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Roda

Enquanto Barcelona dá show com toque de bola, Brasil vê número de passes cair 22% em uma década

DE SÃO PAULO

Pegar a bola e fazê-la girar pacientemente de pé em pé até encontrar um espaço na defesa adversária e, assim, criar a oportunidade de gol.

O encantador estilo de futebol praticado pelo Barcelona, atual campeão espanhol, europeu e mundial, tem se distanciado cada dia mais dos gramados brasileiros.

Na última década, a quantidade de passes na primeira divisão nacional caiu 22,3%.

Segundo estatística do Datafolha, cada time tocava a bola em média 350 vezes por jogo da Série A em 2001. No Brasileiro deste ano, esse número diminuiu para 272.

"O futebol brasileiro está caminhando contra sua própria origem. Quando olhamos para o passado, vemos que nosso objetivo principal sempre foi a posse de bola", afirmou o técnico Paulo Autuori, atualmente no Qatar.

Foi mais ou menos o que disse também Pep Guardiola após a goleada por 4 a 0 do seu Barcelona sobre o Santos, na final do Mundial de Clubes O treinador explicou que o time catalão atua da mesma forma que, segundo seu pai dizia, o Brasil jogava.

Anteontem, em Yokohama, o clube espanhol teve 71% da posse de bola e trocou 736 passes, quase o quádruplo do adversário e bem mais do que a soma das duas equipes em uma partida típica do futebol brasileiro.

Para tentar conter um time que joga com passes curtos e que, em três anos e meia sob comando de Guardiola nunca teve menos posse de bola que o adversário, Muricy Ramalho adotou a receita que se tornou padrão no país.

Armou o Santos para atuar nos contra-ataques, explorando a velocidade de Neymar. E ficou à espera de faltas e escanteios para aproveitar a estatura elevada dos seus três zagueiros contra os baixinhos do time catalão.

"Torci para o Barcelona. Se ele não ganhasse, teríamos o mesmo efeito de 1982, quando a derrota da seleção fez o Brasil trocar o futebol parecido com o do Barça pela força física", disse o técnico René Simões, hoje desempregado.

"A vitória do Barcelona no Mundial não foi sobre o Santos, mas sobre o futebol brasileiro", concluiu Autuori.

O abismo técnico da decisão de domingo fez até mesmo o técnico da seleção, Mano Menezes, cobrar mudanças. Em sua página na internet, escreveu ontem que "essa gente está fazendo algo diferente e temos que aceitar, entender e resolver isso."

Mano foi contratado com a promessa de que resgataria o antigo estilo após a"era Dunga", marcada por estilo cauteloso e fiasco na Copa.

O técnico teve seu melhor momento na seleção justamente quando atuou "à la Barcelona". Contra os EUA, na estreia, deu 697 passes.

Desde então, acumulou decepções contra seleções de primeiro escalão. Nunca mais tocou tanto a bola. E nem voltou a convencer. (RAFAEL REIS)

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