Perus, Pirituba e São Domingos, quase a metade dos moradores, 47%, nunca vai a shoppings. É um contingente bem superior à média da cidade, de 31%, e ainda maior que a de bairros mais ricos, como os da região Pinheiros/Perdizes, onde só 17% não freqüentam shoppings.
Outro fator para a ausência dos moradores dessa região em shoppings é, obviamente, a falta de dinheiro. No extremo noroeste paulistano, uma em cada três famílias (35%) tem uma renda mensal de no máximo R$ 480.
Na manhã da última terça, o acanhado shopping da região estava praticamente vazio, com poucas pessoas. Nas lojas, não havia quase ninguém. A vendedora Ordaléia Gomes da Silva, 31, passeava com seu filho, Kauã, 3, no shopping. Mas, como ela explicou, esse não é um hábito. "É difícil eu vir aqui. Para falar a verdade, normalmente eu não vou a nenhum shopping."
Desempregada desde a semana passada, Ordaléia tinha comprado apenas um sorvete para seu filho, no McDonald's.
Mas o hábito de não ir a esse tipo de estabelecimento comercial somente reflete um problema maior da região, comum em grande parte da periferia, que é a ausência de opções de lazer.

"Seis Ibirapueras"
Na região noroeste está o parque Anhangüera, uma área verde que tem quase seis vezes o tamanho do Ibirapuera. Mas, mais uma vez, quase a metade da população desses distritos (46%) simplesmente não freqüenta parques. O número é dez pontos percentuais maior que a média da cidade, e só fica abaixo do da região de São Miguel/Itaim Paulista.
Um dos poucos locais de lazer da região são os três CEUs (Centros Educacionais Unificados, os "escolões"). Segurança da unidade Vila Atlântica, Dorival Gabriel Martins, 46, mora há 40 anos na região do CEU, em São Domingos. Para ele, a obra ajuda jovens a "manter a mente ocupada".
"Até têm uns campinhos de futebol aí fora, mas em cinco minutos você vê droga rolando. Aqui não", afirma Dorival.
Por toda a região, além de faltar lazer, falta trabalho. É nessa área da cidade que está a maior reclamação de falta de emprego. No Recanto dos Humildes, um dos bairros mais pobres de Perus, há apenas bares nas ruas de terra. "Emprego em falta é na capital inteira", fala Valdeci Pereira da Silva, 36, enquanto "toma só um vinhozinho", às 11h de uma terça-feira. Morador do Recanto da Paz, outra parte do chamado "Complexo do Recanto", Silva está desempregado e sobrevive de bicos.

Fábrica abandonada
Perto do CEU Perus, uma enorme região quase abandonada chama a atenção. No terreno de 750 mil m2, ficava a fábrica de cimento ao redor da qual se formou o bairro, a partir da década de 1920. Até 1960 praticamente uma vila operária, Perus transformou-se, até os anos 80, em bairro-dormitório, quando a fábrica fechou.
Agora, moradores do bairro querem revitalizar o local. Segundo um dos integrantes do movimento, Paulo Rodrigues, o projeto prevê a recuperação de uma antiga estrada de ferro, a construção de um condomínio de classe média-alta e até um "shoppinzinho", aproveitando parte da fábrica abandonada.


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