São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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"A cor não muda nada; meu sonho é jogar na Europa"

ENVIADO A FLORIANÓPOLIS

Salvador está a 2.682 km de distância de Florianópolis, mas o centro de treinamentos do Figueirense reproduz o ambiente do seu similar baiano. Jovens em busca de alternativa profissional, em um processo que envolve paixão pelo futebol e necessidade de sobrevivência.
A maior diferença nos dois locais é a incidência de brancos e louros entre os que tentam a carreira de jogador de futebol. Em comum, têm o fato de a maioria estar sob a tutela de um empresário, mesmo em se tratando de garotos de 14, 15 anos.
O Centro de Formação e Treinamento do Cambirela é uma área de 65 mil metros quadrados ao pé do morro de mesmo nome, uma extensão do tamanho de oito campos de futebol a 20 km do centro de Florianópolis.

CONCORRÊNCIA
Ismaylon, Matheus, Juan, outro Mateus, sem h desta vez, Igor, Luca, Yago, Andrei.
Adolescentes de diversas regiões à procura da porta de entrada para o futebol levados até Florianópolis por um empresário ou procurador -figura mais antiga do esporte, responsável pela negociação de contratos entre atletas e clubes.
O carioca Matheus era goleiro do Fluminense, ganhava bolsa de R$ 350, mas foi dispensado. "Lá tem muita concorrência." Um empresário ofereceu a chance de nova carreira a 1.114 km de casa.
Ismaylon, volante, veio de Novo Horizonte (SP). "Clube grande em São Paulo tem gente demais."
Mateus, mineiro de Viçosa, aponta a diferença no futebol catarinense. "Aqui tem mais pegada." Matheus, Ismaylon e Mateus não são brancos, como vários dos outros jogadores do Figueirense. "A cor não muda nada", afirma Ismaylon. Igor resume o que deseja: "Meu sonho é jogar na Europa".

TRÁFICO HUMANO
Relatório do Parlamento Europeu apontou o futebol como mecanismo para o "tráfico de seres humanos" na União Europeia. Tem como vítimas jovens pobres da América do Sul e da África, atraídos por promessas de contratos milionários.
De acordo com deputados europeus, o Brasil e os países africanos são os maiores alvos dessa prática, devido à qualidade dos futebolistas e ao elevado nível de pobreza em que vivem.
Segundo ONGs europeias, equipes do continente recebem frequentemente ofertas de garotos de 13, 14 anos. Para burlar as regras da Fifa (Federação Internacional das Associações de Futebol), que proíbem a venda de jogares com menos de 18 anos, os agentes falsificam a idade nos documentos oficiais. (PF)


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