São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

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Vale destinou R$ 343 mi a projetos sociais nas cidades onde atua
Empresa financiou criação de hospitais e fábrica de cachaça

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Nos seus 55 anos de existência, a Vale do Rio Doce financiou projetos nos municípios em que atua que vão da construção de hospitais e uma fábrica de cachaça à restauração de igrejas.
Os recursos para essas atividades vinham da RDRI (Reserva para o Desenvolvimento das Regiões de Influência), um fundo constituído por até 8% do lucro líquido da estatal para ser aplicado em vários projetos econômicos e sociais nos municípios de influência da Vale.
É também uma forma de a Vale compensar os municípios pela degradação ambiental em função da exploração mineral.
Novo fundo
A RDRI será extinta com a privatização e substituída por um fundo administrado pelo BNDES. O fundo será constituído por recursos do banco (R$ 115 milhões) e pela transferência de R$ 85,9 milhões da Vale.
Desde sua fundação, em 1942, até 1995, a estatal investiu nos municípios cerca de US$ 343 milhões, sendo que Minas Gerais e Espírito Santo ficaram com cerca de 95% desse total.
Os recursos destinados a Mariana (MG) provocaram frases deselegantes do presidente Fernando Henrique Cardoso e do ministro Sérgio Motta (Comunicações) em relação a dom Luciano Mendes de Almeida, ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e arcebispo da cidade.
``Dinheirinho''
``D. Luciano pode ficar tranquilo, porque o dinheirinho que ele recebe, vai continuar recebendo'', disse FHC no final de 1996, em entrevista à Rede Católica de Rádio.
No dia 2 de abril, Motta foi na mesma linha: ``Precisa manter a Vale por quê? Para a CNBB e o d. Luciano receberem a sua graninha?'' A origem dos comentários foi a posição contrária à privatização da CNBB.
Em Catas Altas (a 114 km de Belo Horizonte) os recursos da Vale ajudaram na construção de uma fábrica de aguardente e de farinha de mandioca, por sugestão da Associação Comunitária do Bem-Estar da cidade.
A Vale utilizou recursos do fundo para restaurar e recuperar igrejas e monumentos históricos do século 18 em Minas Gerais. De 1980 a 1995 foram investidos cerca de US$ 3 milhões.
Aleijadinho
Uma das mais importantes obras do barroco mineiro recuperadas pela estatal foi a igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, que data de 1766.
A igreja reúne algumas das mais importantes obras do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Em 95, a Vale destinou R$ 225 mil à recuperação da igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas.
Na mesma cidade, restaurou a ala de retiro do Santuário do Caraça, antigo colégio seminarista localizado em um parque.
Outras igrejas foram ou estão sendo restauradas, como a Nossa Senhora do Bom Sucesso (1724), em Caeté.
Na cidade estão obras atribuídas à fase jovem de Aleijadinho, quando o escultor não havia ganhado fama, segundo Arlen Martins Souza, 20, da equipe de restauradores que trabalha na igreja em Caeté.

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