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BARREIRAS COMERCIAIS
Agropecuária perde US$ 6 bi ao ano
TATIANA UEMURA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um dos temas que deverão monopolizar as discussões na 9ª
Agrishow, que começa hoje em
Ribeirão Preto (314 km de São
Paulo), será a busca de alternativas para o escoamento de produtos brasileiros pela peneira das
barreiras comerciais impostas
por países como Estados Unidos e
Japão e a União Européia.
Em 2001, a agropecuária, setor
que mais perde com as barreiras,
gerou US$ 19 bilhões em exportações. Mas poderia ter embolsado,
no mínimo, mais US$ 6 bilhões,
segundo o Ministério da Agricultura, retidos em alíquotas de importação, subsídios, medidas antidumping e regras fitossanitárias.
Dados extra-oficiais mostram
que as perdas podem ser maiores,
atingindo até US$ 13 bilhões.
"Se o comércio agrícola fosse
justo como é o de outros produtos, o Brasil tomaria a dianteira de
principal fornecedor mundial",
diz o chefe do Departamento de
Comércio Exterior da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Antônio Donizete Beraldo.
A proteção tarifária sobre produtos agrícolas é nove vezes
maior do que em produtos industrializados e três vezes maior do
que em semi-industrializados.
Negociação
Para especialistas, a negociação
com os EUA é a mais difícil porque o país possui lobbies mais fortes. O Brasil, com o álcool e o suco
de laranja, bate de frente com a
produção norte-americana.
A discussão acerca da sobretaxa
do aço no mês passado pelos EUA
foi emblemática. "Essa sobretaxa
só mostra que eles [os Estados
Unidos" estão dispostos a jogar a
teoria do livre comércio no lixo",
afirma Luiz Hafers, ex-presidente
da Sociedade Rural Brasileira.
A abolição de todas as barreiras
comerciais poderia aumentar a
renda global em US$ 2,8 trilhões e
tirar da pobreza 320 milhões de
pessoas até 2015, de acordo com a
Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os países da União Européia estão entre os que mais concedem
benefícios aos seus produtores.
Outro problema é a competição
com países da Ásia, Caribe e Pacífico, que possuem preferências
comerciais no mercado europeu.
O produtor de café em Maringá
(PR) Herbert Mizoto, 27, é um
dos que se sentem prejudicados
pelas vantagens concedidas a outros países, como o México, no
acesso à Europa e EUA.
Segundo ele, que destina 70%
de sua produção à exportação, o
produto brasileiro não tem condições de concorrer, pois seu preço
já está depreciado. "Há dois anos,
vendíamos a saca por US$ 115,
agora o preço caiu para US$ 55,
devido à concorrência", afirma.
A Secretaria do Comércio Exterior (Secex) diz que 60% dos produtos brasileiros são afetados por
restrições no mercado americano.
Alguns estão sujeitos a picos tarifários de 200% a 300% "ad valorem" (equivalente a seu valor). O
fumo é sobretaxado em 350% se
exceder a cota destinada ao Brasil,
que é de 80 mil toneladas anuais,
enquanto o açúcar sofre tarifa de
236%. As tarifas sobre o suco de
laranja podem chegar a 44,7%.
Mas na mira das negociações do
setor está o subsídio agrícola, pois
é nele que se compensa a redução
das alíquotas de importação.
Até o FMI (Fundo Monetário
Internacional) foi forçado a repudiar a prática, ao admitir que sua
ajuda financeira de nada adiantava, se era perdido quase o dobro
na competição com benefício dado aos produtores estrangeiros.
Para Hafers, o governo tem sido
firme nas negociações, ao colocar
em xeque a formação da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas), que prevê a integração
comercial de todos os países da
América, exceto Cuba.
Porém falha em onerar a produção com falta de infra-estrutura e
atraso na reforma tributária.
O Brasil tem até 2005 para falar
mais grosso nas mesas de negociações da OMC, quando terminam as rodadas de discussões.
O processo brasileiro de liberalização comercial começou em
1990, durante o governo Collor,
sob a promessa de acesso aos
mercados de países desenvolvidos, o que não aconteceu.
A proteção tarifária caiu em
dois terços, entre 1990 -quando
a tarifa média era de 32%- e
1995, ano em que a TEC (tarifa externa comum do Mercosul) passou a vigorar com média de 11%.
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