São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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PENTA

Treinador se fascina com ambiente na Copa, mas pensa em seguir os passos de Parreira

Maravilhado, Scolari hesita entre Europa e permanência

DOS ENVIADOS A YOKOHAMA

O deslumbramento de Luiz Felipe Scolari está completo. Em 30 dias de Copa, o neto de colonos italianos nascido no interior gaúcho descobriu o mundo como nunca fizera antes. Ao final, conquistou-o. É pentacampeão.
Retranqueiro, rígido, estourado, motivador, teimoso, paizão, conservador, fiel, tosco, bondoso, pão-duro, catimbeiro. O treinador da seleção mais fácil de ser adjetivado nos últimos anos ganhou, desde que assumiu o time nacional, em junho do ano passado, um novo rótulo: encantado.
Primeiro se confessou atordoado com o abismo entre clube e seleção, com vertigem e enxaqueca.
Durante o Mundial, a surpresa virou arrebatamento. Com a nata do futebol brasileiro à sua disposição, ele parecia no início uma criança fascinada com a fartura.
Sentindo a ansiedade do treinador, a psicóloga e amiga Regina Brandão, a quem Scolari pagou do próprio bolso uma assessoria antes do Mundial, já que a CBF não quis fazê-lo, interpretou: "Não é fácil para uma pessoa que saiu do interior do Rio Grande do Sul estar no meio da berlinda, exposta ao mundo inteiro".
De tão embriagado, Scolari, 53, mudou seus conceitos e aniquilou preconceitos dos críticos, escalando nos primeiros jogos um time ofensivo e com deficiências no setor com o qual sempre teve mais preocupação, a defesa.
O ataque dos "erres" manteve a eficiência, e a defesa se arrumou. O time jogou a Copa num esquema variável entre o polêmico 3-5-2, com três zagueiros, já testado por Sebastião Lazaroni em 1990, e o tradicional 4-4-2.
Scolari conheceu os bastidores da Copa, conversou com os melhores técnicos, viu os melhores jogadores e as táticas empregadas por equipes de 31 países.
Chamou o Mundial de "palco maravilhoso", admitindo que jamais imaginara ter vivido tal experiência. E quer repetir a dose.
Campeão e tendo terminado o contrato com a CBF, terá de dar uma resposta ao convite da entidade para permanecer no cargo, hipótese que, por recomendação de amigos, já tinha descartado.
Os que o aconselham argumentam que o ápice é o melhor momento para deixar o time para entrar na história. Citam sempre Carlos Alberto Parreira, que saiu após o tetracampeonato.
Caso ouça os amigos até o fim, seu destino deve ser a Europa, onde já confessou que sonha em trabalhar -e de onde devem surgir agora algumas propostas.
Por outro lado, gostou tanto da experiência da seleção e está tão feliz com o apoio dos brasileiros que fica tentado a ficar. Vai passar uma semana de folga no Rio Grande do Sul e pensar. Nesse período, deve ir a Farroupilha, ao santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, sua santa de devoção, agradecer a graça alcançada.
Natural de Passo Fundo (RS), marido de Olga e pai de Leonardo, 18, e Fabrício, 15, formado em educação física e ex-professor da matéria em colégios gaúchos, "Felipão" chegou à seleção nos braços do povo (pesquisa encomendada pela CBF apontou-o como o preferido dos brasileiros para suceder Leão), indignou a torcida ao desprezar Romário e reconquistou-a durante a Copa.
Conseguiu, enfim, impor seu carimbo à seleção. Numa época em que treinadores ofuscam craques, alterando às vezes o linguajar dos amantes do futebol -que falam do Corinthians de Parreira em vez do Corinthians de Ricardinho-, essa seleção deu algum sentido à estranha mudança.
O time pentacampeão do mundo será sempre lembrado como o Brasil de Ronaldo ou de Rivaldo. Mas não serão poucos os que recordarão a equipe campeã no Japão como o Brasil de Felipão.
(FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG, PAULO COBOS, ROBERTO DIAS, RODRIGO BUENO E SÉRGIO RANGEL)

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