São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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CONSUMO

Proporção de casas onde só existe o aparelho móvel aumenta de 7,8% para 16,5%, em 2004

Brasileiros substituem o telefone fixo pelo celular

DA SUCURSAL DO RIO

Em pouco tempo, o telefone celular será um item mais presente nos domicílios brasileiros do que o aparelho fixo. É o que indica a Pnad de 2004, segundo a qual a proporção de casas em que só existiam celulares cresceu de 7,8%, em 2001, para 16,5%, no ano passado. Tendência inversa é encontrada quando se analisa o percentual de residências que usavam apenas telefone fixo, que caiu de 27,9% para 17,8%.
Cresce o número de domicílios que possuem tanto celular quanto fixo: eram 23,2% do total em 2001 e hoje são 31,8%. Com isso, a proporção de residências em que havia pelo menos um telefone, móvel ou convencional, continuou a crescer, mas em ritmo mais lento do que o verificado após a privatização da Telebrás, em 1998.
Em 1999, o percentual era de 37,6%. Em 2001, chegou a 58,9%. Desde então, cresce a uma média de dois a três pontos percentuais e alcançou 66,1% em 2004.
"A telefonia fixa parece ter chegado a um limite de expansão. Já a troca do fixo pelo celular é uma tendência mundial, mas, no Brasil, é mais agressiva em razão do baixo poder aquisitivo de uma parcela expressiva da população, que prefere manter apenas um pré-pago e não ter que fazer assinatura de uma linha fixa", explica o consultor e ex-ministro das Telecomunicações no governo FHC Juarez Quadros do Nascimento.
De fato, a Pnad mostra que quase a totalidade (96%) dos domicílios onde havia apenas celular era de famílias com renda inferior a dez salários mínimos.
No entanto, na avaliação de Juarez Quadros, a troca do fixo pelo celular não deve ficar restrita apenas aos mais pobres: "Esse fenômeno está ocorrendo até em países desenvolvidos. Mesmo sendo um serviço mais caro, o celular passa a ser um item de uso pessoal, que pode ser pendurado na cintura e levado para qualquer lugar. Com isso, as pessoas acabam prescindindo do telefone fixo, que passa a ser usado mais para conexão de computadores".
O IBGE mostra que o uso de internet nos domicílios, apesar de ter aumentado, continua restrito a uma minoria de 12,4% de residências. Nas 87,6% sem acesso à internet, vivem 152 milhões de pessoas -84% da população.
No rastro desses milhões de brasileiros sem telefone ou internet, surgem serviços como o oferecido pelo argentino Carlos Serati, 60, que há quatro anos abriu uma loja no Rio com cabines telefônicas e computadores.
"Esse tipo de estabelecimento é muito comum na Argentina. Internet hoje é tão essencial quanto o telefone, mas há muita gente que não tem acesso à rede nem em casa nem no trabalho. No caso do telefone, como nem sempre os orelhões funcionam ou estão em bom estado, o cliente prefere o conforto de uma cabine para fazer suas ligações", diz Serati, que já tem até franquia de sua loja.
O público de Serati é formado por gente como o representante comercial Lourival Manhães, 39. Mesmo tendo computador com conexão em casa, usa as cabines de internet para acelerar os pedidos. "Antigamente, todos os pedidos de compra eram feitos por telefone. Hoje, é tudo pela internet e não dá para esperar para chegar em casa de noite", conta.

Outros bens
O acesso da população a outros bens de consumo seguiu a tendência verificada em pesquisas anteriores. Continua crescendo a proporção de residências com televisão (90,3%), que desde 2001 tinha ultrapassado até o rádio (87,8%) em termos de cobertura. Outros itens com acesso quase universalizado são fogões (97,5%) e geladeiras (87,4%).
Para Sônia Rocha, economista da Fundação Getulio Vargas, isso mostra que a pobreza brasileira é diferente da verificada em países subdesenvolvidos: "Os pobres brasileiros têm geladeiras e televisores em seus domicílios. Não é uma pobreza africana. E o acesso a esses bens mostra uma tendência de melhoria de longo prazo".
Outra tendência desde 2001, ano do racionamento de energia, é a diminuição da presença de freezers e o aumento na proporção de geladeiras de duas portas nos domicílios.


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