São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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BRINCADEIRA

Crianças revivem antigos desafios

Bruno Miranda/ Folha Imagem
BRINCADEIRAS EXIGEM CONCENTRAÇÃO, COORDENAÇÃO E RITMO
Matheus Kaari Fernandes, 11, atravessa a roda-gigante, brincadeira que testa a coordenação motora dos participantes; Júlia Madeira Boffa, 9, concentra-se ao brincar com o diabolô (ou jabolô), no qual se equilibra um carretel em uma cordinha

No parque, aprovam brinquedos "milenares", que podem ser feitos por elas mesmas

DA REPORTAGEM LOCAL

"Mãe, olha, é mágico!" Foi assim, entre o fascínio e a curiosidade, que o menino Paulo Belo Fernandes, 8, brincou pela primeira vez com um diabolô, ou jabolô, um brinquedo artesanal, sem aparatos tecnológicos.
O garoto conheceu o diabolô no parque Ibirapuera, numa tarde em que o poeta Francisco Marques, o Chico dos Bonecos, "desenrolador de brincadeiras", trouxe jogos para um grupo de oito meninos e meninas com idades de 8 a 11 anos.
A idéia era conferir o interesse de crianças tão ligadas em tecnologia por brincadeiras e brinquedos batizados por Chico dos Bonecos como "milenares e planetários". "Uso esses termos porque, quando falamos "tradicionais" e "folclóricos", localizamos essas brincadeiras e esses brinquedos no passado. É como se eles não dissessem nada para as crianças de hoje", afirma.
Apesar de todos desconhecerem os jogos propostos, eles entraram facilmente na roda de brincadeiras. Foi como se Chico dos Bonecos tivesse assumido o papel de pais, tios e avós, geralmente responsáveis por passar as brincadeiras de geração em geração, mas que nem sempre valorizam essas brincadeiras, num mundo em que o brincar é sofisticado cada vez mais pela indústria.
"Pelo que observamos nas lembranças dos crescidos de hoje com relação ao brincar de sua infância, os adultos de seu tempo tiveram papel essencial como parceiros das brincadeiras", diz Cyrce Junqueira de Andrade, 50, assessora na criação de brinquedotecas.
Diante do jogo das argolas, da brincadeira da roda-gigante e de brinquedos como o corrupio (aprenda a fazer na pág. 19), os desafios de crianças que adoram bonecas que falam e games foram exercitar a concentração, dominar a coordenação motora e controlar o ritmo.
"Elas só não brincam com esses brinquedos porque não os conhecem. Os adultos não as ensinam a brincar com eles", opina Chico dos Brinquedos.

Sociedade tecnológica
Mesmo assim, ele não defende a adoção de brinquedos "tradicionais e milenares" em vez dos "industrializados e tecnológicos". "A questão não é colocá-los em conflito. Os pais não devem só sentar com os filhos para brincar com o corrupio mas para também ver TV e navegar na internet. A criança tem de ter acesso a tudo isso."
A educadora Renata Mei- relles, 35, faz coro. "Elas não deixam de explorar mesmo com o brinquedo pronto."
Já a socióloga Gisela Wajskop, 48, diretora do Instituto Superior de Educação de São Paulo, diz que "é uma bobagem falar que as crianças urbanas não brincam mais com boneca de milho ou não pulam amarelinha". Ela explica: "Ninguém reclama que as pessoas não andam com Fusquinha 68. Vivemos numa sociedade tecnológica e de consumo". (GR)


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