São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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PAULISTANOS

Vila Maria/Tucuruvi

Voto para conservador é uma marca




FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Cambler, 69, manda sempre um cartão de aniversário para Paulo Maluf (PP). E para "dona Silvia", a mulher do ex-prefeito paulistano. Também guarda fotos dos tempos áureos do malufismo. "Nós não estamos mais rindo porque estamos mais velhos. Mas estamos mais velhos porque não rimos", disse ao felicitar Maluf na última vez.
Para o advogado, que costuma organizar comitês eleitorais para Maluf, o ex-prefeito "sempre se sacrificou", "era o primeiro a chegar ao gabinete". E as acusações que marcaram a vida política do pepista, como a do superfaturamento de obras, são, para ele, intrigas de adversários.
Um percentual de 34% dos habitantes da região em que Cambler vive -dos distritos de Vila Maria, Vila Guilherme, Vila Medeiros, Jaçanã, Mandaqui, Tremembé e Tucuruvi- considera que Maluf é o político que mais contribuiu para melhorar a qualidade de vida na cidade. O índice está acima da média do município, de 26%.
Para Cambler, a Vila Maria "é Maluf" por causa de obras viárias que facilitaram o acesso à região, como a avenida Zaki Narchi.
"É um bairro janista, e Jânio Quadros privilegiou mais a classe média, que predomina na região. Quem o sucedeu nisso foi Maluf", opina Isaías Dias, vice-presidente do diretório regional do PT de Vila Maria. Segundo Dias, o PT da área foi organizado por professores, bancários, estudantes, pessoas que tinham de sair do bairro para suas atividades e "conhecer outras realidades".
Hoje, do PT "original" sobrou pouco, por causa das disputas internas iniciadas quando a legenda virou governo. O vereador mais famoso da área, Wadih Mutran (PP), membro da "tropa de choque" de Maluf, atualmente integra a base de apoio da prefeita Marta Suplicy (PT) na Câmara Municipal.
"Este governo é aberto para toda a sociedade", afirma o subprefeito de Vila Maria, Carlos Valdir Ayudarte, sobre a convivência com o ex-malufista. "Todos os pedidos têm acolhimento, não fazemos distinção política no atendimento à população."

Pena de morte
A região é dominada por "paulistanos da gema" -57% nasceram na cidade, contra a média de 47%- e grande parte passou o maior tempo da vida no lugar em que vive hoje (45%). A maioria pouco sai dos bairros, pois trabalha na área. Os moradores consideram ainda que o local é um dos mais tranqüilos de São Paulo.
Juarez Mazzoni, 74, diz que vive como se estivesse em uma cidade do interior. Almoça e janta em casa. Conhece todo mundo pelas ruas, pois morou a maior parte da vida na região.
No início do século passado, a família de Mazzoni perdeu tudo em Cedral (427 km da capital). Os negócios -faziam arreios para carroças- não iam bem.
Em 1950, conseguiram um galpão na avenida Guilherme Cotching, uma das principais da área. E lá Mazzoni trabalha até hoje. Das 8h às 19h, capitaneia a loja de artigos esportivos.
"Foi o bairro que nos acolheu quando viemos com a cara e a coragem", afirma ele.
Tradicional, de maioria branca, com população católica acima da média, a região de Vila Maria/Tucuruvi tem ainda um dos maiores índices de pessoas favoráveis à pena de morte (67%), acima da média da cidade, de 59%.
Mazzoni, por exemplo, já foi a favor da medida -diante de casos chocantes de violência. "Mas refleti e decidi que não é por aí. Sabe quem vai morrer? Aqueles que não têm dinheiro. Os negros. Os marginalizados."


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