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Protesto de atletas esfria fora do Twitter

VÔLEI Jogadores amenizam conflito com CBV após levantador ser punido por ter feito críticas públicas

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

Ao ser questionado no início da entrevista se teria tempo para conversar, o líbero do Cruzeiro Serginho respondeu, em tom de brincadeira: "Depende da pergunta".

O cuidado redobrado com o que é dito foi assumido por ele e por vários atletas após seu colega de equipe, o levantador William Arjona, ter sido pivô de uma advertência aplicada na última semana ao Cruzeiro. A infração? Ter criticado a arbitragem da Superliga no Twitter após a derrota de sua equipe por 3 sets a 2 para o Minas no dia 14.

"A partir de hoje, terei que me calar. Não farei isso por mim, porque estaria indo contra meu caráter, mas por defender uma instituição que poderá ser prejudicada", escreveu William após publicar a punição da CBV no Twitter.

"Assim funciona a nossa democracia, não é? Nossa liberdade? Infelizmente, assim me comportarei daqui em diante, não opinando diante de barbáries", completou.

Segundo o regulamento do torneio, é proibido fazer "declarações públicas com críticas depreciativas ou que denigram árbitros, a imagem da Superliga e da CBV" (Confederação Brasileira de Vôlei). Em caso de reincidência, a multa é de R$ 1.000.

Na entrevista à Folha, William imprimiu um tom mais moderado, assim como outros atletas consultados pela reportagem, que evitaram o embate frontal com a CBV e se mostraram resignados com a regra da mordaça, aprovada por seus clubes.

Segundo William, o Cruzeiro o orientou a "tomar cuidado com as palavras".

"Não tenho problema de dar a cara a tapa, mas não posso prejudicar o clube. Depois de sofrer a retaliação, tenho que ser mais cuidadoso."

O atleta recebeu forte apoio na rede social. Nas mensagens trocadas com torcedores e outros jogadores, havia muitas que falavam em ditadura e em restrição à liberdade de expressão. Alguns atletas de seleção debateram até a possibilidade de se unirem para criar um sindicato.

"Se nossa confederação ao menos escutasse o que os atletas têm a dizer, de repente as coisas melhorariam. Tô contigo!", escreveu Bruno, levantador do Florianópolis e da seleção, apoiando William.

À reportagem Bruno também amenizou as críticas e fez questão de ressaltar que não há desavença com a CBV.

"Se você aceitou [o regulamento], tem que fechar o bico e arcar com as consequências", disse o levantador.

"Mas às vezes o cara sai de cabeça quente e fala. As redes sociais estão comandando o mundo. Se você suspirou no Twitter, no outro dia está no jornal. Sou contra punir o jogador. Mas uma coisa é reclamar da arbitragem, outra é fazer críticas maiores."

A ideia do sindicato ainda não avançou. Muitos admitem a falta de união dos atletas. "Espero que o sindicato saia do papel e que na próxima temporada a gente possa reverter isso para que o atleta tenha voz", disse Serginho.

"A gente simplesmente aplica o que está no regulamento", disse Renato D'Ávila, superintendente da CBV.

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