São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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Mudança em medicina enfatiza prática

da Reportagem Local

Integrar teoria e prática desde o início da graduação é um dos objetivos das propostas de mudança curricular em andamento em alguns cursos de medicina, a partir dos resultados obtidos com as avaliações feitas pela Cinaem. Com essa integração, os futuros médicos deverão ter uma visão mais global da doença e da saúde, alterando, consequentemente, o modo como lidam com os pacientes.
Uma proposta nessa linha já foi implementada, com sucesso, na Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Botucatu, interior de São Paulo. Desde o primeiro ano de graduação, os alunos começam a atender em unidades da rede municipal de saúde. Normalmente, o aluno de medicina só começa a praticar nos dois anos finais do curso, durante o internato e em hospitais ligados às universidades.
Essa inversão da organização do currículo leva a uma mudança de como o aluno encara a doença e o paciente e de como lida com eles. "O estudante passa a tomar contato com o doente dentro do contexto em que ele vive. Cria uma visão mais global do problema e não vê a doença como algo isolado", diz José Lúcio Martins Machado, professor da Faculdade de Medicina e responsável pelo programa.
Mais do que isso, o aluno passa a ter uma visão global do problema e, com base nessa visão geral, busca soluções específicas, o contrário do que ocorre na maioria dos cursos hoje em dia.
Ele conta que o projeto, implantado em 1997, pôde ser concretizado porque resulta de uma parceria entre o município, o Estado, a universidade e a Fundação Kellog, que financiou a implantação dele. "A parceria com a comunidade é fundamental porque os alunos passam a ter um espaço real para exercer o que aprendem. Por outro lado, com os recursos que obtivemos pudemos reformar e reequipar algumas unidades de saúde, o que foi bom para a prefeitura."
Essa nova proposta visa sanar duas deficiências presentes nos cursos de medicina, segundo Machado: a difusão dos valores éticos e humanísticos e a falta de conexão com a realidade social.

Técnicas básicas
Além de proporcionar um maior contato com a realidade, as propostas do Cinaem têm por objetivo formar um profissional mais generalista, que domine um conjunto de técnicas consideradas básicas, independentemente da especialidade escolhida. "Um médico não precisa dominar todos os procedimentos de ginecologia, mas ele tem de saber fazer um parto, não importa sua especialidade", diz Regina Parizi, do Conselho Federal de Medicina.
Atualmente, devido à maneira como os currículos são estruturados, as informações são excessivamente compartimentadas e os alunos acabam tendo uma visão demasiadamente parcial do conhecimento. "O volume de informação passado para os alunos é muito grande e não são estabelecidas prioridades", diz Machado.

Avaliação
O projeto da Cinaem foi implantado desde o início dos anos 90 e está entrando na terceira fase -a que prevê a implementação de mudanças. Atualmente, 72 cursos de medicina dos 95 que existem no Brasil aderiram ao projeto e estão trabalhando para reformular seus currículos -esta é a chamada terceira fase do projeto.
Nas duas fases anteriores, foram realizados levantamentos das condições estruturais e da qualidade do curso por meio de testes teóricos e práticos aplicados aos alunos.
Os testes teóricos são realizados em duas etapas, de modo a permitir que uma visão do conhecimento acumulado pelo aluno antes e depois de passarem pelo internato. De modo geral, eles demonstraram ter melhorado (veja quadro).
A parte prática consiste em avaliações da conduta e da postura do médico frente ao paciente. "O médico tem de conquistar o paciente, tem de transmitir confiança para que o processo de tratamento seja mais eficaz", diz Regina Stella.
Por meio dos testes práticos constatou-se, por exemplo, que, ao fazerem diagnósticos, 70% dos formandos de clínica médica explicaram aos pacientes os procedimentos que realizariam, mas que pouco mais de 40% deles prestavam esclarecimentos sobre os resultados dos exames. Também foram mapeados tipos de conduta e de exames que não se aplicam a determinadas situações (no quadro, como "não se avalia").
Já no teste relativo aos exames clínicos, os graduandos mostraram mais fragilidade ao realizarem exames de fundo de olho e de toque retal. (MAv)


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