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Rita Siza

Reabilitação olímpica

Vídeos mostram a transformação de Stratford, uma das zonas mais deprimidas de Londres

O actor inglês Idris Elba, que eu conheci como "Stringer Bell" na fenomenal série norte-americana "The Wire", é originário de Hackney, na zona leste de Londres, e, a pedido do comité organizador dos Jogos Olímpicos, gravou um vídeo a explicar as razões do seu entusiasmo com o evento.

Utilizando como cenário os locais por onde cresceu, Elba diz que não quer perder a passagem da tocha olímpica, "carregada pelos nossos heróis locais, as pessoas que nós conhecemos desde sempre", nem o Festival London 2012, que é "uma mistura de Glastonbury, com Edinburgh e Tribeca" e tem "10 milhões de motivos de interesse, seja música, dança, teatro, arte".

O que achei mais interessante no vídeo não foram tanto as iniciativas concretas que o actor foi chamado a promover, mas antes a razão da escolha desse actor e daquele cenário. O seu depoimento era para falar sobre o impacto que os Jogos vão ter para o entretenimento de milhões de pessoas, mas o que Elba apontou foi o efeito que eles já provocaram numa das zonas mais deprimidas da capital inglesa.

Vários outros vídeos produzidos pela organização mostram a extraordinária transformação de Stratford, onde foi construída uma quantidade impressionante de equipamentos esportivos e instalado um novo parque com meio milhão de novas plantas e mais de 4.000 árvores. O ex-prefeito de Londres Ken Livingstone, que presidia a cidade quando Londres ganhou o direito a receber a Olimpíada (e este ano volta a concorrer em oposição a Boris Johnson), confessou que só se interessou pelo evento porque ele servia como um pretexto e uma oportunidade para a regeneração urbana da capital.

Essa foi uma "tendência" inaugurada em Barcelona, com os Jogos de 1992, e, de então para cá, os resultados têm sido mistos. Na cidade catalã, a vertente urbanística revelou-se um estrondoso sucesso, tal como, quatro anos mais tarde, em Atlanta, nos Estados Unidos (apesar das críticas à desorganização logística e esportiva).

Já em Sidney (2000) ou em Atenas (2004), a ambição dos organizadores que quiseram construir nova cidade foi um rotundo fracasso. O plano não só foi um desastre financeiro (e a Grécia, particularmente, com as finanças públicas arruinadas, está a pagar uma elevadíssima factura) como comercial: os estádios e pavilhões, de manutenção caríssima, ficaram desocupados, sem programa, ao abandono; os blocos habitacionais nunca foram realmente integrados na malha urbana e permanecem elefantes brancos perdidos na paisagem, desprovidos de vida.

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