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Menino de família

O francês que desbancou Cesar Cielo nada no Rio e ainda estranha assédio após o ouro

MARIANA LAJOLO
EDITORA-ASSISTENTE DE “ESPORTE”

O garoto Florent tinha 13 anos. Da arquibancada da piscina de Atenas assistia a sua irmã fazer história. Era 2004, e Laure conquistava o primeiro ouro de uma francesa na natação em Olimpíadas.

A visão da irmã no pódio, medalha dourada no peito, hino da França a tocar, fez Florent tomar uma decisão: seria nadador como ela.

Fizeram um pacto. Um dia, os irmãos Manaudou estariam juntos nos Jogos.

Hoje, é Laure, 25, quem começa a ser chamada de "a irmã de Florent". Aos 21 anos, o jovem é o nadador mais veloz do mundo sem o uso de maiôs tecnológicos, banidos no fim de 2009. Em sua primeira Olimpíada, ele desbancou o favorito Cesar Cielo, que buscava o bicampeonato, e levou o ouro nos 50 m livre.

"Foi um grande momento, eu sabia que poderia nadar mais rápido. Ganhar foi uma boa surpresa para mim. Cesar Cielo é um nadador incrível, e todos os nadadores do mundo gostariam de nadar mais rápido do que ele", diz Florent à Folha, por e-mail.

Logo após conquistar o ouro no centro aquático de Londres, o francês saiu da água e foi agarrado pela irmã, aos prantos, na beira da piscina.

"Natação é muito importante na família. Começamos a nadar cedo, meu pai é presidente de um clube, meu irmão é técnico, e minha irmã, uma grande campeã", diz o nadador, que credita ao apoio da irmã parte do seu sucesso.

"Ela fez de tudo para eu atingir meus objetivos. E tudo começou com aquele pacto, aos 13 anos", completa.

Florent disputa hoje, no Rio, às 10h, um desafio internacional contra nadadores de Brasil (Bruno Fratus, Felipe Lima, Daniel Orzechowisk e Gabriel Mangabeira), Austrália e EUA. Será seu primeiro evento internacional após a conquista em Londres.

O francês foi à Grã-Bretanha como azarão. Tinha apenas o décimo tempo do ano. Chegou à final na raia 7 e fez "a melhor prova de sua vida", como definiu Cielo, que terminou na terceira colocação.

Florent marcou 21s34 e desbancou seu cunhado, Fred Bousquet (21s36), como o mais veloz desde o banimento dos supermaiôs - que ajudavam a flutuar.

"Poucas coisas mudaram na minha vida desde a medalha. Ainda tenho os mesmos amigos e os mesmos hábitos. A única coisa nova é a mídia. Não estava acostumado a ficar tão exposto, mas isso me permite conhecer novas pessoas e lugares. É legal."

Laure sabe bem como é ser um Manaudou famoso. Após o ouro nos 400 m livre em 2004, ela se tornou a musa do esporte de seu país. Teve brigas com técnicos e familiares e romances expostos para o mundo -em 2007, fotos suas nua vazaram na internet.

Em 2011, Laure convenceu Florent a treinar com ela no Clube de Nadadores de Marselha. Para isso, ele deixou o irmão Nicolas, seu treinador por seis anos. O mais velho reclamou de Laure publicamente -os irmãos já fizeram as pazes.

"Nós ouvimos muita porcaria sobre brigas na família Manaudou", desabafou o pai, Jean-Luc, à imprensa francesa após a Olimpíada.

"Eu sei por que Laure estava em Londres. Ela tinha um papel a exercer para Florent."

Depois de uma aposentadoria de três anos, a musa voltou às piscinas em 2011. Em Londres, não fez finais.

Seu namorado e pai de sua filha, Manon, 2, nem chegou a carimbar o passaporte. Fred Bousquet, 35, ex-recordista mundial, perdeu a vaga para Florent e Amaury Leveaux.

"Deve ter sido difícil para ele [assistir à final]", afirmou Florent ainda em Londres.

O campeão olímpico diz que, quando Bousquet começou a namorar Laure, transformou-se de ídolo em irmão. Além da natação, os dois atletas dividem outras paixões: carros e velocidade.

Com a mudança para Marselha, ficaram mais próximos, e Bousquet deu várias dicas para o novato encarar a Olimpíada. Além de contar como as coisas funcionavam nos Jogos, passou informações sobre os rivais que Florent iria encarar em Londres.

Ao lado de Laure, Bousquet também ajudou na passagem de bastão da família Manaudou e da velha para a nova geração da natação francesa, que conquistou quatro ouros em Londres.

Antes dos Jogos, Florent disse: "Mesmo se eu fizer algo grande na Olimpíada, sempre serei o irmão mais novo, isso não vai mudar. Mas não me incomoda. Eu sou um Manaudou e serei sempre".Após o ouro, no entanto, ele já começa a sair da sombra.

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