São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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PAULISTANOS

Santo Amaro/Jabaquara

População aprova área, mas reclama




MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, moradores de uma rua de classe média baixa, no distrito de Pedreira, às margens da represa Billings. Do outro, uma zona estritamente residencial de classe média alta no Jardim Petrópolis, distrito de Santo Amaro. Ambos estão localizados na zona sul da capital, reclamam de uma série de problemas em seus respectivos endereços, mas afirmam gostar da região onde moram.
O que pode parecer paradoxal se reflete nos dados do Datafolha. Embora sejam os que mais relatam não ter visto melhorias nos bairros em que vivem (18%, contra uma média de 12%), os moradores da área que reúne Santo Amaro, Jabaquara, Socorro e três distritos da Subprefeitura de Cidade Ademar são os que mais se orgulham da casa em que vivem.
Dos entrevistados, 55% disseram que a sua residência é melhor do que a da maioria -o percentual médio de paulistanos que afirmaram o mesmo é de só 8%.
"Acho que há, sim, um certo orgulho, mas mais pela região porque, apesar dos problemas, temos muitas árvores, qualidade de vida. Ninguém quer sair daqui", diz a arquiteta Mary Ann Ribeiro de Almeida, moradora do Jardim Petrópolis e membro da Sajape (sociedade de amigos do bairro).
Os principais pontos negativos da região, afirma, são a falta de segurança, o trânsito, usos irregulares, camelôs e fiscalização ineficiente. "Mas a maioria da pessoas que vive aqui é profissional liberal, tem muito artista e estrangeiro também. É um pessoal crítico e nada acomodado", completa.
"O poder público sempre responde a uma pressão da sociedade organizada", afirma a também arquiteta Cristina Antunes, diretora de relações institucionais da Sajape. O maior embate na região ocorre hoje por conta da construção do corredor de ônibus na av. Vereador José Diniz, já que os moradores querem manter de pé por volta de 350 árvores que seriam derrubadas pela obra.
Tanto Almeida como Antunes dizem que a luta não é apenas para que as boas condições de vida do bairro sejam mantidas mas para que elas sejam democratizadas.
Bem longe dali -em termos geográficos e socioeconômicos- moradores de Pedreira (Subprefeitura de Cidade Ademar) reclamam do descaso com que a região vem sendo tratada, mas, por outro lado, não estão dispostos a abandonar o que construíram lá.
"Estamos há quase dez anos tentando fazer com que pavimentem nossa rua, mas não conseguimos. Até parece que moramos numa favela, mas aqui não é favela, não", afirma o técnico em saneamento Paulo Gerola Júnior, 43, que vive com a família em Pedreira, numa casa que construiu mais de 20 anos atrás.
"Tudo o que você vê de melhora aqui fomos nós que fizemos, mas ficou bom. Gosto da minha casa e não sairia daqui." O pai de Gerola Júnior, que mora quase ao lado do filho, concorda. "Se não cortamos o mato da rua, entra rato na lavanderia, mas gosto daqui porque tem cara de cidade do interior."
Nas horas vagas, os moradores de Santo Amaro/Jabaquara não vão para muito longe do bairro: 77% disseram nunca ter estado no Memorial da América Latina (contra uma média de 67%); 66% nunca entraram no Teatro Municipal (a média geral é de 60%). O orgulho em relação à casa, porém, tem pouco a ver com isso. Contam mais distância, trânsito e falta de um bom transporte coletivo.
"Num domingo, cheguei a demorar quase uma hora para ir daqui à "cidade'", afirma Almeida.
"Cidade" é como alguns moradores chamam São Paulo, provavelmente um resquício do fato de que Santo Amaro, antes um município independente, só foi incorporado à capital em 1935.



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