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Ícone pop foi a união entre anjo e cafetão
Combinação de Brown e Wonder, vendeu 750 milhões de discos
Esquisitice crescente dos últimos anos não esconde talento do astro, que fundiu os gêneros soul, disco e novo rock, quebrando recordes
ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Michael Jackson aprendeu a
cantar como um anjo e dançar
como um cafetão fazendo
shows em puteiros aos oito
anos de idade. Levava surra do
pai, Joseph, se não se apresentasse bem, se não ensaiasse o
suficiente -qualquer razão era
boa. Os irmãos Jackson entravam todos no couro.
Michael, o sétimo filho e óbvia estrela do grupo, apanhava
mais. Na casa dos Jackson era
Deus no céu -Jeová, eram Testemunhas- e Joseph na terra.
O pai tinha tentado se dar bem
como artista. Acabou metalúrgico e empresário e feitor dos
filhos. Devemos a esta figura
detestável o maior artista que a
música jamais teve. Contra números não há argumentos. São
750 milhões de discos vendidos
até agora.
O Jackson 5 estreou em 1967,
mas foi em 1968 que passaram
a fazer parte do elenco da mais
eficiente máquina de produção
de hits em série da música pop.
A Motown Records foi fundada
por Berry Gordy em 1959. Seu
primeiro hit foi composto pelo
próprio Gordy, "Money (That's
What I Want)". Declaração de
princípios, ou falta de. A Motown fazia qualquer coisa por
um sucesso. Emplacou muitos
-Supremes, Marvin Gaye, a
lista é imensa.
Os primeiros singles do Jackson 5 na Motown foram "I
Want You Back", "ABC", "The
Love You Save" e "I'll Be There". Já mereciam os livros de
história. Os programas de TV
da época não mentem. Michael
era endiabrado. Requebrava
como James Brown, cantava
como Stevie Wonder e era fofo
como um anjo.
O primeiro disco solo chegou
aos 17 anos, "Got to Be There".
De 1976 a 1984, Jackson seria
não só o frontman do Jackson 5
-depois rebatizado como The
Jacksons- mas seu principal
compositor.
Em 1978, com 20 anos, Jackson encontrou uma outra figura paterna. O experiente jazzista Quincy Jones, diretor musical do filme "The Wiz" -em
que Michael encarnava o Espantalho do mundo de Oz-
produziria com Jackson "Off
The Wall" e "Thriller". "Thriller" fez a ponte entre o soul dos
60, a disco dos 70 e o novo rock
dos 80. Era new wave. Era pop.
O melhor do pop de três décadas. E popular. Vendeu entre
50 milhões e 104 milhões de cópias. O mínimo já é recorde para sempre imbatível.
Jackson tinha 37% do preço
de cada disco vendido. Os anos
seguintes foram de esquisitice
crescente -parte marketing,
parte verdadeira. Em 1987, Michael lançaria "Bad", uma tentativa de repetir "Thriller".
Vendeu menos. Soava quase
sempre histérico, equivocado e
pior, velho. Aos 29 anos, o superastro estava ultrapassado. Era
uma anedota bilionária.
O que veio depois é menos
importante musicalmente. Em
alguns casos, constrangedor. A
música piorou. Ficou impossível dissociar Michael, o artista,
de Michael, o homem cada vez
mais distante de sua humanidade. Com sua morte, tudo será
perdoado, como foi a seu ídolo,
James Brown. Agora não é mais
um slogan vazio: Michael Jackson será para sempre o rei do
pop.
ANDRÉ FORASTIERI, 43, é diretor editorial da
Tambor Digital.
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