|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Visto de estudante fica mais difícil
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE SAN FRANCISCO
O governo americano deve endurecer as regras para emitir vistos a estudantes estrangeiros. E a
organização que reúne as principais universidades do país já se
mostra preocupada com as consequências dessa iniciativa.
No ano acadêmico 1999-2000,
514.723 estrangeiros estudaram
nos Estados Unidos, trazendo
US$ 12,3 bilhões (cerca de R$ 33,2
bilhões) para a economia do país.
Os novos critérios afetariam também estudantes de línguas e de intercâmbio, sistema muito utilizado por jovens brasileiros.
"Reconhecemos que o Departamento de Estado tem direito de
decidir para quem dar ou negar
vistos, mas tememos a criação de
obstáculos burocráticos e cobranças de taxas, que vão desestimular
os estudantes internacionais",
disse à Folha Terry Hartle, vice-presidente do Conselho Americano de Educação, que representa
centenas de instituições de ensino
por todo o país.
O governo trabalha também na
criação de um banco de dados
centralizado com informações sobre os alunos estrangeiros. As
universidades não teriam de investigar os antecedentes de seus
futuros estudantes -isso continuaria a cargo de embaixadas e
consulados-, mas seriam obrigadas a enviar informações atualizadas sobre eles para essa nova
central. A administração ficaria
com o Serviço de Naturalização e
Imigração. A lei que cria o centro
começa a vigorar em janeiro.
"Se os alunos são qualificados,
nós os aceitamos. Restringir a
emissão de vistos, isso é com o
Departamento de Estado. Nós
não vamos punir ninguém", afirmou Edwina Taylor, conselheira
de admissões da Universidade da
Califórnia em Berkeley.
Com sete prêmios Nobel no
corpo docente, Berkeley é a melhor universidade pública do país,
segundo o ranking da revista
"U.S. News and World Report".
De seus cerca de 20 mil alunos,
3% são estrangeiros.
"Temos de criar leis que facilitem encontrar, prender e punir
suspeitos de terrorismo", afirmou
o deputado republicano Lamar
Smith, do Texas, que propôs a lei
do banco de dados.
O objetivo de Smith é acabar
com casos como o de Hani Hanjour, acusado pelo governo americano de ser um dos sequestradores do avião que caiu sobre o
Pentágono. Hanjour conseguiu
visto alegando que estudaria inglês numa faculdade perto de San
Francisco (Califórnia, oeste dos
EUA). Mas nunca foi às aulas.
Se já houvesse um banco de dados, a escola teria de relatar o fato,
e os potenciais terroristas poderiam ser apanhados antes de cometer algum crime.
Outro acusado, Walled Alsheri,
formou-se em ciência aeronáutica, em 1997, na prestigiosa Universidade Aeronáutica Embry-Riddle, na Flórida.
O planejamento de um banco
de dados começou ainda em 1993,
depois do primeiro atentado contra as torres do World Trade Center. Mas a iniciativa não avançou,
ficando restrita a um projeto-piloto de apenas 25 faculdades do
sudeste do país.
20 afegãos
Dos estudantes estrangeiros nos
Estados Unidos, a grande maioria
é de chineses: 55 mil. Depois, vêm
Japão e Índia. Há, oficialmente, 20
alunos afegãos em faculdades
americanas, e 50 do Iraque.
"Na grande maioria, alunos internacionais são tudo o que uma
universidade pode querer: dedicam-se aos estudos, trazem diversidade ao campus, não arrumam
confusão", disse Terry Hartle. E
pagam mais, também. Em geral,
os estrangeiros não recebem das
universidades a ajuda financeira
que a maioria dos alunos americanos ganha. No caso das universidades públicas, as anuidades pagas pelos estrangeiros são três ou
quatro vezes mais altas do que as
dos alunos locais.
Edwina Taylor explicou que os
critérios para escolher um candidato em Berkeley são o seu desempenho escolar, atividades extracurriculares e "capacidade de
liderança". Não existe a figura do
vestibular nos EUA.
"Precisamos de uma sociedade
a mais aberta possível", disse Victor Johnson, da Associação de
Educadores Internacionais, ao
jornal "San Francisco Chronicle".
"Se vamos instituir controles
contra estudantes estrangeiros,
seria bom que o governo o fizesse
de modo específico, e não veja todo estudante estrangeiro como
um terrorista em potencial, porque 99,9% não o são."
Critérios mais rígidos para vistos de estudantes encontram
apoio mesmo dentro do Partido
Democrata, tradicionalmente
mais tolerante em assuntos de
imigração. Assessores da senadora Dianne Feinstein, democrata
da Califórnia, disseram ao "Chronicle" que ela avalia que as concessões de vistos precisam precisam de "vigilância muito maior"".
Feinstein já pediu um encontro
com o Serviço de Naturalização e
Imigração para apressar a discussão do projeto.
Texto Anterior: Achar sobreviventes vira "milagre" Próximo Texto: Igreja católica: Vaticano já admite uso da força Índice
|