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Juca Kfouri

Vitória de Pirro

O que a quarta reeleição de Nuzman conta sobre as mazelas do Brasil redemocratizado

O REI PIRRO, ao vencer os romanos quase 300 anos a.C., e ser cumprimentado por um aliado, saiu-se com esta: "Outra vitória assim e estaremos arruinados". De fato, o esforço na batalha de Ásculo custou tantas vidas que impedia a renovação de seu Exército, e os derrotados não sofriam com o mesmo problema.

No Brasil pós-ditadura está quase assim, porque o reeleito pela quarta vez como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, apesar de sofrer poucas baixas entre seus asseclas, apodrece vertiginosamente diante dos olhos da sociedade.

Sua nova investidura, que poderá levá-lo a 21 anos no poder, está envolvida por escândalos e lances bizarros. Como o do eleitor vitalício João Havelange, que ao constatar que a eleição não fora unânime, suspeitou ter votado errado. Foi preciso que lhe explicassem que havia um voto contrário mesmo, da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo. Assim como houve duas abstenções, uma delas da CBF, a maior e mais importante das entidades filiadas ao COB, de relações rompidas com Nuzman em resposta aos maus tratos recebidos durante a Olimpíada de Londres.

Tudo seria apenas folclórico e limitado ao raquítico panorama dos esportes olímpicos nacionais que o cartola prometeu revolucionar, 17 anos atrás, sem cumprir à altura dos volumosos recursos públicos que amealhou. Infelizmente, é mais que isso. Porque Nuzman está à frente não apenas do COB, mas, também, do Co-Rio-16.

Fragilizado como nunca ao perder a boa vontade dos antigos aliados no governo federal, Nuzman dificilmente encontrará forças para se manter até o dia da abertura da Olimpíada no Maracanã e periga virar um fantasma de sorriso nervoso pelos corredores do poder.

Talvez não receie ver seu passaporte aprendido como aconteceu com Ricardo Teixeira, porque, segundo consta, tem um outro, da Rússia de seus antepassados.

É possível, ainda, que aposte no comodismo do ministro do Esporte que, embora seja contra as reeleições sem limites e a favor da transparência, argumenta, para não intervir, com a autonomia das entidades esportivas, consagrada no artigo 217 da Constituição de 1988.

Autonomia que, lembremos, por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal, ao acompanhar brilhante relatório do então ministro Cezar Peluso, sacramentou que não equivale a soberania e está sujeita aos demais poderes da República -o que, por si só, demole o argumento de Aldo Rebelo. Nuzman ganhou na sexta-feira, mas é duvidoso que leve por muito tempo.

Ele tem perdido apoios importantes até na imprensa e, imperial, fez de José Maria Marin seu desafeto, por demorar a lhe conceder credencial para a Olimpíada e negar transporte oficial. Marin promete retaliação na Copa do Mundo.

COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e Edgard Alves, terça: Lúcio Ribeiro, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sexta: Xico Sá e Fábio Seixas, sábado: José Roberto Torero, domingo: Juca Kfouri e Tostão

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