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Xico Sá

Seleção no mundo de Tufão

É, meu caro, vivemos uma discussão de relação sem fim com a amarelinha

Amigo torcedor, amigo secador, contrariando o que Caetano já dizia, o técnico da CBF, Mano Menezes, disse ontem, mais ou menos o seguinte: de perto o brasileiro é normal, normalíssimo, sabe como é difícil construir algo e apoia o escrete canarinho.

Goste ou desgoste do gaúcho, foi uma boa sacada, e disso sentimos falta, de pronunciamento em um mundo cada vez mais sem ideias, filosofias ou firmezas, um mundo futebolístico que mais parece o mundo da lua do Tufão, o mundo da novela, o mundo-corno que não liga para os arredores, o mundo de "O Videota", como no romance genial do Jerzi Kosinski, em que um jardineiro se deixa 100% levar pela idiotice da televisão etc.

Mano narrou sua experiência de ida ao barbeiro, quando recebeu, antes e depois de dar um tapa do telhado, no Rio, o apoio de populares. Pela sua narrativa, pareceu surpreso. Como se esperasse outra reação. Daí o elogio à normalidade.

Foi quase uma versão futebolística do mito do homem cordial, tese do Sérgio Buarque de Holanda. O técnico ficou feliz com rápidos afagos da rouca voz das ruas. Coisa de quem não se acha querido, coisa de quem desconfia do bem ou do malfeito, coisa de quem apela, como na cartilha ensaiada da CBF, para o amor e carinho do público. Lindo.

Do pouco que aprendi com as minhas lindas mulheres e com as dezenas de merecidos pés-na-bunda, sei duas ou três coisinhas. A mais importante: amor não se pede, não se mendiga, se conquista. Jamais forçaremos, por mais que seja poderoso o marketing da seleção e dos picaretas interessados na grana da Copa 14, um "eu te amo".

Lindo que o Brasil pós-rodriguiano descobriu que amor incondicional só às nossas mães, filhos e aos nossos times. Lindo que o divórcio entre os brasileiros, normais ou não, seja mais pesado do que imaginara o falecido senador carioca Nelson Carneiro, o combatido autor da lei das separações facilitadas por lei.

É, meu caro, vivemos uma discussão de relação sem fim com a seleção brasileira. No momento em que a CBF, que funcionou nos últimos tempos como a pior das sogras lazarentas, tenta reatar o amor com a torcida. O que o Mano quis separar, já que falamos em divórcio, foi o que o Millôr Fernandes chamava de opinião pública de opinião publicada. Nunca a diferença entre as duas partes tenha sido tão pequena. O que vejo de brasileiro "normal" falando mal da CBF e dos rumos da amarelinha é brincadeira. Não é apenas coisa de jornalista ranzinza, como o técnico se ilude.

O máximo que sobrou foi um amor platônico. Amamos, mas de longe. E para curar um amor platônico, como já dizia o amigo Kac, só uma trepada homérica. Ou seja: futebol porreta. Que pode até perder a Copa, mas fica na história, vide 1982. Um beijo, sempre, doutor Sócrates.

@xicosa

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