São Paulo, sábado, 25 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRIVATIZAÇÃO
Preço da venda da Telebrás pode ser afetado pela mudança de voto de Miguel Arraes no Confaz
PE invalida acordo que acabou com cobrança retroativa de ICMS de teles


da Agência Folha, em Recife

O governador de Pernambuco, Miguel Arraes (PSB), mudou o voto favorável que seu Estado havia dado ao acordo que evita a cobrança retroativa do ICMS sobre a habilitação de linhas telefônicas.
Com isso, o acordo fechado na última terça-feira fica invalidado e o preço de venda da Telebrás pode ser prejudicado porque os compradores terão de arcar com um passivo de R$ 780 milhões se a cobrança retroativa ocorrer.
O caso deve ir à Justiça, uma vez que o ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) já havia dito que o governo não aceitaria a cobrança retroativa -ontem, ele previu uma desvalorização de R$ 75 milhões (leia texto nesta página).
O acordo havia sido fechado no âmbito do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária, que reúne os secretários estaduais da Fazenda, na última terça-feira.
Para valer, a votação dos Estados tem de ser unânime. Como havia votado a favor mas com ressalvas a serem revistas em até 15 dias, Pernambuco podia mudar seu voto.
Os Estados estimam que a cobrança geraria R$ 780 milhões em receita -em consequência, R$ 780 milhões em dívida para os compradores das teles.

Motivos
Oficialmente, o governo de Pernambuco afirma que a decisão se deve a um total de R$ 23 milhões em receitas que o Estado deixará de arrecadar sem o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, o principal imposto estadual) retroativo.
Mas o Estado quer que o Ministério da Fazenda libere um adiantamento de R$ 700 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) relativo ao adiantamento da privatização da Celpe, sua estatal de energia elétrica.
O governo estadual nega a vinculação entre uma coisa e outra, mas, na reunião sobre o acordo do ICMS, o secretário da Fazenda de Pernambuco, José Carlos Lapena, disse que o Estado se sentia perseguido pelo governo federal.
Ele citou o bloqueio dos R$ 700 milhões, cuja liberação, segundo ele, está tecnicamente aprovada pelo BNDES desde 18 de março.
Arraes já contava com esses recursos para a realização de obras no Estado, que poderiam ajudá-lo em sua campanha para a reeleição -tendo aprovado créditos suplementares na Assembléia Legislativa para uma ferrovia, adutoras e obras de abastecimento.
"Pernambuco se sente brutalmente discriminado. O governo já liberou adiantamentos de privatização para 16 Estados que participam do programa", afirmou o secretário de Imprensa do Estado, Evaldo Costa.
A liberação do adiantamento ficou ainda mais difícil neste mês, pois o CMN (Conselho Monetário Nacional) baixou resolução determinando que o dinheiro do BNDES só poderá ser dirigido ao abatimento de dívidas registradas em um cadastro federal.

Entenda o caso
O Confaz havia fechado um convênio em 29 de junho passado determinando a cobrança de ICMS, em uma alíquota média de 25%, sobre as habilitações de linhas celulares e de telefones fixos.
Segundo esse convênio, o tributo deveria ser cobrado retroativamente, a partir de 1993.
O governo federal fechou um acordo, sacramentado na terça passada, segundo o qual os Estados abrem mão da cobrança retroativa do ICMS. Assim, a incidência do imposto começaria a valer a partir de 1º de julho.
Segundo seu secretário de Imprensa, Arraes assinou um decreto, que será publicado amanhã (com circulação na segunda) no "Diário Oficial" local, garantindo a mudança da voto.

Orientação
Lapenda tinha orientação de Arraes para votar contra o fim da cobrança retroativa.
Lapenda foi o último a votar e sua posição determinaria o resultado da reunião, pois as decisões do conselho dependem de unanimidade para serem aprovadas.
Após conversa com o representante do Piauí, Paulo de Tarso, o secretário de Pernambuco decidiu seguir a maioria na esperança de obter compensações para a perda de receita.
No dia seguinte à reunião, Lapenda se encontrou com Arraes no palácio do governo e explicou sua posição, ressaltando que ela poderia ser modificada no prazo de 15 dias.
Ontem, Lapenda disse que esperou alguns dias para ver se o governo daria alguma compensação tributária ou financeira ao Estado. Sem resposta positiva, Pernambuco mudou seu voto.
(ALEX RIBEIRO e FÁBIO GUIBU)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.