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"A cor não muda nada; meu sonho é jogar na Europa"
ENVIADO A FLORIANÓPOLIS
Salvador está a 2.682 km
de distância de Florianópolis, mas o centro de treinamentos do Figueirense reproduz o ambiente do seu similar baiano. Jovens em busca
de alternativa profissional,
em um processo que envolve
paixão pelo futebol e necessidade de sobrevivência.
A maior diferença nos dois
locais é a incidência de brancos e louros entre os que tentam a carreira de jogador de
futebol. Em comum, têm o fato de a maioria estar sob a tutela de um empresário, mesmo em se tratando de garotos
de 14, 15 anos.
O Centro de Formação e
Treinamento do Cambirela é
uma área de 65 mil metros
quadrados ao pé do morro de
mesmo nome, uma extensão
do tamanho de oito campos
de futebol a 20 km do centro
de Florianópolis.
CONCORRÊNCIA
Ismaylon, Matheus, Juan,
outro Mateus, sem h desta
vez, Igor, Luca, Yago, Andrei.
Adolescentes de diversas
regiões à procura da porta de
entrada para o futebol levados até Florianópolis por um
empresário ou procurador
-figura mais antiga do esporte, responsável pela negociação de contratos entre
atletas e clubes.
O carioca Matheus era goleiro do Fluminense, ganhava bolsa de R$ 350, mas foi
dispensado. "Lá tem muita
concorrência." Um empresário ofereceu a chance de nova
carreira a 1.114 km de casa.
Ismaylon, volante, veio de
Novo Horizonte (SP). "Clube
grande em São Paulo tem
gente demais."
Mateus, mineiro de Viçosa, aponta a diferença no futebol catarinense. "Aqui tem
mais pegada." Matheus, Ismaylon e Mateus não são
brancos, como vários dos outros jogadores do Figueirense. "A cor não muda nada",
afirma Ismaylon. Igor resume o que deseja: "Meu sonho
é jogar na Europa".
TRÁFICO HUMANO
Relatório do Parlamento
Europeu apontou o futebol
como mecanismo para o "tráfico de seres humanos" na
União Europeia. Tem como
vítimas jovens pobres da
América do Sul e da África,
atraídos por promessas de
contratos milionários.
De acordo com deputados
europeus, o Brasil e os países
africanos são os maiores alvos dessa prática, devido à
qualidade dos futebolistas e
ao elevado nível de pobreza
em que vivem.
Segundo ONGs europeias,
equipes do continente recebem frequentemente ofertas
de garotos de 13, 14 anos. Para burlar as regras da Fifa
(Federação Internacional
das Associações de Futebol),
que proíbem a venda de jogares com menos de 18 anos, os
agentes falsificam a idade
nos documentos oficiais.
(PF)
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