São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Artista encontra inspiração nas águas poluídas do Tietê

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Canteiros de obras, água suja, pontes engarrafadas. Para muitos, esses temas são pouco interessantes, principalmente se estão relacionados ao rio Tietê, que há anos vê o paulistano virar-lhe as costas. Mas para Edu das Águas é diferente. O pintor encontra inspiração justamente no lugar que o resto da cidade evita.
Ao menos uma vez por semana, Eduardo Marques de Jesus, 71, deixa seu ateliê, no Imirim, e vai para as margens do Tietê munido de prancheta e tintas. Ele pinta, em cores vivas, pontes, árvores, barcos: tudo o que pode ver e imaginar.
"Não vou ao Tietê para criticar, vou como artista", explica. Ele se considera membro da "escola tropicalista" porque suas obras têm a alegria do brasileiro. Apesar disso, seus mais de 400 quadros sobre o rio se inspiram no impressionismo.
O interesse pelo tema veio por acaso. Desenhista desde pequeno, Edu saiu do orfanato para trabalhar como ilustrador e começou a estudar pintura.
Na época, ouviu de um professor que onde tinha água, tinha assunto. E acreditou. Passou a pintar só onde houvesse um córrego, mar ou cachoeira e ganhou seu nome artístico.
A relação com o Tietê começou depois, no início dos anos 90. Certo dia, engarrafado na marginal, se deu conta: "Vou longe pintar rios e tem um aqui do lado!"
Além das cobras que diz ter visto às margens, Edu já caiu no rio e foi assaltado debaixo de uma ponte.

Arte e ambiente
A proximidade ao malquisto rio fez com que o artista fosse além da imagem e adotasse a causa ambiental. "Minha geração foi porca, destruímos o rio", diz.
Em 1997 iniciou um projeto de educação com crianças, usando a pintura para falar sobre qualidade de vida, higiene e reciclagem.
Nos últimos anos, porém, Edu deixou a militância. "Nós, artistas, nos mobilizamos, mas sabemos que quem resolve são os políticos." Hoje ensina crianças no seu ateliê. (FM)


Texto Anterior: Projeto de 1924 previa bulevar onde hoje é a marginal
Próximo Texto: A primeira viagem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.