São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Moreira na barreira

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Lá vem o Adamastor. Essa é a hora que eu menos gosto num jogo. Até cobrança de escanteio contra a gente eu prefiro. Se eu fosse baixinho, ninguém me chamava para cá. O pior é que quem vai bater a falta é o Adamastor. Esse cara tem um chute que parece mais um coice de mula. Se me acerta, vai doer que só. Eu devia ter ficado amarrando o cadarço para não vir para a barreira. Ninguém ia perceber. Está todo mundo se apertando. O Pimenta protege o peito, o Arruda encolhe os ombros, o Vilaça fica virando de um lado para outro e eu protejo mesmo é o saco, que não sou bobo. É ali que dói mais. Lá vem o Adamastor. Ele precisava ter tomado tanta distância? E o pior é que ele tem força, mas não tem pontaria. Ele manda o tirambaço e se for para o gol, foi. Dizem que ele já deixou um cara desmaiado. Será que é melhor ficar na ponta ou no meio da barreira? Essa espera é que é o pior. São só uns dez segundos, mas parece que a coisa dura uma hora. Eu preferia que o Adamastor fosse um daqueles que encobre a barreira. Aí a bolada não dói e, de vez em quando, quando a gente pula, ainda dá uma cabeçada e passa por herói. Mas com esse cara não vai ter moleza. É uma cacetada só. Zagueiro sempre cobra desse jeito. E o pior é que a gente não se bica muito. No primeiro tempo, eu dei-lhe uma boa cotovelada. Aposto que vai querer se vingar. Estamos cada vez mais apertadinhos uns contra os outros; nem pega bem. Vamos também dando uns passinhos para a frente, apesar dos gritos e das ameaças do juiz. Não vai dar em nada: ele já me deu cartão amarelo e não vai ter coragem de me expulsar só por causa disso. Será que eu fico de costas. Não, vai parecer covardia. E tem aquela vez, quando eu era juvenil, que levei uma bolada dessas na nuca e tive dor de cabeça por uma semana. Vai ver por isso que eu sou meio burro. A Marlene sempre me chama de burro. Burra é ela, que casou comigo. A Marlene é bonita pra dedéu! Merecia até um cara melhor. Um meia, quem sabe até um centroavante... Nunca um zagueiro central. Ai, a Marlene... Deixa eu proteger o saco. Lá vem o Adamastor. Parece um boi louco. Aposto que vai mirar em mim. Mas ele é grosso, nunca acerta onde quer. Eu devia ter ficado de costas. E se eu ficar de lado? Não, vai que a bola passa por mim e o cara faz o gol. A torcida ia pegar no meu pé, e eu não ia conseguir um aumento. Posso até ir para o banco. Lá vem o Adamastor. Fecho os olhos ou não? Vou fechar só o esquerdo. Lá vem o Adamastor. Vai ser uma porrada e tanto. Nossa, o barulho do chute do cara parecia um trovão. Lá vem a bola. Nem dá para ver direito. Vou fechar os dois olhos.
(...)
O que aconteceu? Está tudo escuro... Que dor de cabeça... Será que eu morri? Não, só estou de olhos fechados. Vou abrir os olhos. Abri. Xi, só estou vendo umas nuvens brancas. Será que eu morri mesmo? Quem é esse sujeito de barbas brancas?
- Que cara de bobo é essa?
- Quem tá falando?
- É o Pedro.
- São Pedro?
- Não, Pedroca o massagista. Larga a minha barba, rapaz.
- Desculpe.
- Você já está bem?
- Tô, tô.
- Dá para voltar?
- Claro. Eu tenho uma cabeça dura que só.
- Então vai lá que acabaram de marcar uma falta contra nós.

Q
Preenchendo lacunas deixadas pelas seleções alfabéticas, Paulo Cobos mandou esta: Quiroga (Peru); Quim (Portugal), Quaresma (Lusa nos anos 70), Quiñonez (equatoriano, ex-Vasco) e Quinteros (Bolívia); Quentin (suíço), Queirós (ex-Sporting), Quirino (meia do Vitória no final dos anos 80) e Quarentinha (Botafogo); Quini (espanhol) e Quinn (irlandês).

K E Giovanni Frutuoso Roveda, corintiano de São José do Rio Preto, mandou uma com: Kafunga (ex-Atlético-MG); Kaltz (Hamburgo, da Alemanha, campeão da Euro-80), Krol (ex-Ajax, Napoli e Cannes), Koeman (ex-Barcelona) e Kléber (Corinthians); Kléberson (Atlético-PR), Keegan (ex-Liverpool), Kaká (São Paulo) e Kempes (ex-Argentina); Klinsmann (Alemanha) e Kita (ex-Inter de Limeira). Técnico: Kubala.

E-mail: torero@uol.com.br


Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: "A" luta do século
Próximo Texto: Panorâmica - Futebol: Copa-98 teve 20 seleções com drogas proibidas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.