São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo dá início à venda do filé mignon das estatais

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

A privatização da Vale do Rio Doce marca o início de uma nova fase do Programa Nacional de Desestatização: a venda das empresas consideradas ``filé mignon''.
Ou seja: empresas lucrativas, de grande valor ou que exploram as fatias de mercado mais atraentes para a iniciativa privada.
Depois da Vale, o governo inicia a abertura do mercado de telefonia celular (são esperados R$ 6 bilhões), que deve puxar a privatização de todo o setor de telecomunicações. Isso significa que as próximas privatizações importantes devem ser acompanhadas de ingresso de capital externo, o que é muito conveniente para o atual estágio do Plano Real.
Também quer dizer que o PND se tornará mais polêmico. No caso da Vale, o governo foi atacado por estar vendendo uma empresa que lucrou R$ 632 milhões em 96. No mesmo período, a Telebrás lucrou R$ 3,2 bilhões.
Pelo que tem sido dito até agora, a venda do sistema Telebrás seguirá algumas das regras já utilizadas com a Vale: compras exclusivamente em dinheiro vivo e ação especial que permitirá ao governo continuar interferindo nos rumos das empresas.
O governo Fernando Henrique Cardoso não privatizará, até 98, outras duas megaestatais -a Petrobrás e o Banco do Brasil. Na equipe econômica, porém, avalia-se que apenas conveniências políticas mantêm as duas empresas sob o controle do Estado.
Recursos
A venda de estatais, concessões e participações em outras empresas rendeu ao governo o equivalente a US$ 13,691 bilhões, segundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Esse valor compreende o período entre 91 e 96, quando 22 empresas foram privatizadas.
As privatizações atingiram os setores siderúrgico (US$ 5,561 bilhões), elétrico (US$ 2,716 bilhões), petroquímico (US$ 2,698 bilhões), ferroviário (US$ 1,25 bilhão) e fertilizantes (US$ 418 milhões), entre outros menos relevantes.
A participação de capital estrangeiro nessas operações não chega a entusiasmar: apenas US$ 1,865 bilhão -só para comprar o Bamerindus, o inglês HSBC entrou com US$ 930 milhões no país no mês passado.
Dos recursos arrecadados, US$ 8,631 bilhões foram em forma das chamadas moedas ``podres'' -que são títulos de longo prazo e pouca aceitação da dívida do governo. Dessa forma, o governo abateu parte de sua dívida, mas uma parte cujo custo é pequeno.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã