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COMO FICOU - ESQUEMA PAUBRASIL
Esquema arrecadou US$ 19 mi para campanha eleitoral em 90 e 92
Paubrasil foi considerado crime fiscal
da Reportagem Local
Mais de cinco anos depois da revelação
do caso Paubrasil, esquema que arrecadou ilegalmente US$ 19 milhões para
campanhas eleitorais de Paulo Maluf
(PPB) em 90 e 92, nenhum envolvido foi
punido pela Justiça.
Até agora, apenas multas foram aplicadas pela Receita Federal devido ao fato de
o dinheiro arrecadado não ter sido declarado no Imposto de Renda.
O caso Paubrasil foi revelado pela Folha
em julho de 93. A descoberta da operação
começou com uma blitz da Receita Federal na sede da empresa, que pertencia ao
pianista João Carlos Martins. Além de
Maluf, 400 candidatos malufistas aos cargos de deputado federal e estadual foram
beneficiados pelo esquema.
O dinheiro para as campanhas era arrecadado de empreiteiras e bancos. Na época, a legislação eleitoral proibia o financiamento de campanhas eleitorais pela
iniciativa privada. A Paubrasil montou
sofisticado esquema para driblar essa
proibição. Maluf tinha conhecimento de
toda a operação, segundo Martins.
Para driblar a fiscalização, a Paubrasil
mudou seu endereço fiscal várias vezes.
Paralelamente a isso, a empresa foi transferida para um "laranja" -pessoa que assume uma empresa como testa-de-ferro.
Além de Martins, a operação era comandada por Calim Eid, amigo e tesoureiro de campanhas de Maluf. Eid era sócio de Martins em uma outra empresa. O
esquema beneficiou pessoas ligadas a Maluf, entre elas seu filho, Flávio, que recebeu US$ 400 mil da Paubrasil para pagar,
segundo ele, despesas das campanhas.
A Paubrasil usava outro artifício para
driblar a fiscalização. Emitia notas fiscais
"frias" em nome das empresas que faziam
doações. O objetivo era justificar a doação
financeira como se fosse prestação de serviços das empresas para a Paubrasil. O Ministério
Público considerou falsa a justificativa.
Até agora, o esquema de arrecadação de dinheiro
pela Paubrasil foi
enquadrado apenas como crime
fiscal. A Receita
aplicou pesadas
multas às empresas que participaram da operação.
Fechada após o escândalo, a Paubrasil foi multada em
R$ 17,7 milhões.
A multa se deveu ao
fato de a Paubrasil não
ter recolhido impostos
sobre o dinheiro arrecadado. A empresa entrou com recurso, alegando que os doadores
e beneficiários já pagaram os impostos, e a
multa até hoje não foi
executada. Pessoas que
receberam dinheiro,
como Flávio Maluf,
também foram multadas -o filho de Maluf
pagou R$ 500 mil.
Empreiteiras contribuíram. A CBPO doou
US$ 5,7 milhões, seguida da Andrade Gutierrez (US$ 5 milhões),
Constran (US$ 3 milhões) e Mendes Júnior
(US$ 1,3 milhão).
As doações feitas por
empreiteiras levantam
dúvidas sobre o total de
dinheiro arrecadado
pela Paubrasil. O processo que apurou o caso indica que a soma
das doações pode ser
superior aos US$ 19
milhões declarados por
Martins. Haveria financiadores que não
aparecem na lista da
Paubrasil.
Após uma longa batalha judicial, o processo está paralisado. O
TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e a Justiça Federal de São
Paulo ainda não definiram quem vai julgar o caso.
A Procuradoria da República acusou
Martins, Eid e outros envolvidos de
falsidade ideológica, formação de
quadrilha e sonegação fiscal. Mas,
em 96, o STF (Supremo Tribunal
Federal) transferiu
o caso da Justiça
Federal para a
Eleitoral.
O STF entendeu
que a motivação
do suposto crime
era "eleitoral". O
TRE tinha aberto
inquérito para
apurar abuso do
poder econômico
nas duas campanhas malufistas.
Em 97, o juiz eleitoral Waldir de Nuevo
Campos Jr. rejeitou denúncia apresentada pelo Ministério Público.
O promotor pediu a condenação dos
réus por entender que as irregularidades
cometidas pelos empresários tinham "conexão" com crime eleitoral. Em fevereiro
deste ano, o juiz rejeitou novo recurso do
MP e decidiu devolver o processo para a
Justiça Federal. Desde então o processo
está parado, aguardando definição sobre
a quem compete o julgamento.
Políticos beneficiados
Os livros contábeis da Paubrasil registravam os nomes dos políticos que receberam dinheiro desse esquema para financiar suas campanhas. Pelo menos 45
candidatos foram beneficiados em 1990.
A grande maioria desses políticos era de
São Paulo e pertencia ao PPR, antigo PDS
e que se transformou hoje no PPB -partido de Maluf. Mas também havia políticos do PRN, o partido que elegeu Fernando Collor, PTB, PL, PFL, PDT e PSDB.
Os nomes mais conhecidos registrados
nos livros da Paubrasil eram os dos ex-deputados José Maria Eymael, Gastone Righi e Beto Mansur (prefeito de Santos).
João Carlos Martins mora hoje em Miami (EUA) e se dedica exclusivamente à
música. Em abril, lançou uma série da 21
CDs na qual pela primeira vez um pianista
grava a obra completa do compositor Johann Sebastian Bach.
Para Martins, o escândalo acabou servindo de incentivo para superar os problemas de saúde que o afastaram da música em 1983. "Não fosse o refúgio na música, minha vida teria acabado", disse o pianista. Ele disse que, desde o escândalo,
não tem mais contato com Maluf.
A Folha perguntou a Martins se ele se
sentia usado pelos malufistas. O pianista
respondeu com outra pergunta: "E quem
não foi usado por eles?".
A assessoria de Maluf não respondeu
aos pedidos da Folha de ouvi-lo sobre o
caso.
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