São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Tietê já teve 29 projetos fracassados

Desfigurado por megaempreendimentos, o rio ostenta marcas das várias tentativ as de contê-lo

TAI NALON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desde 1948 até hoje, ao menos 29 estudos e intervenções foram feitos no rio Tietê, na região metropolitana de SP, no esforço de conter enchentes, combater doenças e despoluir suas águas. Depois de 152 anos, o rio amarga seguidos fracassos -nenhum dos projetos chegou ao fim ou ao objetivo esperado.
O resultado disso se reflete na paisagem: desfigurado por megaempreendimentos de engenharia, o rio Tietê ostenta marcas de cada uma das tentativas malsucedidas de contê-lo.
Exemplo disso é o projeto do engenheiro Saturnino de Brito, de 1924. Foi, por um breve período, o plano oficial do município para a urbanização do entorno do rio. Até hoje tido por urbanistas como referência, acabou descartado. Como resquício ficou o atual traçado do rio, parecido com o do projeto.
Foram as prioridades da SP-metrópole, porém, que decretaram a morte de mais de uma dezena de projetos. De 1890 até 1930, com algumas interrupções, o município manteve uma comissão estratégica de estudos do rio. A partir de então, deslocar-se com rapidez tornou-se, tal como é hoje, a vedete da engenharia paulistana.
O Plano de Avenidas do prefeito Prestes Maia exemplifica essa transição de prioridades. De início, a marginal era para ser, na verdade, uma avenida verde. Conciliava planejamento urbano com a construção de avenidas, mas foi desfigurada pelas gestões seguintes.
A partir de então, com um Tietê poluído e margeado por avenidas impermeáveis, seguiu-se mais de uma dezena de projetos pontuais de infraestrutura urbana para conter o derramamento de esgotos e escoar a água das enchentes.
Até a década de 1970, por exemplo, a solução era cruzar as montanhas com tubos de esgoto parcialmente tratado, conforme previa, por exemplo, o projeto "Solução Integrada". Para conter as enchentes, seriam construídas seis barragens ao longo do rio -de pé só ficou a de Ponte Nova.
As décadas seguintes traçaram metas que município e Estado ainda tentam provar serem viáveis. Por 25 anos e pelo menos cinco projetos, insistiu-se na ampliação da calha como solução para as cheias e na revisão de metas de saneamento.
Para a arquiteta urbanista Jenny Zoila Baldiviezo Perez, professora da FMU, assim como os projetos, a relação do paulistano com o rio foi interrompida. "Hoje, esse é um dos principais entraves para se fazer uma proposta definitiva".
Aos 456 anos de SP, a cidade ainda tenta alcançar o bonde da história. Enquanto isso permanece no passado, conforme afirma Perez. "O Tietê ainda é um território do século 19", diz.


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