São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2001

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Visto de estudante fica mais difícil

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE SAN FRANCISCO

O governo americano deve endurecer as regras para emitir vistos a estudantes estrangeiros. E a organização que reúne as principais universidades do país já se mostra preocupada com as consequências dessa iniciativa.
No ano acadêmico 1999-2000, 514.723 estrangeiros estudaram nos Estados Unidos, trazendo US$ 12,3 bilhões (cerca de R$ 33,2 bilhões) para a economia do país. Os novos critérios afetariam também estudantes de línguas e de intercâmbio, sistema muito utilizado por jovens brasileiros.
"Reconhecemos que o Departamento de Estado tem direito de decidir para quem dar ou negar vistos, mas tememos a criação de obstáculos burocráticos e cobranças de taxas, que vão desestimular os estudantes internacionais", disse à Folha Terry Hartle, vice-presidente do Conselho Americano de Educação, que representa centenas de instituições de ensino por todo o país.
O governo trabalha também na criação de um banco de dados centralizado com informações sobre os alunos estrangeiros. As universidades não teriam de investigar os antecedentes de seus futuros estudantes -isso continuaria a cargo de embaixadas e consulados-, mas seriam obrigadas a enviar informações atualizadas sobre eles para essa nova central. A administração ficaria com o Serviço de Naturalização e Imigração. A lei que cria o centro começa a vigorar em janeiro.
"Se os alunos são qualificados, nós os aceitamos. Restringir a emissão de vistos, isso é com o Departamento de Estado. Nós não vamos punir ninguém", afirmou Edwina Taylor, conselheira de admissões da Universidade da Califórnia em Berkeley.
Com sete prêmios Nobel no corpo docente, Berkeley é a melhor universidade pública do país, segundo o ranking da revista "U.S. News and World Report". De seus cerca de 20 mil alunos, 3% são estrangeiros.
"Temos de criar leis que facilitem encontrar, prender e punir suspeitos de terrorismo", afirmou o deputado republicano Lamar Smith, do Texas, que propôs a lei do banco de dados.
O objetivo de Smith é acabar com casos como o de Hani Hanjour, acusado pelo governo americano de ser um dos sequestradores do avião que caiu sobre o Pentágono. Hanjour conseguiu visto alegando que estudaria inglês numa faculdade perto de San Francisco (Califórnia, oeste dos EUA). Mas nunca foi às aulas.
Se já houvesse um banco de dados, a escola teria de relatar o fato, e os potenciais terroristas poderiam ser apanhados antes de cometer algum crime.
Outro acusado, Walled Alsheri, formou-se em ciência aeronáutica, em 1997, na prestigiosa Universidade Aeronáutica Embry-Riddle, na Flórida.
O planejamento de um banco de dados começou ainda em 1993, depois do primeiro atentado contra as torres do World Trade Center. Mas a iniciativa não avançou, ficando restrita a um projeto-piloto de apenas 25 faculdades do sudeste do país.

20 afegãos
Dos estudantes estrangeiros nos Estados Unidos, a grande maioria é de chineses: 55 mil. Depois, vêm Japão e Índia. Há, oficialmente, 20 alunos afegãos em faculdades americanas, e 50 do Iraque.
"Na grande maioria, alunos internacionais são tudo o que uma universidade pode querer: dedicam-se aos estudos, trazem diversidade ao campus, não arrumam confusão", disse Terry Hartle. E pagam mais, também. Em geral, os estrangeiros não recebem das universidades a ajuda financeira que a maioria dos alunos americanos ganha. No caso das universidades públicas, as anuidades pagas pelos estrangeiros são três ou quatro vezes mais altas do que as dos alunos locais.
Edwina Taylor explicou que os critérios para escolher um candidato em Berkeley são o seu desempenho escolar, atividades extracurriculares e "capacidade de liderança". Não existe a figura do vestibular nos EUA.
"Precisamos de uma sociedade a mais aberta possível", disse Victor Johnson, da Associação de Educadores Internacionais, ao jornal "San Francisco Chronicle".
"Se vamos instituir controles contra estudantes estrangeiros, seria bom que o governo o fizesse de modo específico, e não veja todo estudante estrangeiro como um terrorista em potencial, porque 99,9% não o são."
Critérios mais rígidos para vistos de estudantes encontram apoio mesmo dentro do Partido Democrata, tradicionalmente mais tolerante em assuntos de imigração. Assessores da senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia, disseram ao "Chronicle" que ela avalia que as concessões de vistos precisam precisam de "vigilância muito maior"".
Feinstein já pediu um encontro com o Serviço de Naturalização e Imigração para apressar a discussão do projeto.


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