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Mudança em medicina enfatiza prática
da Reportagem Local
Integrar teoria e prática desde o
início da graduação é um dos objetivos das propostas de mudança
curricular em andamento em alguns cursos de medicina, a partir
dos resultados obtidos com as avaliações feitas pela Cinaem. Com essa integração, os futuros médicos
deverão ter uma visão mais global
da doença e da saúde, alterando,
consequentemente, o modo como
lidam com os pacientes.
Uma proposta nessa linha já foi
implementada, com sucesso, na
Faculdade de Medicina da Unesp
(Universidade Estadual Paulista),
em Botucatu, interior de São Paulo. Desde o primeiro ano de graduação, os alunos começam a
atender em unidades da rede municipal de saúde. Normalmente, o
aluno de medicina só começa a
praticar nos dois anos finais do
curso, durante o internato e em
hospitais ligados às universidades.
Essa inversão da organização do
currículo leva a uma mudança de
como o aluno encara a doença e o
paciente e de como lida com eles.
"O estudante passa a tomar contato com o doente dentro do contexto em que ele vive. Cria uma visão
mais global do problema e não vê a
doença como algo isolado", diz José Lúcio Martins Machado, professor da Faculdade de Medicina e
responsável pelo programa.
Mais do que isso, o aluno passa a
ter uma visão global do problema
e, com base nessa visão geral, busca soluções específicas, o contrário
do que ocorre na maioria dos cursos hoje em dia.
Ele conta que o projeto, implantado em 1997, pôde ser concretizado porque resulta de uma parceria
entre o município, o Estado, a universidade e a Fundação Kellog, que
financiou a implantação dele. "A
parceria com a comunidade é fundamental porque os alunos passam a ter um espaço real para exercer o que aprendem. Por outro lado, com os recursos que obtivemos
pudemos reformar e reequipar algumas unidades de saúde, o que
foi bom para a prefeitura."
Essa nova proposta visa sanar
duas deficiências presentes nos
cursos de medicina, segundo Machado: a difusão dos valores éticos
e humanísticos e a falta de conexão
com a realidade social.
Técnicas básicas
Além de proporcionar um maior
contato com a realidade, as propostas do Cinaem têm por objetivo
formar um profissional mais generalista, que domine um conjunto
de técnicas consideradas básicas,
independentemente da especialidade escolhida. "Um médico não
precisa dominar todos os procedimentos de ginecologia, mas ele
tem de saber fazer um parto, não
importa sua especialidade", diz
Regina Parizi, do Conselho Federal
de Medicina.
Atualmente, devido à maneira
como os currículos são estruturados, as informações são excessivamente compartimentadas e os alunos acabam tendo uma visão demasiadamente parcial do conhecimento. "O volume de informação
passado para os alunos é muito
grande e não são estabelecidas
prioridades", diz Machado.
Avaliação
O projeto da Cinaem foi implantado desde o início dos anos 90 e
está entrando na terceira fase -a
que prevê a implementação de
mudanças. Atualmente, 72 cursos
de medicina dos 95 que existem no
Brasil aderiram ao projeto e estão
trabalhando para reformular seus
currículos -esta é a chamada terceira fase do projeto.
Nas duas fases anteriores, foram
realizados levantamentos das condições estruturais e da qualidade
do curso por meio de testes teóricos e práticos aplicados aos alunos.
Os testes teóricos são realizados
em duas etapas, de modo a permitir que uma visão do conhecimento acumulado pelo aluno antes e
depois de passarem pelo internato.
De modo geral, eles demonstraram ter melhorado (veja quadro).
A parte prática consiste em avaliações da conduta e da postura do
médico frente ao paciente. "O médico tem de conquistar o paciente,
tem de transmitir confiança para
que o processo de tratamento seja
mais eficaz", diz Regina Stella.
Por meio dos testes práticos
constatou-se, por exemplo, que, ao
fazerem diagnósticos, 70% dos
formandos de clínica médica explicaram aos pacientes os procedimentos que realizariam, mas que
pouco mais de 40% deles prestavam esclarecimentos sobre os resultados dos exames. Também foram mapeados tipos de conduta e
de exames que não se aplicam a determinadas situações (no quadro,
como "não se avalia").
Já no teste relativo aos exames
clínicos, os graduandos mostraram mais fragilidade ao realizarem
exames de fundo de olho e de toque retal.
(MAv)
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