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BRINCADEIRA
Crianças revivem antigos desafios
Bruno Miranda/ Folha Imagem
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BRINCADEIRAS EXIGEM CONCENTRAÇÃO, COORDENAÇÃO E RITMO
Matheus Kaari Fernandes, 11, atravessa a roda-gigante, brincadeira que testa a coordenação motora dos participantes; Júlia
Madeira Boffa, 9, concentra-se ao brincar com o diabolô (ou jabolô), no qual se equilibra um carretel em uma cordinha
No parque, aprovam brinquedos "milenares", que podem ser feitos por elas mesmas
DA REPORTAGEM LOCAL
"Mãe, olha, é mágico!" Foi assim, entre o fascínio e a curiosidade, que o menino Paulo Belo
Fernandes, 8, brincou pela primeira vez com um diabolô, ou
jabolô, um brinquedo artesanal, sem aparatos tecnológicos.
O garoto conheceu o diabolô
no parque Ibirapuera, numa
tarde em que o poeta Francisco
Marques, o Chico dos Bonecos,
"desenrolador de brincadeiras", trouxe jogos para um grupo de oito meninos e meninas
com idades de 8 a 11 anos.
A idéia era conferir o interesse de crianças tão ligadas em
tecnologia por brincadeiras e
brinquedos batizados por Chico dos Bonecos como "milenares e planetários". "Uso esses
termos porque, quando falamos "tradicionais" e "folclóricos", localizamos essas brincadeiras e esses brinquedos no
passado. É como se eles não
dissessem nada para as crianças de hoje", afirma.
Apesar de todos desconhecerem os jogos propostos, eles entraram facilmente na roda de
brincadeiras. Foi como se Chico dos Bonecos tivesse assumido o papel de pais, tios e avós,
geralmente responsáveis por
passar as brincadeiras de geração em geração, mas que nem
sempre valorizam essas brincadeiras, num mundo em que o
brincar é sofisticado cada vez
mais pela indústria.
"Pelo que observamos nas
lembranças dos crescidos de
hoje com relação ao brincar de
sua infância, os adultos de seu
tempo tiveram papel essencial
como parceiros das brincadeiras", diz Cyrce Junqueira de
Andrade, 50, assessora na criação de brinquedotecas.
Diante do jogo das argolas, da
brincadeira da roda-gigante e
de brinquedos como o corrupio
(aprenda a fazer na pág. 19), os
desafios de crianças que adoram bonecas que falam e games
foram exercitar a concentração, dominar a coordenação
motora e controlar o ritmo.
"Elas só não brincam com esses brinquedos porque não os
conhecem. Os adultos não as
ensinam a brincar com eles",
opina Chico dos Brinquedos.
Sociedade tecnológica
Mesmo assim, ele não defende a adoção de brinquedos "tradicionais e milenares" em vez
dos "industrializados e tecnológicos". "A questão não é colocá-los em conflito. Os pais não
devem só sentar com os filhos
para brincar com o corrupio
mas para também ver TV e navegar na internet. A criança
tem de ter acesso a tudo isso."
A educadora Renata Mei-
relles, 35, faz coro. "Elas não
deixam de explorar mesmo
com o brinquedo pronto."
Já a socióloga Gisela Wajskop, 48, diretora do Instituto
Superior de Educação de São
Paulo, diz que "é uma bobagem
falar que as crianças urbanas
não brincam mais com boneca
de milho ou não pulam amarelinha". Ela explica: "Ninguém
reclama que as pessoas não andam com Fusquinha 68. Vivemos numa sociedade tecnológica e de consumo".
(GR)
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