São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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BIOTECNOLOGIA

Transgênico agrada homem do campo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A maioria dos produtores (79%) é favorável aos transgênicos, segundo pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi.
Para eles, a liberação não deverá demorar, já que o Brasil vem perdendo espaço no mercado internacional ao competir com alimentos geneticamente modificados atualmente em comercialização nos Estados Unidos, Canadá, Argentina, Japão e em alguns países europeus.
Hoje, 22 culturas vêm sendo plantadas em escala comercial no mundo, com destaque para a soja, o milho e o algodão.
A maioria delas tem um custo de produção mais baixo, pois é mais resistente a pragas e dispensa o uso de agrotóxicos, que é hoje um dos principais gastos dos produtores brasileiros.
Estima-se que, ao somar as áreas plantadas de soja dos Estados Unidos e da Argentina, 50% seja transgênica.
No Brasil, os transgênicos estão liberados apenas para pesquisas feitas por entidades com CBQ (Certificado Brasileiro de Qualidade), concedido pela CTNBio (Comissão Técnica de Biossegurança).
De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), os investimentos públicos em pesquisa de transgênicos somam aproximadamente US$ 40 milhões por ano.
A China é o país em desenvolvimento que mais investe em biotecnologia, injetando US$ 112 milhões por ano nesse setor.

Questão de mercado
Para o pesquisador do departamento de engenharia genética da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), Carlos Alberto Labate, é o mercado quem pressionará o Brasil a liberar ou não os alimentos geneticamente modificados.
"Os transgênicos são um produto como outro qualquer. O produtor só terá de analisar o mercado a que atenderá para ver se o produto é aceito. Mas uma opção não exclui a outra, quanto mais mercados abrangidos, melhor", afirmou o pesquisador.
Na Europa, os transgênicos são considerados solução ao país, que importa principalmente soja -15 milhões de toneladas por ano.
Porém a rejeição a organismos geneticamente modificados por parte dos consumidores chega a 70%, o que pode ser um bom mercado para soja convencional.
Segundo Labate, a resistência se deve à tradição européia arraigada, que repele a aceitação de inovações, como no caso dos transgênicos. A CTNBio defende que os transgênicos colocarão o Brasil no mesmo patamar de países desenvolvidos.
Para o órgão, a importância da liberação está vinculada ao desenvolvimento de medicamentos e à melhora na qualidade e quantidade da produção do país.
Labate diz que as pessoas se esquecem da agricultura convencional que consomem, cheia de agrotóxicos.
"A discussão tem que ser sobre a qualidade do alimento, independentemente se é transgênico ou não. Hoje, temos uma produção agrícola sujeita a agroquímicos e isso não é melhor que cultivar transgênicos", afirmou.
A área destinada ao cultivo de transgênicos no mundo só tem aumentado. Em 1996, 1,7 milhão de hectares era destinado a esse tipo de plantação.
No ano passado, foram 52,6 milhões de hectares, um aumento de 19% em relação a 2000, segundo a ISAAA (International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications). Até hoje, nenhum estudo comprovou a possibilidade de danos à saúde a curto prazo.

Cronologia
O julgamento do projeto de lei que libera comercialmente sementes geneticamente modificadas no país está parado no TRF (Tribunal Regional Federal).
Em 1998, a empresa de biotecnologia agrícola Monsanto pediu à CTNBio a liberação da comercialização de soja transgênica.
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e o Greenpeace obtiveram na Justiça liminar que proibia o cultivo de transgênicos sem o EIA (Estudo de Impacto Ambiental).
Em fevereiro, a juíza Selene Maria de Almeida votou a favor da Monsanto e da União. Faltam os votos de mais dois juízes para a sentença. (TATIANA UEMURA)



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