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PAULISTANOS
Santo Amaro/Jabaquara
População aprova área, mas reclama
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
De um lado, moradores de uma
rua de classe média baixa, no distrito de Pedreira, às margens da
represa Billings. Do outro, uma
zona estritamente residencial de
classe média alta no Jardim Petrópolis, distrito de Santo Amaro.
Ambos estão localizados na zona
sul da capital, reclamam de uma
série de problemas em seus respectivos endereços, mas afirmam
gostar da região onde moram.
O que pode parecer paradoxal
se reflete nos dados do Datafolha.
Embora sejam os que mais relatam não ter visto melhorias nos
bairros em que vivem (18%, contra uma média de 12%), os moradores da área que reúne Santo
Amaro, Jabaquara, Socorro e três
distritos da Subprefeitura de Cidade Ademar são os que mais se
orgulham da casa em que vivem.
Dos entrevistados, 55% disseram que a sua residência é melhor
do que a da maioria -o percentual médio de paulistanos que
afirmaram o mesmo é de só 8%.
"Acho que há, sim, um certo orgulho, mas mais pela região porque, apesar dos problemas, temos
muitas árvores, qualidade de vida.
Ninguém quer sair daqui", diz a
arquiteta Mary Ann Ribeiro de
Almeida, moradora do Jardim
Petrópolis e membro da Sajape
(sociedade de amigos do bairro).
Os principais pontos negativos
da região, afirma, são a falta de segurança, o trânsito, usos irregulares, camelôs e fiscalização ineficiente. "Mas a maioria da pessoas
que vive aqui é profissional liberal, tem muito artista e estrangeiro também. É um pessoal crítico e
nada acomodado", completa.
"O poder público sempre responde a uma pressão da sociedade organizada", afirma a também
arquiteta Cristina Antunes, diretora de relações institucionais da
Sajape. O maior embate na região
ocorre hoje por conta da construção do corredor de ônibus na av.
Vereador José Diniz, já que os
moradores querem manter de pé
por volta de 350 árvores que seriam derrubadas pela obra.
Tanto Almeida como Antunes
dizem que a luta não é apenas para que as boas condições de vida
do bairro sejam mantidas mas para que elas sejam democratizadas.
Bem longe dali -em termos
geográficos e socioeconômicos-
moradores de Pedreira (Subprefeitura de Cidade Ademar) reclamam do descaso com que a região
vem sendo tratada, mas, por outro lado, não estão dispostos a
abandonar o que construíram lá.
"Estamos há quase dez anos
tentando fazer com que pavimentem nossa rua, mas não conseguimos. Até parece que moramos
numa favela, mas aqui não é favela, não", afirma o técnico em saneamento Paulo Gerola Júnior,
43, que vive com a família em Pedreira, numa casa que construiu
mais de 20 anos atrás.
"Tudo o que você vê de melhora
aqui fomos nós que fizemos, mas
ficou bom. Gosto da minha casa e
não sairia daqui." O pai de Gerola
Júnior, que mora quase ao lado do
filho, concorda. "Se não cortamos
o mato da rua, entra rato na lavanderia, mas gosto daqui porque
tem cara de cidade do interior."
Nas horas vagas, os moradores
de Santo Amaro/Jabaquara não
vão para muito longe do bairro:
77% disseram nunca ter estado no
Memorial da América Latina
(contra uma média de 67%); 66%
nunca entraram no Teatro Municipal (a média geral é de 60%). O
orgulho em relação à casa, porém,
tem pouco a ver com isso. Contam mais distância, trânsito e falta
de um bom transporte coletivo.
"Num domingo, cheguei a demorar quase uma hora para ir daqui à "cidade'", afirma Almeida.
"Cidade" é como alguns moradores chamam São Paulo, provavelmente um resquício do fato de
que Santo Amaro, antes um município independente, só foi incorporado à capital em 1935.
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